O Presente
Silvana Nardello Nasihgil

Filhos não têm data de validade

calendar_month 6 de abril de 2023
3 min de leitura

Dando uma voltinha pelas redes sociais, me deparei com esse post. Particularmente eu acho essa afirmação um absurdo. Me passa a sensação que se deve criar filhos e que os mesmo possuem data de validade. Do do tipo, já aprendeu a caminhar, comer, se vestir e dar conta da vida, então é hora de sair e cuidar de si.

Filhos são seres que criamos e são independentes de nós. Com o tempo e no momento certo de cada um, sairão para viver as suas vidas levando consigo o que aprenderam.

Não existe regra alguma que defina isso. Não pode existir um não caber mais se existe amor verdadeiro, acolhimento, partilha, escuta, ensinamento, crescimento e construção de valores.

Uma família não é um espaço de cada um por si; deveria ser um núcleo de crescimento e aprendizado, onde todos estejam envolvidos, aprendendo e ensinando como é viver consigo e com os outros.

Essa ideia de filhos terem que sair de casa e construir sua história está muito embasada no: precisam aprender a se virar e ter as próprias experiências. Então quer dizer que se estiverem preparados ou não, precisam ir nem que seja para sofrer?

Lugar dos filhos é onde se sintam felizes, onde juntamente com seus pais ou cuidadores decidam como devem fazer. Nesse contexto precisamos lembrar dos animais, onde os filhos só saem de perto quando estiverem prontos.

Não tem regra alguma a não ser poder sair para dar conta da vida quando o momento chega naturalmente.

E nós, humanos, discutimos esse assunto como se fôssemos todos iguais. Esquecemos que cada ser humano é único e o seu amadurecimento também, que não cabe a nós julgarmos quem sai e quem fica, mas podemos, sim, questionar as razões que levam a essa decisão.

Muitos adultos carregam hoje o peso de terem sido obrigados a abandonar “seus ninhos” quando ainda não estavam prontos, desenvolvendo na fase adulta insegurança, medos, indecisões, angústias trazidas de um tempo de imaturidade em que precisaram viver coisas para as quais não estavam prontos.

Um tanto de pessoas, na fase adulta, tem dificuldade de se ligar afetivamente, de criar vínculos, por medo de serem abandonadas. Não são poucas as que relatam que na gama de experiências, a contabilidade soma muito mais experiências ruins do que boas.

Diante da certeza de que ninguém é igual a ninguém, não podemos nos ater a conceitos atuais, daqueles que só servem para julgar sem qualquer consistência.

Não podemos nos permitir acreditar em tudo o que lemos, ouvimos e vemos. Muito disso são conceitos pessoais que querem nos fazer crer serem universais, sem ou quase nenhum embasamento ou comprovação real.

Então, o que fazer?

Para saber se estamos no caminho certo a melhor bússola é o nosso coração. Sabemos que estamos no caminho certo quando entendemos que um filho é alguém para ser amado, educado, ensinado, acompanhado, até que cresça e passe a partilhar a vida conosco, dando mostras da sua maturidade física e emocional.

Nosso existir é composto de inúmeros detalhes que formam o nosso todo. Precisamos observar esses detalhes e respeitar a condição de cada um de nós de sermos únicos, compreendendo que um ser humano só está preparado para viver sozinho quando ele já aprendeu isso, e nunca para que possa aprender pelo sofrimento enquanto ainda sabe muito pouco de si.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 
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