Montes e vales do cenário bíblico foram locais de eventos grandiosos, de manifestações divinas, as teofanias. No cumprimento de profecias, crê-se que lugares como o vale de Jezreel e monte das Oliveiras voltarão a ser cenários de acontecimentos miraculosos.
Para além da filiação religiosa, o valor simbólico das paisagens que emolduram as terras bíblicas, motivam peregrinos de todas as partes do planeta a sentirem-se na Terra Prometida. Jesus aproveitou a geografia do lugar para ensinar e criar histórias eternas.
Paisagens revelam sentidos e se conectam com a fé de visitantes ou habitantes do lugar. A mutante geografia da Terra Santa é marcada por memórias que se mesclam e reforçam o imaginário de judeus, muçulmanos e cristãos.
Do monte Sinai no Egito ao monte Hermon na inconsolidada fronteira norte de Israel, o relevo formado por montes, vales, planaltos e planícies, contam histórias e nos dão lições de vida. Além disso nos ajudam a superar dificuldades e nos estimulam a uma convivência pacífica durante nossa jornada com final impreciso na Terra.
Em muitos países se encontram montes e vales talvez até mais imponentes e mais belos dos que os da Terra Santa. Mas em nenhuma outra literatura se encontrarão metáforas tão fortemente construídas a partir da geografia do lugar, e que tiveram um alcance mundial tão impactante como aquelas que se encontram nas narrativas bíblicas.
No conjunto literário que passou a ser conhecido universalmente como Bíblia, não parece haver precedentes onde o amálgama resultante entre geografia e revelação, produziu textos tão repletos de significados que atravessaram milênios:
“Ainda que eu andasse pelo vale da sobra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4). “Os que confiam no Senhor serão como o monte Sião, que não se abala, mas permanece para sempre” (Sl 125.1-2).
“Oh! Como é bom e suave que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, barba de Arão, e que desce à orla de suas vestes. Como o orvalho de Hermon, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre” (Sl 133. 1-3).
“Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra” (Sl 121.1-2).

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
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