Na conclusão dos pais da igreja, Lucas foi o único dos quatro evangelistas que não era de origem judaica. Estudos sobre a escrita dos evangelhos, autoria e datas de redação costumam às vezes ser eivados de complexidade. No caso de Lucas, a passagem que insinua sua origem gentia, além de observar sua profissão de médico, encontra-se na Carta de Paulo aos Colossenses.
Os escritos de Lucas se dividem no Evangelho propriamente dito e nos Atos dos Apóstolos que originariamente poderiam ter sido um único texto. Há um curioso tom personalizado no início das duas narrativas: ele escreve a um tal Teófilo do qual pouco se sabe. Possivelmente era uma pessoa influente à época.
Alguns exegetas defendem a ideia de que Lucas teria utilizado o texto de Marcos como fonte principal tendo redigido seu texto por volta do ano 70, época da destruição de Jerusalém.
O fato de ter sido um autor estrangeiro interfere na redação. Um dos temas centrais de sua narrativa é o fato de Deus não conceder salvação apenas a judeus, mas também aos não judeus. A parábola do “Bom samaritano”, alguém que não era judeu, e que praticou uma boa ação, aparece somente no evangelho de Lucas, e parece ser emblemática ao indicar a missão universal de Jesus.
Outra história que se tornou popularmente conhecida e que se encontra também apenas no evangelho de Lucas é a do “Filho pródigo”. Arrependimento, compaixão e reconciliação podem ser consideradas palavras-chaves nesta história tão bem narrada pelo médico escritor.
Mais do que qualquer outra versão, Lucas assevera que a narrativa acerca de Jesus é histórica, e garante aos seus leitores que a mensagem do evangelho é autêntica. Enfatiza que seu relato se baseia em depoimentos de testemunhas oculares e confiáveis e data meticulosamente o ministério de Jesus tomando como referência a atuação dos governantes das época:
“Era o décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério Cesar. Pôncio Pilatos era governador da Judeia; Herodes Antipas governava a Galileia; seu irmão Filipe governava a Itureia e Traconites; e Lisânias governava Abilene. Anás e Caifás eram os sumos sacerdotes. Neste ano veio uma mensagem de Deus a João, filho de Zacarias, que vivia no deserto”.
Possivelmente, pela condição de escritor gentio, Lucas enfatiza a salvação para todos que creem, especialmente com referência aos excluídos de Israel: os pobres, os pecadores, as mulheres e naturalmente os estrangeiros. Em Lucas Jesus é apresentado como “uma luz de revelação às nações”.

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
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