O Presente
Tarcísio Vanderlinde

Revelações do Amuleto de Frankfurt

calendar_month 7 de fevereiro de 2025
3 min de leitura

Além da mídia que costuma dar maior registro às descobertas arqueológicas, o “Amuleto de Frankfurt”, como está sendo chamado, recebeu atenção recente numa live realizada pelo arqueólogo Rodrigo Silva, profissional especializado em descobertas que se relacionam às narrativas bíblicas. Silva, que também é teólogo e professor, se notabilizou por organizar inédito museu de arqueologia bíblica no Brasil. Trata-se do primeiro museu de arqueologia bíblica da América Latina. O museu localiza-se no corpo da UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo), cidade de Engenheiro Coelho.

Achados arqueológicos bíblicos costumam apresentar maior densidade de descobertas em territórios que se associam historicamente a cenários descritos nos textos sagrados. O Amuleto de Frankfurt, descoberto na Alemanha, porém, está muito distante das terras bíblicas, entretanto, joga luzes para a compreensão dos primeiros séculos relacionados à expansão do cristianismo.

O minúsculo artefato, que mede pouco mais de três centímetros, já havia sido descoberto em 2018, em uma sepultura romana do século III, nas proximidades de Frankfurt. Os arqueólogos o encontraram no esqueleto de um homem enterrado em um cemitério na cidade romana de Nida, um dos mais relevantes sítios arqueológicos do estado de Hesse. Encontrado sob o queixo do esqueleto, o objeto de assemelha a um filactério (invólucro que acomoda um minúsculo pergaminho com texto bíblico utilizado em rituais judaicos preso a testa e aos braços). O objeto era provavelmente utilizado como pendente ao redor do pescoço para fornecer proteção espiritual.  

Foram necessários mais de cinco anos antes que a equipe do Museu Arqueológico de Frankfurt conseguisse “desenrolar” e decifrar com segurança o que estava escrito no fino e minúsculo pergaminho encapsulado no amuleto. O processo só se tornou possível graças à técnicas revolucionárias recentes aplicadas às pesquisas arqueológicas. O texto escrito no pergaminho acabou surpreendendo os pesquisadores.

Na folha, havia 18 linhas em latim fazendo referência a Jesus Cristo e a São Tito, um dos discípulos do Apóstolo São Paulo. Como a sepultura onde foi encontrado o objeto foi datada entre 230 e 270 d.C., o amuleto surge como a evidência mais antiga do cristianismo na Europa ao norte dos Alpes. Na época do sepultamento, o cristianismo já era relativamente conhecido no império romano, mas identificar-se como cristão era arriscado, como supreendentemente ainda é hoje em determinados países. O homem enterrado, que se acredita ter entre 35 e 45 anos, possivelmente sentia sua fé tão fortemente que a levou consigo para o túmulo.

Parte do escrito na película faz referência a trecho que se consolidou mais tarde no texto canônico da Bíblia, mais especificamente na carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses (2:10-11), aqui em destaque na tradução clássica da Bíblia de Jerusalém: “De modo que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra, e, para glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor”.

Resta saber se o peso da mensagem milenar gravada no amuleto ainda guarda significação para o confuso mundo do tempo presente.  

Amuleto de Frankfurt. Acessável em: aventurasdahistoria.com.br    

Por Tarcísio Vanderlinde. O autor pesquisa sobre povos e culturas do Oriente Médio.

tarcisiovanderlinde@gmail.com

@tarcisio_vanderlinde2023

 
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