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Coronavírus: Paraná registra seis mortes por dia com suspeita ou confirmação da Covid-19

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(Foto: Divulgação)

Em cinco horas, a aposentada Rosângela Inês Sartori, de 61 anos, recebeu a notícia da morte e viu o marido, Roberto Antônio Sartori, de 72 anos, ser enterrado com suspeita do novo coronavírus, em Curitiba. Ela não pôde velar o companheiro de 44 anos de casamento. “Muito triste. Foi a pior parte”, afirma.

O Paraná registra, em média, seis mortes por dia com suspeita ou confirmação da Covid-19, segundo dados do Portal da Transparência do Registro Civil, com base nas certidões de óbitos. No país, a média diária é de 334. Entre 19 de março e as 17 horas de terça (26), foram 411 mortes no estado.

O número é mais que o dobro dos 159 óbitos confirmados até a terça pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), além dos 3,3 mil casos. Nesta quarta (27), o Paraná completa dois meses desde a confirmação oficial das primeiras mortes causadas pela doença.

(Gráfico: Sesa)

O marido de Rosângela, que acumulava problemas de saúde há meses, não constará nas estatísticas oficiais da Covid-19. Apesar da infecção respiratória, sete dias depois da morte, que foi em 16 de abril, ela recebeu o resultado negativo. Nenhum diagnóstico aliviaria a dor. “Já perdi ele mesmo”, desabafa.

Se houver interesse, a aposentada poderá pedir a retirada da suspeita da certidão de óbito com o resultado do exame. Ela não decidiu. A Sesa informou que pretende fazer a checagem das suspeitas informadas nos registros para incluir os casos positivos no monitoramento do estado.

“O que tiver coleta para exame vamos ver o resultado e o que não tiver será pelo critério clínico-epidemiológico, com o maior rigor técnico e científico”, diz a diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Sesa, Maria Goretti David Lopes. Ainda não há prazo para isso.

(Gráfico: Portal da Transparência do Registro Civil)

A pandemia impôs restrições para velórios e enterros. Roberto Antônio era morador de Colombo, na Região de Curitiba, mas foi sepultado no jazigo da família na capital, no Cemitério Santa Cândida. Em Curitiba, são permitidos velórios quando não há suspeita e por até por duas horas.

Passada a revolta da despedida apressada e com caixão fechado, Rosângela prefere reconhecer que muitas famílias nem isso puderam. O casal tem dois filhos, de 33 e 38 anos, e um neto, de 12 anos.

“Um homem muito amado, trabalhador a vida inteira. Teve a vida que quis, gostava das coisinhas simples dele. Assim foi Roberto”, define a mulher.

 

SITUAÇÃO DO ESTADO

No momento, o avanço da pandemia no estado é tido como controlado. A taxa de mortes por Covid-19 por milhão de habitantes é de 14 no Paraná, conforme a Sesa. No Brasil, a taxa é de 111 óbitos por milhão de habitante.

O crescimento da capacidade de testagem no estado, que deve chegar a 5,6 mil exames diários, vai aumentar o número de casos confirmados e, por outro lado, reduzir a taxa de letalidade da doença, avalia a diretora de Atenção e Epidemiologia da Sesa.

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Segundo ela, independentemente da subnotificação, os casos graves são conhecidos por causa do monitoramento dos leitos de enfermaria e UTIs, feito pelo sistema estadual de regulação. A taxa de ocupação de leitos adultos não chegou a 40% até o momento.

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A chegada do inverno, em menos de um mês, e o reflexo da redução de medidas como reabertura de shoppings e igrejas, são pontos de atenção.

“É uma situação que pode mudar a qualquer momento. Tudo que se faz hoje, não enxergamos hoje. Temos que continuar monitorando de perto”, afirma o médico Jaime Rocha, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Rocha explica que no inverno há mais ocorrência de casos de infecções respiratórias. Isso é motivo de preocupação para a secretaria estadual. “Sabendo disso, insistimos nas medidas de proteção, distanciamento e isolamento social”, destaca Maria Goretti, diretora da Sesa.

(Gráfico: Portal da Transparência do Registro Civil)

 

CIDADES COM MAIS DE 50 MORTES

O monitoramento feito com base nas certidões de óbito aponta Curitiba e Londrina, no norte do estado, como as únicas cidades do Paraná com mais de 50 mortes com suspeita ou confirmação da Covid-19. Londrina, inclusive, tem mais registros do que a capital, 127 contra 73.

Segundo o boletim da Sesa, Curitiba registra 37 óbitos e Londrina tem 20. Já as secretarias municipais, informam 39 mortes na capital e os mesmos 20 na cidade do norte. Em Londrina, a diferença entre os registros é mais do que seis vezes maior.

A reportagem questionou a prefeitura para tentar entender o motivo para a diferença. Por meio de nota, o município informou apenas que considera como oficiais os dados da própria secretaria e da Sesa, “porque os números de registros em cartório trazem falsos positivos”.

 

CERTIDÕES DE ÓBITOS

A presidente do Instituto de Registro Civil do Paraná (Irpen), Elisabeth Vedovatto, explica que quando a pessoa morre o médico assina uma declaração do falecimento, contendo as causas – até mesmo suspeitas.

De acordo com o infectologista Jaime Rocha, existem diversas discussões sendo feitas no país, em meio à pandemia, sobre como preencher em casos em que não há exames conclusivos ou até quando o óbito ocorre logo após o paciente dar entrada em um hospital.

“O Conselho Federal de Medicina tem aulas disponíveis mostrando quais são os pontos que os médicos devem ter atenção para preencher da melhor forma possível esse atestado”, indica.

O prazo legal para registro do óbito é de 24 horas, mas a situação atual estendeu para 90 dias, explica a presidente do Irpen. “O registro é feito exatamente da forma que vem a declaração do médico, não podemos modificar”, afirma.

Os dados do Portal da Transparência do Registro Civil são atualizados diversas vezes ao longo do dia por todos os cartórios brasileiros. No Paraná, são 519 de registro civil – que estão com atendimento ao público.

Elisabeth afirma ainda que um agravamento da situação no Paraná poderia levar a medidas de exceção nos registros dos óbitos, permitindo o sepultamento de pessoas sem identificação, por exemplo.

 

Com G1

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