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Destaque em preparação física e fisiologia esportiva, rondonense é contratado pelo Coritiba

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Rondonense Renan Nunes passou a integrar o departamento de preparação física do Coritiba, nesta semana (Foto: Arquivo pessoal)

Doutor em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Tecnológica de Sidney, na Austrália; mestrado e especialização na Universidade Federal do Paraná (UFPR); e bacharelado e docência na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Marechal Cândido Rondon, além de diversas pesquisas e consultorias na área de Ciência do Esporte.

O currículo acadêmico do rondonense Renan Nunes fala por si, e caso fosse de seu interesse, sua agenda em salas de aula, palestras, cursos e novas pesquisas científicas certamente estaria repleta. Mas, tal qual o menino que na infância corria atrás da bola com os irmãos mais velhos, Roberto e Robson Nunes, Renan gosta mesmo é de estar em campo. Literalmente.

Com experiência na preparação física e fisiologia esportiva em diferentes modalidades, colaborando para o desenvolvimento de atletas de ponta do futsal, tênis e vôlei de praia nos últimos anos Renan vem colecionando trabalhos carregados de elogios com equipes de futebol. Após se tornar doutor, o rondonense, hoje com de 36 anos, passou pelo Tubarão, de Santa Catarina, em 2019, e Ferroviária, de Araraquara (SP), no ano passado, com foco voltado à área da fisiologia esportiva.

Nesta semana, um grande salto na carreira profissional de Renan: trabalhar no departamento de preparação física do Coritiba. “Mudarei um pouco da fisiologia para a preparação física, coordenando os processos de treinamento de força, trazendo um pouco de ciência e auxiliando o preparador físico principal para realizar o trabalho de campo e fazendo esse link com a fisiologia, por ter essa facilidade. Também vou ajudar nos processos pedagógicos do clube como um todo, na formação continuada e na capacitação dos profissionais”, menciona.

 

Orgulho do caminho percorrido

Considerando o convite para trabalhar em um time da 1ª divisão do futebol brasileiro o grande momento de sua carreira até aqui, Renan olha para trás com orgulho do caminho que trilhou e valoriza cada etapa de sua trajetória pessoal, acadêmica e profissional. “Ficar longe da família e dos amigos são escolhas que fiz. Os caminhos acadêmico e profissional foram importantes, mas levaram tempo. Entendi que após o doutorado não iria cair em um grande clube de primeira, mas que teria um processo de ‘escadinha’. Não foi fácil, você faz escolhas, passa muito tempo trabalhando com outros esportes, com o próprio futebol em nível menor, e fica se cobrando em que momento você vai chegar a um grande clube ou porque isso ainda não aconteceu. Sou grato a todas as modalidades que trabalhei, como o futsal, onde fiz grande parte dos meus trabalhos científicos, a maioria deles na Copagril. Me envolvi com o Thiago Wild no tênis, com o ciclo olímpico da Ágatha e Duda no vôlei de praia, que consolidou uma parte profissional, e os clubes que trabalhei no futebol”, destaca Renan, fazendo questão de deixar claro a importância de unir as partes teórica e prática de seu trabalho. “Sempre me cobrei muito profissionalmente e sempre tentei associar a teoria com a prática. A resiliência para mim é um fator muito importante. Saí de casa para fazer um mestrado, doutorado, fiquei fora do país, voltei e me tornei pesquisador. Hoje tenho praticamente 40 artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, tenho um nome na ciência consolidado, mas sempre busquei usar essa ciência com um desfecho prático. Acredito que essa escolha do Coritiba foi por alguém com boa capacitação, um doutor, mas, acima de tudo, alguém que consiga levar essa capacitação para o dia a dia”, menciona.

 

Aproveitar a oportunidade

Ciente da cobrança que existe em um time da grandeza do Coxa, Renan quer aproveitar ao máximo essa nova oportunidade. “É um momento profissional muito importante, e a partir daqui tenho que seguir, saber dos desafios, da nossa importância e compreender que o futebol é muito dinâmico, vive de resultados e tudo pode mudar”, pontua.

Em entrevista ao Jornal O Presente, Renan Nunes falou sobre seu novo desafio como integrante do departamento de preparação física do Coritiba Foot Ball Club e os caminhos que o trouxeram até aqui. Confira.

 

O Presente (OP): O que significa pra você ter a oportunidade de trabalhar em um dos maiores times do Paraná e pela primeira vez fazer parte de uma comissão técnica que disputará a Série A do Campeonato Brasileiro?

Renan Nunes (RN): Veja essa oportunidade de chegar em um clube de Série A como uma consolidação profissional. Desde aquilo que fui realizando ao longo do tempo, com atividades práticas e acadêmicas, tinha certeza que em algum momento da minha carreira eu atingiria essa consolidação, mas tudo que construí lá atrás foi de extrema importância para chegar hoje em um grande clube, com grande experiência e conhecimento técnico, científico e principalmente aplicável, até porque o clube buscou pelo meu nome, não foi um processo seletivo, então vejo isso como algo muito relevante. Me sinto extremamente preparado. Sei que clube grande tem muita pressão por resultados, para deixar o atleta em um nível de performance muito grande, além do desafio desse calendário do futebol brasileiro, no qual, muitas vezes, se tem pouco tempo de treinamento e muitos jogos. Então, essa é a consolidação.

 

OP: No futebol, você já trabalhou em equipes com menor expressão em nível nacional, casos do Tubarão e Ferroviária, antes de chegar ao Coritiba. Você projetava uma ascensão tão rápida na sua carreira?

RN: Minha carreira é curta. Quando encerrei meu doutorado, recebi o convite para trabalhar no Tubarão, um clube-empresa onde a ideia era consolidar esse trabalho da fisiologia e também criar processos internos, como uma formação continuada dentro da produção de conhecimento científico. Lá fizemos um trabalho muito legal da base até o profissional, com processos, organização e modelos de treinamentos pautados na ciência. Na minha ida à Ferroviária, aumentou um pouco o sarrafo. Embora seja um clube de Série D do Brasileiro, disputa o principal campeonato estadual do Brasil, que é o Paulista, sendo que grande parte dos atletas que estão envolvidos nas séries A e B do Brasileiro vêm para o mercado paulista para disputar o Estadual. A própria experiência com atletas e treinadores mais renomados, como o Pintado e o Elano, com quem criei uma grande relação de trabalho, também colocou um tijolinho a mais na minha carreira profissional. Da mesma forma que o Tubarão, a Ferroviária é um clube-empresa, onde também criamos esses projetos paralelos, que são trabalhos muito legais. Então, esse é um grande momento pra mim. Criei uma base em um clube menor, fui para um time de maior referência, que fez quartas de final contra o São Paulo no Campeonato Paulista, e agora dou um passo maior vindo para um time de Série A. É uma trajetória que já projetava e imaginava que poderia acontecer. Embora seja uma ascensão rápida, se olhar para trás e ver tudo o que foi feito ao longo do tempo, não só no futebol, mas também em outras modalidades, acho que tudo aconteceu dentro do período necessário para chegar nesse importante momento da minha carreira profissional.

Ano passado, Renan Nunes trabalhou na Ferroviária (SP) (Foto: Arquivo Pessoal)

 

OP: Em que momento dos seus estudos você optou por se especializar em fisiologia esportiva, um ramo ainda não muito conhecido do grande público, e como você poderia explicar de forma simplificada o trabalho realizado pelo fisiologista com jogadores de futebol de alto nível?

RN: Posso falar que a fisiologia aplicada ao esporte coletivo e a parte do treinamento são muito próximas. Ao longo do tempo, desde quando comecei como auxiliar de preparação física do Roberto (Nunes) na Copagril, onde já fazíamos algumas avaliações e treinamentos de força, já sentia a necessidade de compreender como o corpo do atleta respondia a esses estímulos. Hoje, basicamente, a fisiologia envolve o entendimento das respostas perceptuais do atleta, como está seu nível de sono, de cansaço, dores musculares, associadas a respostas bioquímicas do atleta, como sintomas de fadiga e inflamações após 24 ou 48 horas de um jogo. Monitoramos a parte neuromuscular para saber se ele está diminuindo ou aumentando a altura de um salto durante a semana, por exemplo. Fazemos uma compreensão das informações que os atletas percorrem no treino ou no jogo, através de dispositivos de GPS, avaliando de que maneira o coração, que chamamos de carga interna, está sendo afetado. A fisiologia, basicamente, embora seja complexa, colhe essas informações e dá um ‘feedback’ para a preparação física e o treinador de uma ideia de treinamento. A fisiologia e a preparação física caminham juntas, porque a partir destes dados teremos tomadas de decisões, como o tipo de atividade, a carga e a intensidade que o atleta fará no treinamento e como será a reação de seu corpo perante ao estímulo proposto.

 

Renan tem experiência na preparação física e fisiologia esportiva em diferentes modalidades (Foto: Arquivo Pessoal)

 

OP: Você tem grande experiência com atletas de outros esportes, como futsal, tênis e vôlei de praia. De que maneira é elaborado o trabalho com cada tipo de atleta? A preparação física é muito diferente em cada caso?

RN: Para cada modalidade existe uma especificidade daquilo que o atleta realiza em jogo. Se entendermos a complexidade e as capacidades de condicionamento de cada um desses esportes, há um direcionamento maior para um modelo ou outro de treinamento. No futebol, o atleta precisa de resistência para suportar os 90 minutos, precisa de força no arranque, nos chutes e cabeceio, e também de velocidade, para chegar antes na bola, mas tem peculiaridades devido à dimensão do campo e na distância percorrida, em média dez quilômetros. No futsal, embora tenha uma característica parecida com o futebol em termos de gesto técnico, o estresse causado dentro do jogo, com muita intensidade, frenagem e mudança de direção, muda um pouco até pela dimensão do campo e demanda dos atletas. Já no tênis, o atleta faz muitas ações de acelerar e frear, rotações de tronco, movimentos curtos, embora possa ser de minutagem mais longa. No vôlei de praia, no qual tive uma experiência no último ciclo olímpico e fizemos um estudo divulgado em revista internacional mostrando qual é a demanda de um atleta, que corre cerca de 2,5 mil metros, mas com muitos saltos e na areia, que não gera tanto estresse no corpo. Para cada modalidade tem que haver uma compreensão e existe uma especificidade e direcionamento de treinamentos, tanto de quadra como de força.

 

OP: O fato de ter sido atleta e ter irmãos ligados ao futebol e futsal facilitaram a escolha por trilhar esse caminho da Educação Física? E de que maneira mantém a relação com o esporte rondonense após alguns anos estudando e trabalhando em outras cidades?

RN: Com certeza. Toda essa escolha profissional tem uma relação muito grande com a parte pessoal, tanto na infância como na adolescência. Acompanhei muito o Roberto jogando profissionalmente, indo para o estádio, torcendo, com aquele sonho de ser jogador, vivenciar o vestiário. Fui criando essa vontade. O Robson, por ser treinador, também ter jogado, com a própria academia, envolvido com exercícios e treinamentos, fizeram eu escolher de ter me tornado profissional de Educação Física. Embora o sonho, em um primeiro momento, era ser atleta, jogador de alto rendimento, ao longo do tempo as escolhas foram conduzidas pelo lado profissional, e Marechal me proporcionou isso. Sou grato aos professores que entraram em minha vida e me conduziram a sempre estar envolvido na prática esportiva. Em um primeiro momento mais na parte de desempenho, depois na parte social e hoje é meu ambiente de trabalho. O esporte é minha vida hoje. Então, essa relação é muito importante nas minhas escolhas profissionais.

 

OP: Ter a oportunidade de trabalhar com o futebol profissional, mesmo que seja fora das quatro linhas, cumpre de alguma maneira o sonho de quase todo menino que cresceu jogando bola, como também foi o seu caso, de ser jogador?

RN: Já comentei muito sobre isso com colegas, tanto na Ferroviária como no Tubarão. Parece que em certos momentos não é seu trabalho, mas algo que faz parte daquilo que você realmente gosta. Futebol também é muito cansativo, estressante, não tem fim de semana, feriado, cada jogo é uma relação muito grande de emoção com desempenho. Então, tem essa questão que mistura um pouco, trabalhar com algo que você sempre gostou, isso faz muito sentido. É diferente de ser uma escolha profissional. Quando trabalhava como professor universitário, era algo que gostava, mas confesso que trabalhar com esporte de alto rendimento, com atletas e ver o resultado esportivo, ver isso relacionado com a emoção, cumpre um pouco daquele desejo que lá atrás não foi realizado. O futebol e o futsal têm um pouco disso. Grande parte dos profissionais que acabam envolvidos e trabalhando com esporte de alto rendimento é porque em algum momento não tiveram o sucesso esportivo individual e buscam, por gostarem da modalidade, incessantemente a melhora da performance atlética. Posso dizer que sou uma pessoa privilegiada. Minhas escolhas e aquilo que conquistei lá atrás me trouxeram até onde estou hoje.

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