O Presente
Tarcísio Vanderlinde

Enoch nas Carvernas de Qumran

calendar_month 27 de junho de 2025
3 min de leitura

De acordo com narrativas bíblicas, Enoch foi pai de Matusalém, o homem mais longevo que já teria existido. Segundo Gênesis, costumava ter grande intimidade com Deus, e junto ao profeta Elias, formou a única dupla arrebatada ao paraíso sem precisar passar pela morte. Afora as referências bíblicas, Enoch ainda está presente nas tradições judaicas e cristãs.

Não se sabe com certeza se o “Livro de Enoch” tenha sido escrito realmente por ele. O texto é considerado apócrifo pela maioria das correntes cristãs, e continua tendo muitos leitores no tempo presente. A história do patriarca inspirou recentemente a criação de uma ferramenta de IA que leva seu nome.

Neste caso, Enoch passa a ser um instrumental que investigadores poderão utilizar para refinar estimativas de datação sobre manuscritos antigos. Ao “entrar” nas cavernas de Qumran às margens do Mar Morto, Enoch examinou alguns dos manuscritos famosos ali encontrados, e concluiu que eles podem ser mais antigos do que se pensava desde sua descoberta em meados do século XX.

A ferramenta foi desenvolvida pela Universidade de Groningen (Países Baixos), e que na combinação com a datação por radiocarbono e a paleografia, é capaz de chegar a resultados mais precisos em exames de manuscritos antigos. Por outro lado, Enoch também apresenta subsídios que possibilitam que os investigadores interpretem com maior segurança, os dois estilos antigos de escrita judaica: o “hasmoneu” e o “herodiano”.

A ferramenta não invalidou a autenticidade dos pergaminhos, nem as pesquisas por métodos tradicionais realizadas anteriormente. Apenas aprimorou sua datação extraindo informações que poderão ser úteis para a compreensão da evolução política e intelectual do Mediterrâneo oriental durante os períodos helenístico e romano inicial, ou seja; desde o século IV a.C. até ao século II d. C. O período marca o surgimento dos primeiros grupos de cristãos.

A “Biblioteca de Qumran” é dividida em duas categorias de escritos: rolos bíblicos e não-bíblicos. Os não-bíblicos são classificados em apócrifos, sectários e pseudoepigráficos. Pseudoepigráficos são textos, nos quais, para ver a obra aceita, o autor usa como pseudônimo o nome de algum personagem bíblico. São textos “falsificados”, porém relevantes para estudos. Na visão de muitos especialistas, é o caso do texto atribuído a Enoch.

Os três livros mais comumente encontrados em Qumran foram os Salmos, Deuteronômio e Isaías. Os livros continuam sendo frequentemente citados no Novo Testamento, o que revela a perspectiva messiânica dos mesmos. Nenhum dos rolos de Qumran foi escrito para, ou por cristãos, mas são importantes para a compreensão do contexto histórico das origens do cristianismo. 

Os escritos aparecem em três idiomas: hebraico, aramaico e grego, e são os únicos manuscritos remanescentes da época do Segundo Templo, aquele que existia na época de Jesus. Não é totalmente improvável que Jesus, ou seus discípulos, possam ter consultado alguns desses manuscritos no templo de Jerusalém antes de serem guardados em Qumran. Enoch de Groningen poderá tentar esclarecer essa conjectura.  

Caverna em Qumran (Foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

tarcisiovanderlinde@gmail.com

@tarcisio_vanderlinde2023

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