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Esportes Resultados históricos

Como está o trabalho da seleção brasileira de futebol feminino?

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Criador do site Planeta Futebol Feminino, Rafael Alves participou do Mundo dos Esportes (Foto: Divulgação/CBF)

Os resultados históricos das meninas do Brasil nas Olimpíadas de 2004 e 2008 pouco mudaram a situação do futebol feminino brasileiro. Em relação à seleção brasileira, o trabalho do técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, é questionável e a campanha na última Copa do Mundo sub-20, sob o comando de Doriva Bueno, foi decepcionante.

Para entender mais o atual momento do futebol feminino do Brasil, o especialista no assunto, Rafael Alves, do site Planeta Futebol Feminino, participou da última edição do programa Mundo dos Esportes.

 

Como avaliar a campanha da seleção brasileira na Copa do Mundo sub-20? Apenas um ponto conquistado no empate com a Inglaterra e derrotas para Coreia do Norte e México.

Rafael Alves: “Uma campanha frustrante porque temos uma geração muito boa e prometia muito mais. A gente teve uma grande frustração quando perdeu para o México logo na primeira rodada e isso não estava nos planos. O México, em tese, seria o jogo para marcar os três pontos. O que fica marcado é como a seleção age depois disso. Ela fica nervosa e ansiosa e isso se deve ao trabalho, no mínimo, discutível, do técnico Doriva Bueno. Em 10 jogos de Mundiais, ele venceu apenas um deles contra a ‘fortíssima’ Papua Nova Guiné por 9 a 0. Imagina se não temos que discutir, e muito, esse período do Doriva comandando o sub-20.”

 

Em relação às jogadores, o Brasil tem nomes que podem aparecer em breve na seleção principal?

Rafael Alves: “Essa sub-20 tem uma geração muito boa. Nós vimos a Kerolin, que joga na Ponte Preta e se destaca bastante há uns dois anos. Também temos a Ana Vitória, meia do Corinthians e destaque na Libertadores. Temos bons nomes que podemos lapidar. Queria ver atletas com Geisy, Kerolin, Ana Vitória, Isabele Fernandes e Ariadna. Essa sub-20 trouxe um número de atletas muito animador para se contar em eventuais convocações.”

 

No ano passado, a CBF demitiu a técnica Emily Lima na seleção principal após os resultados ruins. Por que a entidade não tomou a mesma atitude agora com o Doriva Bueno?

Rafael Alves: “Pode ser colocar na conta do Marco Aurélio Cunha [coordenador de futebol feminino da CBF]. Existem dois pesos e duas medidas. Aquela demissão não foi decidida pelo âmbito técnico, mas pelo pessoal. Isso fica cada vez mais claro quando ele mantém o Doriva e também o Luiz [Antônio Ribeiro], técnico do sub-17, após uma série de resultados pífios, em âmbito mundial. Usa-se muito como parâmetro o Sul-Americano e o Marco Aurélio gosta de citar muito. Antes dele, o Brasil já ganhava o Sul-Americano. Nós já batemos muita palma para o Sul-Americano e não pode mais lustrar o trabalho. Quando chega em âmbito mundial, o Brasil perdeu o bronze na Olimpíada para o Canadá e seleções de base caíram na primeira fase do Mundial.”

“Fica claro que o Marco Aurélio Cunha tem uma maneira de defender os seus pares. Não dá para a gente discutir. São 10 jogos e apenas uma vitória em o Mundial. Isso é muito pouco. Já a Emily teve 10 meses de trabalho, uma série terrível de derrotas, e foi demitida. Com o tempo mostrando que casos piores estão sendo permitidos, a gente ‘abre uma pulga atrás da orelha’ para imaginar o que aconteceu com a Emily não foi tão justo assim.”

 

E continuando no assunto da Emily Lima, a tendência era melhorar pelo planejamento feito.

Rafael Alves: “É só pensar que os primeiros resultados do Vadão, quando ele assumiu, foram contra times de menor expressão. E a Emily também. Mas ela teve a proposta de enfrentar times que estão a nossa frente e queria esse desafio para desenvolver o trabalho. Ela correu o risco. Já o Vadão, não. Quando enfrentou as seleções maiores, ele também perdeu.”

“Só que no caso do Vadão a gente está falando em dois anos e meio. Ele fez parte da preparação para a Olimpíada e agora depois do caso da Emily. O trabalho continua o mesmo, sem padrão de jogo, e terrível defensivamente. A gente não vê nenhuma evolução e as atletas são vítimas disso tudo. Eu falo diretamente da comissão técnica que é ultrapassada. Eu não tenho nada contra o Vadão, mas tem que questionar bastante os resultados.”

“A seleção feminina principal e na base passa por uma crise estrutural. A gente não vê uma seleção competitiva, mas uma seleção correndo que nem barata tonta. Isso se deve ao trabalho dos treinadores. Tem que se destacar também que a sub-20 joga da forma que queremos ver, coletivamente, mas é mal treinada. Já a principal é totalmente mal treinada.”

 

Como será a preparação do Brasil para a Copa do Mundo do ano que vem? Serão realizados amistosos contra seleções favoritas ao título ou de menor expressão?

Rafael Alves: “É uma incógnita. A gente sabe que tem o amistoso contra o Canadá, em setembro, mas depois não se sabe de muita confiança. É um problema que a gente vê nessa comissão técnica. A Emily, em 2017, já tinha uma agenda para 2018. A gente tinha um caminho a percorrer com ela, mas o Vadão estamos ‘no escuro’. Eu me preocupo um pouco porque não dá para saber se está escondendo o jogo ou não tem nenhuma organização em relação isso. Quem sabe pode disputar a Algarve Cup, uma mini Copa do Mundo, que agrega algumas das principais seleções do mundo e seria uma boa preparação para a Copa do Mundo.”

 

Durante a nossa conversa dá para perceber que o problema não está nas jogadores, mas sim nos dirigentes e na comissão técnica. 

Rafael Alves: “Sim, principalmente nos dirigentes. O Marco Aurélio tinha até uma proposta boa, mas se mostra ineficiente. O que o Brasil ganhou de diferente depois do Marco Aurélio Cunha. Ele não entra em campo, mas cuida da comissão técnica e da logística das meninas. Ele também faz parte do problema e digo que é boa parte do problema. Ele devia rever a permanência na seleção. Os maiores problemas na seleção passa por ele sim, seja pela análise de manter ou não pessoas no cargo ou pessoas para treinar alguma equipe. A volta do Vadão foi um grande retrocesso. A seleção feminina passa por uma crise estrutural e não sabemos que fim terá.”

 

Você tem alguma esperança que vá mudar essa estrutura do futebol feminino?

Rafael Alves: “Se for mudar de algum dirigente, tem que colocar alguém que viva o futebol feminino de fato. Temos a Aline Pelegrino, que está fazendo um excelente trabalho na Federação Paulista. Ainda temos outras gestoras que podem ter essa experiência na seleção. No caso da sub-20, nós temos a Daniela Alves, auxiliar do Doriva, que seria muito melhor como treinadora. As atletas precisam se encorajar caso queiram mudar. Caso não estejam satisfeitas, elas precisam deixar mais claro. Quando deixam, elas sofrem represálias porque não se unem. O dia que elas se unirem, eu vou acreditar em uma mudança.”

 

A Conmebol impõe para 2019 que todos os clubes participantes da Libertadores e Sul-Americana masculina tenha uma equipe feminina. Essa medida será importante para o crescimento do futebol feminino na América do Sul, mas, principalmente, no Brasil?

Rafael Alves: “A expectativa é que sim. A gente espera que os clubes entendam que o futebol feminino não é gasto, mas investimento. Eu concordo e acho necessário porque falo de atletas que não tem o mínimo para exercerem a sua função. Quando a Conmebol coloca isso como uma norma, eu acredito que muitos clubes vão entrar no futebol feminino com interesse de montar uma equipe. É claro que teremos muitos clubes que colocarão apenas a camiseta. Mas muitos vão aproveitar esse momento para montar equipes competitivas. Pode ser um início para um novo ciclo no futebol feminino no Brasil e também na América Latina como um todo.”

 

Com Banda B

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