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Política Entrevista ao O Presente

“Este é o momento de unidade da esquerda”, diz candidato ao Senado pelo PSOL

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Para Tomazini, discurso que deve ser levado à população nesta eleição é que a esquerda defende uma política para aqueles que mais precisam (Fotos: Maria Cristina Kunzler )

O candidato a senador pelo PSOL, Rodrigo Tomazini, percorreu municípios da região, entre sexta-feira (17) e domingo (19), para cumprir agenda eleitoral. Durante sua estada em Marechal Cândido Rondon, ele visitou o Jornal O Presente para falar sobre a disputa ao Senado neste ano – na eleição de 2014, Tomazini foi candidato ao Governo do Paraná pelo PSTU. Em entrevista, ele explicou o motivo pelo qual optou pela mudança de partido. O candidato também analisou como convencer o eleitor a votar em um nome da esquerda, a qual tem sido tão criticada nos últimos anos. Confira.

O Presente (OP): Na eleição passada o senhor foi candidato ao Governo do Estado. O que o levou agora para a disputa ao Senado?

Rodrigo Tomazini (RT): Na eleição passada estava no PSTU. Um grupo de pessoas fez um debate e migramos para o PSOL. Dentro do PSOL tivemos um processo muito rico, que envolveu mais de 500 pessoas no Estado todo, onde fizemos as eleições de delegados, sendo que foram eleitos quase 100, e em Curitiba uma conferência eleitoral. Depois de um amplo debate achamos que seria mais interessante fazer uma chapa com o Professor Piva e a Fernanda (Camargo) como candidatos a governador e a vice-governadora. Entendemos também que seria importante ter essa minha candidatura ao Senado, mesmo porque observamos que tendo dois candidatos poderíamos fazer uma dobradinha. Tem uma candidata da região, a Jaqueline (Parmigiani), de Toledo, e eu de Curitiba, e desta forma poderíamos discutir uma política nacional. Eu gosto do debate nacional, da conjuntura política e econômica, e neste debate dentro do partido fechamos essa dobradinha.

OP: Por que a mudança do PSTU para o PSOL?
RT: Eu gosto muito do pessoal do PSTU, mas foi a questão política mesmo. O momento em que o Brasil está vivendo, infelizmente o PSTU está errando na política que está aplicando, essa questão do ‘fora todos’, ‘tem que prender todo mundo’. Eu vejo, por exemplo, a Lava Jato até agora como um processo seletivo. Nós temos várias pessoas que já poderiam ser condenadas em segunda instância. Eu não concordo com o Lula (PT) politicamente, eu voto no Boulos (presidenciável do PSOL), mas o Beto Richa (PSDB) foi condenado em segunda instância devido a uma viagem em Paris. Nós achamos inclusive que devemos entrar com um pedido de impugnação, mas acredito muito improvável que isso venha a ocorrer, mesmo entendendo que também foi um dano ao patrimônio público. No PSTU fizemos uma discussão muito forte e, inclusive, dura, mas não chegamos a um acordo. Entendemos que este é o momento de unidade da esquerda, porque vemos que está tendo um ataque a nós e a nossas ideias. Nós temos um projeto diferente e somos unificados. Entendemos que é o momento de unificar. Infelizmente o PSTU não entrou nessa e fizemos uma aliança com o PCB e movimentos sociais.

OP: O senhor considera a candidatura viável, tendo em vista a limitação de recursos? Ou o momento político pode contribuir?
RT: Sim, o PSOL do Paraná está lançando nossas candidaturas para eleger o primeiro parlamentar do partido. Para ter ideia, entre os candidatos a deputado estadual e federal nós temos mais de 50 pessoas inscritas, as quais são envolvidas em movimentos, seja da educação, saúde ou popular. Contamos com um grupo forte para o Senado, para deputados federais e estaduais. Achamos que o debate para o Senado aqui no Paraná é muito importante. Acreditamos que nossa candidatura vai ter adesão, porque não fazemos parte de nenhuma dessas famílias ou oligarquias que estão no Paraná há muito tempo e as pessoas já observam que votaram muitas vezes nos mesmos e as coisas não mudam.

 
OP: Como convencer o eleitor a votar em um candidato de esquerda, sendo que a esquerda nos últimos anos foi bastante criticada?
RT: O grande problema da esquerda e que a levou ao massacre foi ter se aliado com a direita. Eu vejo o PT, por exemplo, se aliando ao MDB e ao PP, que é o partido com mais denúncias de corrupção. Antigamente não era assim. Saímos do PT justamente quando começaram a fazer esses acordos. Outra coisa: tentar se eleger com dinheiro de empreiteira, depois vem a moeda de troca. O discurso que vamos levar à população é o que significa ser esquerda: é ter uma política para aqueles que mais precisam. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Temos 1% da população que possui a mesma quantia de riqueza que 99%. Seis famílias possuem a mesma coisa que 100 milhões de pessoas. Queremos fazer um debate de como podemos ajudar. Todo mundo virá nesta eleição dizendo que vai melhorar a saúde, a educação. Todas as eleições são assim. Nós queremos dizer de onde vamos tirar o dinheiro, porque falar que vai melhorar é fácil, mas como vai tirar o dinheiro? Temos três questões fundamentais.

OP: Quais?
RT: Primeiro, fazer uma reforma tributária no Brasil, onde se torna justa a contribuição. Hoje quem paga é a massa mais pobre da população, pois a tributação brasileira é feita no consumo. Entendemos que para reduzir a desigualdade social devemos inverter a lógica, ou seja, aqueles que têm mais devem contribuir mais. Nisso entra também a taxação de grandes fortunas e a herança. A segunda questão é algo que ninguém fez até hoje: a auditoria da dívida. A Constituição diz que um ano após sua promulgação deveria ter sido feita uma auditoria, mas nunca foi realizada. O terceiro ponto é a reforma da Previdência. Todo mundo diz que é o grande gargalo, mas nós entendemos que não. Vimos uma CPI no Senado em que o resultado foi de que a Previdência, quando pega todos os sistemas de contribuição, não é deficitária. Mesmo que fosse deficitária, deveria começar por quem tem privilégios. Não é na aposentadoria da zeladora da escola que tem que mexer. De imediato não precisamos fazer uma grande revolução no país para mudar as coisas, mas precisamos ter bom-senso.
O Presente

 

Candidato a senador pelo PSOL, Rodrigo Tomazini, com os candidatos a deputado federal Vinícius Prado, Lorenzo Balen e Luciano Palagano, e a candidata a deputada estadual Ana Maria de Carvalho, em visita ao O Presente (Fotos: Maria Cristina Kunzler )

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