
Ganhei esse pé de hortênsia há mais de dez anos. Quando ganhei as flores eram cor de rosa. Com o passar dos anos ela floresceu em cada estação da cor que quis. Teve vezes que as flores eram azuis, totalmente azuis, como a grande maioria das hortênsias, algumas vezes umas flores eram rosa e outras azuis. Esse ano novamente voltaram à cor da primeira florada, todas estão desabrochando cor de rosa.
Isso me levou a pensar e fazer um paralelo com nós, humanos.
Somos criados, educados e ensinados para sermos de um jeito. Seguimos a cultura das nossas famílias e aprendemos com os nossos pais ou cuidadores a sermos e agirmos de determinada forma.
Com o passar dos anos, crescemos e vamos desenvolvendo habilidades particulares, adicionamos conhecimento e nos transformamos quem e como desejamos ser.
Muitas vezes, a nossa formação foi ”cor de rosa”, mas escolhemos ser “azuis” e está tudo bem. Isso se dá porque temos o livre-arbítrio de fazer escolhas, de mudarmos o jeito de pensar e agir e de nos adaptarmos ao que entendemos ser melhor para nós.
Diante disso, muitas vezes, vivemos na expectativa de que as pessoas devem ser como desejamos que sejam. Não temos capacidade de compreender que é preciso respeitar a individualidade e aprendermos a aceitar cada um como é. Mesmo que não concordemos, aceitar o outro é um exercício de respeito, tolerância e maturidade.
Para termos a paz e a felicidade que desejamos nas relações, precisamos ter capacidade de nos adaptarmos, de buscarmos compreender que mesmo tendo diferenças, uma vida equilibrada e feliz é possível. Precisamos olhar o outro considerando quem ele é, com qualidades, defeitos, limitações, valores, cultura, formação, dúvidas, angústias, traumas, lembrando sempre que cada vida carrega consigo uma história, e essa história que nos molda como somos.
Precisamos compreender que como os outros não são perfeitos, nós também não somos. Tem épocas que somos “cor de rosa” e outras, sem mesmo compreender a razão, nos transformamos em “azul” e está tudo bem.
Essa capacidade de compreender a vida como ela é, e as pessoas como elas são, com menos cobrança e mais amor, nos trará uma visão mais ampla do que realmente é viver e, principalmente, conviver. Quando isso acontecer sentiremos a leveza de não carregar pesos desnecessários, descobrindo que a vida pode ser tão simples e que muitas vezes somos nós que complicamos.
Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
silnn.adv@gmail.com
@silnasihgil