Quando se fala em arqueologia, ou geografia bíblica, a ideia que costuma vir à mente diz respeito ao território mais associado aos passos de Jesus, dos patriarcas e profetas. Trata-se de uma área circunscrita a ambientes bem identificáveis nos atuais territórios de Israel, Palestina, Líbano, Síria, Jordânia, Iraque e Egito.
O recorte geográfico associado aos textos bíblicos, entretanto, vai mais além, e inclui regiões da Europa Central, países da periferia do Mar Mediterrâneo e avança pelo Oriente Médio até a Índia. Abrange os atuais territórios da Etiópia, Irã, Turquia, Grécia e Itália.
Em visita que fez à Terra Santa no ano de 1966, o escritor brasileiro Érico Veríssimo fez uma curiosa observação. Concluiu que havia uma relação dialética entre os textos bíblicos e as escavações arqueológicas. Os textos indicavam onde escavar, e as escavações por sua vez confirmavam os textos. A informação aparece no livro “Israel em abril” de autoria de Veríssimo.
Até o momento, o achado bíblico mais significativo dos últimos dois milênios, aconteceu no ano de 1947 com a descoberta ao acaso dos Manuscritos do Mar Morto nas cavernas de Qumran, muito próximas ao local da antiga comunidade dos essênios que existia no Deserto da Judeia.
Em março de 2021 foi anunciado o que pode ser um dos mais importantes achados arqueológicos no Deserto da Judeia desde a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto. Escritos em grego, os fragmentos encontrados tornaram possível reconstruir passagens dos livros dos profetas Naum e Zacarias. Os dois constam na lista dos 12 profetas menores da Bíblia.
Os primeiros empreendimentos arqueológicos na Terra Santa foram realizados não por arqueólogos, mas por teólogos, estudiosos da Bíblia, geógrafos e engenheiros interessados em localizar lugares mencionados nas narrativas e mapear a geografia da região.
Embora nenhum desses pioneiros tivessem treinamento específico, fizeram importantes contribuições para o campo da arqueologia bíblica. É interessante saber que algumas descobertas foram feitas acidentalmente por pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em arqueologia.
O interesse pelos locais associados às narrativas bíblicas remonta à Antiguidade. Há registros de peregrinos que buscavam identificar os lugares santos desde os primeiros séculos do cristianismo. O historiador Justo Gonzalez observa que durante a Idade Média muitos peregrinos, já em fase final da vida, empreendiam um esforço para se deslocar a Jerusalém para morrer e lá serem sepultados.
Diversos arqueólogos de renome fizeram descobertas importantes ainda no século XIX, como foi o caso da identificação de Cesareia de Filipe, localizada nas nascentes do Rio Jordão.
Evidencia-se no século XX o trabalho diligente do arqueólogo norte-americano William Albrigth. Albrigth não se destacou apenas pela perícia e conhecimento, mas também porque seu pressuposto era de que a Bíblia era um documento historicamente confiável.

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
tarcisiovanderlinde@gmail.com
@tarcisio_vanderlinde2023
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