No sopé do monte das Oliveiras, ao lado do Getsêmani, há uma basílica católica conhecida como a “Igreja de Todas as Nações”. Ela é também identificada como “Basílica da Agonia”, por se acreditar que ali Jesus teria passado seus últimos momentos em vida antes de ser crucificado. A construção foi inaugurada em 1924 e segue um estilo bizantino ao ser desenhada pelo arquiteto italiano Antonio Barluzzi.
A opção pelo estilo bizantino não foi capricho ou acaso. Ao se preparar o local para iniciar a construção, descobriram-se vestígios de uma antiga basílica bizantina datada do século IV destruída por um terremoto no ano 746. No século XII foi construída uma capela pelos cruzados que foi abandonada mais tarde. A construção atual foi viabilizada por doações provenientes de diversos países, inclusive do Brasil.
A basílica pode ser considerada um marco simbólico do que ainda poderá ser Jerusalém num tempo futuro. Uma cidade para onde poderão se dirigir pacificamente povos de todas as nações.
Nas palavras de Zacarias, profeta que teria túmulo alegórico a poucos passos da igreja: “virão muitos povos e poderosas nações, a buscar em Jerusalém ao Senhor dos Exércitos, e a suplicar o favor do Senhor”.
A profecia soa como um presságio utópico se considerado os embates políticos atuais sobre a região e o destino da Cidade Santa, hoje compartilhada espiritualmente por cristãos, judeus e muçulmanos.
É válido pensar, entretanto, que a contribuição internacional para a construção da Igreja de Todas as Nações foi feita num espírito de cooperação bem diferente do que se observa hoje no mundo e na região. Naquele momento ainda não havia a ONU e nem o Estado de Israel. Hoje a situação está mais parecida com fragmento bíblico que compara Jerusalém a uma taça que embriaga, a uma pedra pesada para todos os povos ao redor.
A milenar Jerusalém está na pauta do mundo globalizado. O ressurgimento de Israel no século XX criou novas perspectivas, de certa forma inesperadas, para aquela cidade, Oriente Médio e por que não dizer para todo o planeta. De acordo com o jornal New York Times, a área central da cidade de Jerusalém se tornou hoje um dos lugares potencialmente mais explosivos do mundo.
Jerusalém é considerada uma cidade santa onde ocorre convergência de religiões que compartilham uma história com afinidades e contraditórios. Não é incomum “cair do cavalo” ao se propor a avaliar a existência ou permanência de Jerusalém em nosso tempo. Conforme as narrativas bíblicas, ali, Abrão foi colocado à prova por Deus. Ali Davi governou. Salomão construiu ali o primeiro templo, e foi o lugar geográfico onde Jesus levou a cabo sua missão redentora.

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
tarcisiovanderlinde@gmail.com
@tarcisio_vanderlinde2023
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