
E assim a vida vai acontecendo… a gente por ser adulto, talvez só por isso mesmo, não se dê ao capricho de afrouxar.
Aprendemos desde muito cedo que precisamos ter responsabilidades com aquilo que nos comprometemos e com os outros, e isso faz de nós pessoas acima das nossas vontades.
Não importa muito se dentro de nós estamos desabando, importa que o mundo quer respostas e nos sentimos obrigados a dar.
Nisso tudo não estou falando das responsabilidades corriqueiras, daquelas que o bom senso sinaliza para que cumpramos. Falo, sim, dos comprometimentos que pesam, que tornam o caminho pedregoso e sobre o qual não sabemos dizer não.
Passamos a vida sendo cobrados, muitas vezes sobre coisas que nem fazem sentido, e passamos a não enxergar mais as cobranças como algo inadequado. Incorporamos certas “responsabilidades” no nosso viver como respostas que precisamos dar. Então a vida se torna um processo automático, em que não se analisa mais aquilo que é bom, justo e necessário, e passamos a não distinguir daquilo que é uma imposição externa e uma cobrança desmedida.
Sem nos dar conta vamos cumprindo um papel como se fôssemos atores de um filme que nem nos foi oferecido conhecer o roteiro previamente. Seguimos num processo automático e muitas vezes auto destrutivo.
A gente precisa ir aprendendo a se posicionar ao longo da vida, fazer escolhas e poder falar sobre o que sentimos não caber para nós.
A vida não pode ser só cumprir tarefas e se comprometer com os outros. A vida pode ser leve, agradável e feliz. Nisso é determinante observarmos as escolhas que fazemos, como nos enxergamos e nos posicionamos perante essas escolhas.
Aceitar tudo não nos fará pessoas especiais, mais amados ou respeitados, nos tornará marinetes do desejo dos outros e fracos perante o nosso direito de dizer o que desejamos viver.
Com isso, é preciso entender que o que não falamos pode muito facilmente ir se acumulando dentro de nós, se tornando entulhos que só servirão ao longo da vida para nos tornar dependentes de relações doentias, transformando sofrimentos em doenças.
O bom disso tudo é saber que a gente pode fazer escolhas, fazer mudanças no nosso modo de pensar e agir, buscarmos uma vida mais leve e feliz… e que isso só depende de nós.
Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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