O Presente
Silvana Nardello Nasihgil

Sobre abandono emocional

calendar_month 15 de outubro de 2020
3 min de leitura

O abandono emocional ainda nos fere, mesmo sendo adultos.

Quantas pessoas carregam no seu íntimo dores causadas pelo abandono emocional, muitos por pais relapsos, egoístas e descompromissados, outros por mães narcisistas que passaram a vida desmerecendo e infringindo aos seus filhos culpas e dores os quais não conseguiram processar.

Ao chegar na fase adulta seria muito prudente buscarmos compreender essas relações tóxicas, porque fica um furo na existência que sem encontrar justificativas vai doendo, angustiando, fazendo sofrer ao ponto de muitos se sentirem culpados pelas atitudes doentias de seus pais.

Não é tão incomum encontrarmos pessoas que convivem com um vazio imenso deixado pelo fato de não terem se sentido amados e cuidados por quem tinha o dever de fazê-lo.

Esse sentimento, quando não processado, cria travas e leva à escuridão, torna difícil e muitas vezes quase impossível prosseguir.

Então, diante dessas situações desastrosas, quando crescemos, precisamos saber que chega uma hora que esses pesos precisam ser descarregados, porque não podemos ficar presos a um passado que não existe mais meios de mudar.

Uma reflexão muito importante a ser feita é olharmos para esses pais e mães buscando compreender que mesmo sendo as pessoas mais próximas e de quem mais se espera amor, muitos nunca conheceram esse sentimento. É muito importante procurarmos saber como foi a relação dessas pessoas com os seus genitores, que dores enfrentaram durante a sua formação, que tipo de amor receberam, quais as referências positivas fizeram parte da sua vida (se é que existiram). Esse adulto foi amado? Foi ouvido, acolhido?

Nessa busca poderemos encontrar respostas para um adulto ferido, desconsiderado, diminuído, cobrado, desconstruído, que, ao não conhecer nada diferente, vai replicando o seu infortúnio.

É muito difícil para essas pessoas viverem com valores que não conhecem, expressar sentimentos que nunca experimentaram.

Ao fazermos essa volta ao passado, muito do presente pode ser compreendido.

Quando observamos os outros dentro da história de vida deles, passamos a compreender a nós mesmos, porque criamos conceitos únicos e unilaterais quando julgamos o outro sem nada ou quase nada sabermos deles. Quando nos permitimos olhá-los e enxergá-los muita coisa que pareciam sem lógica começa a fazer sentido.

Na fase adulta, reprocessar os sentimentos e emoções se faz necessário para podermos fazer uma caminhada leve e livre de amarras que travam o nosso caminhar.

Lembrar que as pessoas só dão o que conhecem pode ser de grande auxílio para acomodarmos o nosso emocional. Lembrar também que pessoas feridas ferem nos leva à compreensão de muitas atitudes dos outros.

Explicar isso a uma criança é, de certa forma, difícil, mas nós, adultos, podemos estender um pouco o nosso sentir, aliado à nossa capacidade de compreensão, e buscar em nós avivarmos os nossos sentimento e emoções.

O exercício de olhar para dentro de nós nos ajudará a não repetir o padrão de comportamento que nos formou. Se nos permitirmos viver na amargura de não termos sido amados como merecíamos vamos deixar de perceber que existem muitos ao nosso redor que esperam ser vistos, acolhidos, ouvidos e amados.

Se nos permitirmos viver na escuridão do nosso sofrimento, não conseguiremos enxergar além de nós.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 

 

 
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