Os primeiros empreendimentos arqueológicos nas terras bíblicas não foram realizados por arqueólogos, mas por teólogos, estudiosos da Bíblia, e engenheiros interessados em localizar lugares mencionados nas narrativas e mapear a geografia da região. Embora nenhum desses pioneiros tivessem treinamento específico, fizeram importantes contribuições para o campo da arqueologia bíblica.
O artigo é insuficiente para expressar minha admiração por um destes pioneiros: Edward Robinson (1794-1863). Robinson nasceu nos Estados Unidos e se aperfeiçoou em línguas antigas, mais notadamente o hebraico. Considerado o primeiro geoarqueólogo da Terra Santa nos tempos contemporâneos, Robinson, juntamente com um amigo clérigo, fluente no árabe, esteve por duas temporadas a realizar pesquisas e estudos nos lugares bíblicos.
Como resultado da primeira viagem em 1838, Robinson publicou “Pesquisas Bíblicas na Palestina”, obra premiada com medalha de ouro pela Royal Geographical Society. Voltou lá em 1852 para concluir seu trabalho. O objetivo de suas incursões nas terras bíblicas era o de identificar sítios mencionados na Bíblia e criar uma geo-história da Palestina.
Seu trabalho lhe rendeu a reputação de fundador da arqueologia bíblica influenciando o futuro trabalho no campo arqueológico. Entre seus achados se incluem o túnel de Siloé e o arco de um dos acessos que levava ao Templo de Herodes. A descrição do local feita pelo historiador Flávio Josefo foi fundamental para a localização e identificação do arco que acabou levando seu nome.
O arco na verdade sustentava uma ponte, possivelmente o acesso principal ao templo pelo lado ocidental do muro. A obra foi erigida dentro do programa de reformas para o templo planejado pelo rei Herodes. Ligava o vale do Tiropeão ao alpendre real localizado na parte sul do complexo do templo.
Estudos recentes realizados sobre o local revelaram que tanto o muro quanto o arco foram finalizados depois do reinado de Herodes. Teriam sido concluídos num período de 40 anos já no governo de Agripa II, bisneto de Herodes.
A destruição posterior do arco coincide com os eventos da destruição de Jerusalém levados a cabo pela legiões romanas em 70 d.C. No entanto, a destruição específica da “ponte” também pode ter sido parte de uma estratégia de guerra atribuída às facções zelotes que lutaram pelo controle do Monte do Templo. Procurando fortalecer o monte antes de sua queda, destruíram o principal acesso.
Novos achados sobre o arco se sucederam à descoberta de Robinson, revelando detalhamentos desta construção que podem ser observadas hoje na parte sul do muro ocidental de Jerusalém. O local também é conhecido como “Parque arqueológico de Jerusalém”.

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
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