O Presente
Tarcísio Vanderlinde

O mapa mundi de Heinrich Bünting

calendar_month 13 de junho de 2025
3 min de leitura

De acordo com fontes específicas, o mapa representado na figura que ilustra o texto pertence à obra de Heinrich Bünting, teólogo e cartógrafo alemão do século XVI, reconhecido por suas representações simbólicas do mundo. Publicado em 1581, o mapa é conhecido como o “Mapa Trevo”, pelo formato se assemelhar ao trevo de três folhas, escolha intencional que carrega um significado teológico.

Embora já conhecidas à época, América e Oceania não passavam de terras incógnitas. O mundo de Bünting é representado basicamente por Europa, Ásia e África, sendo a cidade de Jerusalém posicionada geográfica e simbolicamente como ponto de união continental. A concepção revela influência de narrativas bíblicas associadas a Jerusalém, especialmente a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

O trevo de três folhas era comumente associado à Trindade Cristã, o que reforça a ideia de que o mundo conhecido estava sob autoridade divina, e que a geografia era uma expressão de fé. Pelo instrumental técnico já disponível à época, fica evidente, que o mapa é menos uma ferramenta de navegação e mais uma ilustração teológica do mundo iluminado por Jerusalém.

Pelos detalhes, e dependendo da imaginação do expectador, o mapa possibilita várias leituras. Chama atenção, por exemplo, a forma como o cartógrafo representa e enfatiza o Mar Vermelho (Das Rote Meer). Evidencia-se aí influências das narrativas presentes no livro de Êxodo. No entorno do mapa, vê-se o mar, com figuras mitológicas e referências às terras ainda pouco conhecidas como a América: o Novo Mundo (Die Neue Welt).

Pesquisas indicam que este tipo de cartografia era comum durante a Idade Média e ao início da Modernidade, período em que a relação entre ciência e fé apresentava conexões distintas do que se observa no tempo presente. O mapa de Bünting não tinha a intenção de informar rotas ou distâncias, mas de sinalizar princípios espirituais por meio de representação geográfica.

Flagramos cópia do mapa, hoje de domínio público, num calendário que chegou às nossas mãos neste ano. É sintomático perceber que a relevância de Jerusalém para o contexto mundial, diferente do que talvez possa ter imaginado Bünting, adquire uma intrigante atualidade, considerando a situação mundial, mais notadamente a do Oriente Médio.

Jerusalém continua em evidência nestes tempos delicados, e pode ser considerada um dos centros mais disputados do mundo, seja sob o ponto de vista político, religioso ou cultural. Destruída e reconstruída por diversas vezes ao longo de milênios, Jerusalém mantém-se como cidade habitada. Em tempos extremos, permanece viva, desafiando prognósticos impacientes sobre seu futuro e sua centralidade histórica.

Imagem: Mapa mundi de Heinrich Bünting: domínio público, disponível em sites diversos

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

tarcisiovanderlinde@gmail.com

@tarcisio_vanderlinde2023

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