De acordo com o teólogo Walter Altmann, citado no portal do Instituto Humanitas da Unisinos, Martinho Lutero nunca teria mencionado que queria fundar outra igreja. Ele até teria pedido que ninguém se chamasse “luterano”. Neste sentido, haveria até uma frase atribuída a ele: “Quem sou eu, pobre e fedorento saco de vermes, para que alguém se designe por meu indigno nome? Porque não fui crucificado por ninguém. Que todos se designem simplesmente cristãos”.
No livro de “De Luder a Lutero” (Sinodal), o escritor Martin Dreher observa que, apesar de crítico mordaz, Lutero não tinha intenção de romper com Roma. Queria muito mais uma reforma da Igreja do que confronto com ela. Segundo o autor, uma análise isenta dos fatos levam a esta conclusão, porém, as complexas circunstâncias sociopolíticas e religiosas materializaram outro caminho. Dreher conta que Lutero observou os votos monásticos de agostiniano com exceção de um: o da obediência. Um mosteiro, o de Wittenberg, foi sua residência até a morte”.
Em eruditos como Erasmo, com o qual teve controvérsias sobre a concepção do “livre-arbítrio”, Lutero buscou subsídios para uma melhor compreensão dos textos bíblicos. Porém, ele próprio admitia lutas com os textos sagrados após constatar que as interpretações existentes eram de pouco proveito. Acaba concluindo que era preferível enxergar com os próprios olhos do que com olhos alheios.
O ano de 1520 seria marcado pelos principais tratados que iriam caracterizar os princípios da teologia protestante. “Do cativeiro babilônico da igreja” pode ser considerado o texto mais relevante. Nele Lutero denuncia o despotismo do papado e propõe a reforma. Mais tarde, em fase que Dreher considera como senil, Lutero produziria alguns textos comprometedores, principalmente direcionados a camponeses e judeus. O texto sobre os judeus teve reflexos dramáticos no século XX e serviu como pretexto para estimular o antissemitismo.
Em seus escritos, Lutero costumava contar com um auxiliar hábil e de grande erudição que conseguia ser até mais arguto e duro do que ele próprio. Trata-se de Filipe Melanchthon, humanista e discípulo de Erasmo. “Dominava o grego, conhecia as fontes para os estudos de Teologia, e Lutero dobrou-se aos seus conhecimentos, vendo nele também aquele que poderia continuar sua obra, caso viesse a falecer”.
Na Dieta de Worms, diante do imperador Carlos V, instado a revogar seus escritos, Lutero se posicionaria definitivamente a respeito dos mesmos. Dreher transcreve a posição do Reformador: “Estou convencido pelas passagens da Sagrada Escritura que mencionei, e minha consciência está presa à palavra de Deus, e não posso nem quero revogar qualquer coisa, pois não é sem perigo nem salutar agir contra a consciência. De outra maneira não posso; aqui estou, que Deus me ajude amém”.

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.
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