O Presente
Tarcísio Vanderlinde

A metáfora da água viva

calendar_month 26 de julho de 2024
3 min de leitura

Apesar do avanço tecnológico que permite a dessalinização da água, a dádiva em seu estado natural continua merecendo atenção nas regiões mais áridas do atual estado de Israel. Todavia, a obtenção de água potável está longe de ser apenas um desafio na Terra Santa. Muitas regiões do planeta convivem com déficit crônico de água potável.

No Israel histórico as secas eram frequentes, e o povo costumava dar grande atenção às fontes e à qualidade da água. Poucas nascentes e poucos rios fluíam durante todo o ano, de modo que a população dependia tanto de cisternas para coletar e armazenar a água das chuvas como dos poços que extraiam água dos lençóis freáticos.

Na cultura judaica, “água morta” era água parada ou armazenada. Já a “água viva” fluía dos rios, das fontes e das chuvas. Considerava-se que ela vinha diretamente de Deus e, portanto adequada para lavagens rituais como aparece em Levítico: “Então o sacerdote ordenará que uma das aves seja morta numa vasilha de barro com água da fonte”.

A distinção entre “água morta” e “água viva” explica porque a mulher da Samaria ficou perplexa quando Jesus lhe ofereceu água do segundo tipo: “Acaso o senhor é maior do que nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem como seus filhos e seu gado?” (Jo 4.12). Samaria não tinha rios. Se Jacó precisaria até cavar um poço ali, como era possível Jesus lhe oferecer água de melhor qualidade?

Há outra ocasião quando Jesus volta a tocar no assunto. Foi na Festa das Cabanas, celebrada em Jerusalém na época do outono: “No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem” (Jo 7.37-39). 

A festa, que caia na temporada de seca, também destacava a importância da água. Considerando as características geográficas do local, Jesus se dirigiu ao povo e fez uma asserção aparentemente extravagante: quem estivesse a procura de água viva deveria vir até ele e beber. Ele se apresentou como a fonte de água viva procedente do Altíssimo capaz de saciar a sede de todo aquele que busca o Eterno.

“Água viva”: nascente do Rio Jordão nas Colinas de Golã – Norte da Terra Santa (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

tarcisiovanderlinde@gmail.com

@tarcisio_vanderlinde2023

 
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