O Presente
Silvana Nardello Nasihgil

Se não acordarmos do sonho mágico, seremos engolidos pelo mundo artificial

calendar_month 19 de junho de 2025
3 min de leitura

Em época de sentimentos vazios, em que o ter tem superado o ser, quem ainda consegue se sentir humano, partilhar afetos, ser grato, enxergar o sofrimento alheio, ter compaixão, sorrir, olhar nos olhos, ter tempo para escuta, abraçar e espalhar gentilezas, está se tornando um ser raro.

Infelizmente, estamos permitindo que o melhor de nós perca o brilho, caia em desuso e nos desumanize.

Reclamamos da indiferença das pessoas e sequer lembramos que muito do que vivemos deveria começar por nós.

Sabemos aportar de pronto tudo aquilo que nos tira a paz, tenta nos desequilibrar e nos coloca no mundo de modo automático, sem emoção, sem sentimentos, sem gratidão. Sequer nos damos conta que nessa enxurrada mecânica do viver e conviver também somos parte ativa que se confunde com o todo.

Essa desconstrução humana vem embalada por um mundo altamente consumista e eletrônico, onde máquinas construídas pelo homem têm mais credibilidade e valor do que quem as construiu.

Em pouco tempo, se não acordarmos do sonho mágico, seremos engolidos por esse mundo artificial, com a diferença de que não temos de modo algum como separar um corpo, uma alma frágil e sentimentos humanos das máquinas.

Posto isso, é possível imaginar quanto sofrimento o ser humano vem desenvolvendo na sua própria existência, esquecendo por completo de ser o dono da sua vida, perdendo o controle e adoecendo assustadoramente.

Só observarmos como a Inteligência Artificial (criada pelo homem) vem tomando espaços, sobrepondo-se aos sentimentos, confundindo emoções e se tornando um novo normal, então nos daremos conta de tudo o que temos permitido sem sequer nos darmos conta para onde estamos indo.

Preocupante e complexo perceber que tudo está sob a nossa permissão. Admirados com o novo, nos deixamos conduzir, confundir e seguimos esquecendo por completo que somos a máquina mais perfeita do universo.

Ainda é para sempre se sofrerá pela falta de amor, se adoece pelo abandono, ainda nos sentimos e nos sentiremos perdidos sem acolhimento.

Nada, por mais tecnológico que venha a ser, poderá suprir o calor de um abraço, um colo que acolhe, o aconchego de um lar.

Sentimentos e emoções não vêm e nunca virão de mecanismos criados. Por mais tecnológicos que sejam, só existem e terão força para existir vindo do lado humano que faz parte de cada um de nós.

Portanto, é urgente que reflitamos sobre as nossas atitudes, sobre tudo o que aceitamos sem questionar, aquilo que permitimos que roubem de nós com a nossa concordância, o nosso humano que vive e convive com os nossos iguais, como estamos conduzindo as nossas relações, principalmente com os mais próximos, amigos, pais, mães, filhos e pares.

Existe urgência na revisão do uso dos afetos, gentilezas, dedicação, tempo de qualidade, paciência, escuta, responsabilidade emocional, comprometimento, empatia, projetos e sonhos.

Existe urgência em revermos e avaliarmos para onde queremos ir com os comportamentos que estamos tendo, porque podemos ganhar o mundo, mas se perdermos quem amamos, nada terá valido a pena.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

@silnasihgil

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