Estamos vivendo uma época em que as pessoas valem mais por aquilo que apresentam ser do que realmente por aquilo que são.
As redes sociais e a mídia vêm divulgando sem descanso modelos ideais a serem seguidos, ditando certos padrões estéticos como o ideal da felicidade.
O tempo todo somos bombardeados por novidades na área estética, muita coisa praticada por curiosos dispostos a ganhar dinheiro, outras tantas buscando atingir a fragilidade humana, tentando vender felicidade em procedimentos. Vejo pessoas se entregando a esses cuidados sem qualquer critério, a não ser o desejo de se transformar naquilo que creem ser o ideal. Então, “profissionais” sem formação adequada entram no mundo da fantasia e vão destruindo vidas, sendo que, além do bolso, comprometem a saúde física dos descontentes.
Na verdade não tem nada de errado buscarmos mudanças positivas, pelo contrário, aumentar a autoestima é um dos grandes objetivos de uma vida feliz. O que me chama a atenção é o pouco que as pessoas estão se amando e o quanto muitos têm imagem distorcida daquilo que realmente são. Por conversas e ofertas milagrosas as pessoas vêm se desconstruindo, esquecendo de enxergar o real de si, se perdendo dos objetivos construtivos.
Percebo que existe pouco envolvimento com a essência e um foco muito grande voltado para a “casca”. Isso, na verdade, não tem permitido que se cresça como ser humano, que se encontre um caminho confortável a seguir; tem servido apenas para escravizar e paralisar.
Então, quando depois de se ter experimentado tudo, e ter seguido todas as tendências, o vazio da existência ainda insistir em permanecer, é preciso repensar a realidade da vida, porque o que nos completa precisa começar dentro de nós. Quando esse sentimento se instala, é chegada a hora de uma avaliação do ser, do humano que habita o corpo e que não o aceita do jeito que é.
A gente precisa compreender que antes de qualquer coisa precisamos arrumar a “nossa casa”, aquilo que mora dentro de nós. Quando isso estiver alinhado, daí teremos condições de avaliarmos aquilo que é bom e positivo a ser adicionado. Não existem roupas novas, cabelo novo, procedimentos cirúrgicos, academia… que sejam capazes de mudar a nossa alma, o coração e a nossa mente de um jeito duradouro e eficaz.
Precisamos compreender que somos seres inteiros e capazes de fazer escolhas, mas que só saberemos fazê-las de forma consciente quando compreendermos isso e aprendermos a nos amar mais. Precisamos aceitar aquilo que não pode ser mudado e só agregar coisas novas quando tivermos consciência de quem somos, de como somos e das razões que nos fazem ir além.
Experimentar e agregar coisas novas a quem está inteiro é uma escolha que em muito contribuirá; agregar coisas novas a quem mal sabe de si poderá desconstruir ainda mais quem está pela metade.
Não podemos nos desviar de nós, não dá para usar o “piloto automático”. A vida requer responsabilidade e devemos ser exigentes na busca pela felicidade.
Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 07/21393)
