Seria ingenuidade olhar para o mundo hoje e não perceber como tudo mudou; mudanças de toda natureza em todos os segmentos.
Quando observamos o comportamento humano começamos a entender muito daquilo que não encontramos explicação. Talvez o que venha mudando de forma acelerada e crescente são os valores, as atitudes e o desejo visível de viver cada um como quiser. O mundo vem se tornando individualista.
A humanidade hoje se sente avalizada a fazer as coisas do jeito que entender ser bom para si. Cada um procura a sua satisfação pessoal, embalado na máxima de: o que importa é ser feliz.
Estranho pensar sobre isso porque as pessoas, como desde o começo da humanidade, ainda buscam ser pares.
Diante do desejo de viver em pares e a certeza de que cada um pode fazer como quiser, essa conta não fecha.
Viver em pares requer um tipo de comportamento baseado no partilhar, na escuta e na conversa, no olhar para o outro buscando identificar as necessidades, as faltas, enaltecendo as qualidades e buscando alinhar com um projeto em comum.
Viver em pares necessita o desejo de juntos buscarem as soluções para as diferenças, de um olhar de amorosidade, buscando agradar, surpreender, onde a felicidade do outro nos faz feliz também.
Viver em pares jamais pode estar na liberdade de cada um fazer do seu jeito, batendo de frente, impondo vontades, exigindo atitudes, enquanto se esquece que muitas vezes é preciso ceder, mudar, adequar, em nome do bem estar e do futuro da relação.
Hoje vemos muito descompasso, onde gritar, impor o próprio padrão de comportamento vem criando abismos imensos e totalmente desnecessários.
Mesmo que fique difícil acreditar, existem muitos pares que se amam e tornam a relação impossível. Isso prova que só o amor não é suficiente.
Quem quiser conviver em pares, precisa, sim, precisa, sair da bolha da individualidade e construir em conjunto com o outro, revendo o comportamento de ambos e adequando o que for necessário.
Ninguém tem o direito de entrar na vida de outra pessoa se não estiver disposto a adequar a sua individualidade, a abrir mão de certas atitudes, a olhar o outro verdadeiramente como um par, a mudar o ritmo, caminhar lado a lado, criar projetos em comum, partilhar sonhos e sentimentos, cuidar, ser colo, abrigo, aprender a ser paciente, receptivo, onde com maturidade esteja disposto a construir uma relação, deixando para trás o ser que vivia unicamente por si e para si.
Parece difícil? E é! Ninguém disse que seria fácil, mas com certeza é extremamente compensador.
Quem não estiver disposto a fazer o que for necessário para viver em pares, faça um favor para si e para o outro(a): fica sozinho(a)!

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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