Vivemos em uma época onde o uso de medicações psiquiátricas vem sendo amplamente receitado.
Eles, muitas vezes, são necessários. Eles ajudam a salvar vidas. O ponto de reflexão é: por que estamos adoecendo mentalmente e por que o medo das medicações quando se fazem necessárias?
“Os distúrbios mentais são causados por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais”.
Escolhi falar sobre os fatores psicológicos e ambientais, pois vejo neles o maior índice de adoecimento.
Nesse contexto, existem fatores que poderiam ser evitados, mas que a nossa falta de atenção não nos permite fazer escolhas positivas.
Percebo no meu trato com as pessoas que o adoecimento tem sido causado pontualmente, em grande proporção, pelos fatores psicológicos e ambientais.
O padrão de vida que nos permitimos tem levado as pessoas à exaustão, porque, ao viver acionando o botão do automático, deixamos de fazer escolhas conscientes.
A vida por si só deixa de ter critérios, o que é bom e o que não nos serve seguem lado a lado. Paramos de ter prioridades e tudo vai acontecendo sem que se tenha consciência de que é possível fazer diferente.
O ritmo que o mundo exige que as pessoas vivam está cobrando um preço muito alto. Os problemas familiares, ambientes de trabalho tóxicos, questão financeiras, religiosas, violência urbana, violência física e emocional, abusos de toda a natureza, falta de projeto de vida, dependência emocional, desconstrução da própria identidade, tudo coopera para uma desestabilização mental, dando espaço para que distúrbios se instalem.
Diante do sofrimento, onde permitimos que se instale certos padrões com potencial de adoecer, o cérebro se desestabiliza, desenvolvendo um desiquilíbrio químico. Quando isso ocorre é, então, que o psiquiatra precisa entrar em ação.
A terapia é o ambiente onde se encontra o equilíbrio para reconectar a vida a tudo o que se fizer necessário para reeditar o sofrimento, angústias, dúvidas, medos e tudo o que estiver contribuído para o adoecimento. Enquanto, a medicação (se necessária) avaliada e prescrita pelo psiquiatra dará o suporte neuroquímica para que e até que se processem as novas mudanças.
Aqui está um impasse que me deparo, muitas vezes, quando avalio e concluo que o paciente precisa dos medicamentos para processar a terapia e permitir as mudanças necessárias. O preconceito e a resistência em relação ao tratamento são muito pontuais. O medo de viciar e de nunca mais poder deixar a medicação trava as pessoas. Diante disso, eu explico detalhadamente, desmistifico cientificamente e só assim aceitam o tratamento.
Infelizmente, a psiquiatria e a medicação psiquiatra ainda sofrem um grande preconceito, preconceito esse que de arrasta desde os anos 40, mantendo-se com a ideia de que medicação psiquiatra é para loucos, que medicação psiquiatra vicia e por aí vai.
Tanto a terapia como a psiquiatria precisam ser desmistificadas, ambas representam vida, saúde mental e, consequentemente, equilíbro e paz.
Difícil compreender a resistência na busca pela cura. Se uma pessoa precisa de remédio para diabetes, pressão alta, colesterol, problemas cardíacos ou outras doenças, ela toma conforme prescrição com a consciência de que busca a estabilização e cura da doença.
Medicações psiquiátricas são receitadas por médicos, são feitas sob rigoroso padrão de saúde e, quando liberadas, são para a cura e nunca para prejudicar a vida e saúde de ninguém.
Então, aonde ainda o nosso imaginário está preso? Na ideia do vício? Usamos álcool, cigarro, remédio para emagrecer, suplementos e tantas substâncias maléficas, as quais sequer checamos a origem, e nos bloqueamos quando se fazem necessárias medicações para o equilíbrio e a cura de uma doença?
Precisamos com urgência rever esses conceitos absurdos, nos informarmos mais a respeito e pararmos de permitir o sofrimento quando a medicina nos oferece a estabilização e a cura.
Chega de queixas e de temores infundados!. Vamos olhar mais para a realidade e buscar ajuda. Parar o vitimismo e nos rendermos àquilo que, sem dúvida, traz qualidade de vida diante do sofrimento.
Psicoterapia e psiquiatria (quando necessária) devolvem a vida e acomodam o sofrimento. Isso não é achismo meu, é ciência!

Por Silvana Nardello Nasihgil. Ela é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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@silnasihgil
