Muitos de nós temos vivido sem muitos critérios, permitindo que a vida aconteça sem dar muita importância aos detalhes.
Seguimos como se não houvesse amanhã, permitimos que os nossos desalinhos internos respinguem nas outras pessoas. Desatentos, buscamos culpados para as nossas mágoas, angústias e sofrimentos de toda a natureza.
Na dificuldade de reconhecermos as nossas dificuldades, caminhamos sangrando em cima de quem sequer conhece e não tem nada a ver com as nossas feridas.
Criamos um ideal de relacionamento e pelo nosso imaginário desejamos viver sendo servidos, preenchidos nas nossas faltas, sem sequer nos darmos conta que muito do que esperamos dos outros precisa começar por nós.
Sem perceber nos tornamos o próprio “alecrim dourado”. Eu??? Eu não faço nada errado! Eu faço tudo certo e só recebo ingratidão, sou desprezado (a) e invisível e por aí vai, uma enxurrada de desculpas pra tentar justificar as próprias atitudes, vividas sem sequer serem avaliadas.
Então, a vida se torna um desastre, e mesmo diante do caos continuamos a não tomar a responsabilidade sobre os nossos atos.
Parece mais fácil botar a culpa no outro e seguir.
Como seres pensantes, deveríamos fazer reflexões constantes sobre as nossas atitudes, buscando perceber onde estamos colaborando com aquilo que não nos faz feliz.
Mudar de atitude quando o ego é grande e falta consciência de si se torna desesperador, porque, muitas vezes, o desejo de ser perfeito(a) e o medo de tomar responsabilidades pra si faz com que se continue o caminho sem se permitir uma pausa para reflexões.
Quando aprendemos olhar para nós, avaliando as nossas atitudes, sem dúvida iremos descobrir muito sobre aquilo que buscamos esconder. Porque ter responsabilidade emocional vai muito além da zona de conforto. Às vezes, precisamos experimentar o desconforto de ser quem somos para poder alinhar a vida.
Quando compreendemos realmente como agimos, porque agimos de tal forma, quando entendemos que muito vem das nossas expectativas, quando deixamos de conversar a respeito, quando olhamos para o outro com julgamentos e não entendemos que temos parte em tudo o que vivemos, então a vida se torna um “empurra, estica” sem que possa haver harmonia.
Relações, sejam elas quais forem, são formadas no mínimo por duas partes, duas pessoas de vidas diferentes, culturas familiares diferentes e histórias de vida singulares. Onde está a nossa dificuldade de compreender que é preciso muito mais do que atração e amor pra que possa dar certo?
Precisamos aprender a olhar para o outro e buscar compreender que precisamos ter responsabilidade nas vidas que tocamos, que se faz necessário uma compreensão que vai muito além das nossas fantasias, embasada nas verdades de que a vida vai além da individualidade.
Relações afetivas, principalmente a de pares, são escolhas. Diante disso, precisamos, sim, PRECISAMOS amadurecer a ideia de que temos parte e devemos tomar para nós a responsabilidade dos nossos atos, daquilo que fazemos e do que deixamos de fazer.
Quem tem dificuldade de compreender a estrutura do viver e conviver não tem o direito de “escravizar” o outro na satisfação do seu ideal de vida; deveria buscar primeiro se compreender, saber o que busca e identificar as próprias atitudes. Esse é o ponto zero para que uma relação possa ter equilíbrio e paz.
Jamais será culpando os outros que se pode obter uma relação saudável. Se faz necessário ter responsabilidade emocional, consigo e com os outros, pois esse é um grande pilar das relações. Precisamos ter consciência de que tudo começa sempre dentro de nós, assim evitaremos respingar nos outros aquilo que em nós não está resolvido.

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
silnn.adv@gmail.com
@silnasihgil
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