Geral "Nasci de novo"
Depois de ser intubado, ir para UTI e ter 90% dos pulmões comprometidos, Samek fala da sua luta contra a Covid
Houve um dia especialmente crítico para os muitos amigos do ex-diretor-geral de Itaipu, Jorge Miguel Samek, na segunda quinzena de março último.
Certo portal de notícias chegou a noticiar a morte do paciente, para, logo em seguida, deletar o link.
De fato, o caso era grave e deixa muitas lições em um momento que a maioria da população continua vulnerável ao vírus mais matador desta geração sapiens.
Com as informações desencontradas – e fake news que “matavam” o paciente -, a família organizou-se para emitir notas oficiais. O incumbido de tal tarefa foi o amigo de longa data e ex-colega de Itaipu, Joel de Lima.
No dia 17 de março, Lima fez chegar ao zap dos jornalistas o primeiro boletim médico. Samek estava internado na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Angelina Caron, na Região Metropolitana de Curitiba. Foi preciso vacinar os “urubus” primeiro.
“A família de Jorge Samek vem a público trazer a informação sobre o real estado de saúde e desmentir boatos que circulam pela internet e redes sociais”, introduzia a nota. Naquela ocasião, o boletim já confirmava a intubação, ocorrida no dia 16 de março e agradecia mensagens de apoio e orações.
Na nota seguinte, em 19 de março, o alívio. A retirada da sedação e a extubação, termo que infelizmente passou a compor o vocabulário de milhões de brasileiros por força da pandemia.
Os momentos mais difíceis logo após a sedação do paciente – até para preservá-lo – não vieram a público. Porém, provocado pelo Pitoco, Jorge Samek aceitou gravar um áudio relatando aqueles momentos. Com a voz ainda rouca, prejudicada pelas lesões na garganta geradas no processo de intubação, relatou episódios que trazem ensinamentos para todos os que ainda estão vulneráveis ao coronavírus.
Samek demorou demais para agir. Após receber o exame em que positivou para a Covid-19, sentindo-se bem, imaginou que teria apenas sintomas leves, ou mesmo que seria assintomático.
Entretanto, não foi assim que os fatos se desdobraram (veja abaixo o relato em primeira pessoa).
EXPERIÊNCIA FORA DO CORPO
O diretor-geral mais longevo da história da Itaipu Binacional (14 anos) foi longe em seu “mergulho” na escuridão da UTI. E revela um sonho que remete para centenas de estudos científicos. É a experiência denominada “quase-morte”, também conhecida como “experiência fora do corpo”, entre outras nomenclaturas.
O fenômeno é visto por estudiosos do espiritismo e parapsicólogos como evidências de vida após a morte. Já os cientistas reduzem o fenômeno a alucinações resultantes de perda de consciência profunda.
No “quase-morte”, Jorge Samek teve uma incrível experiência: reencontrou em sonho ou alucinação ninguém menos que a esposa, Maria Olívia, falecida há dois anos.
DEPOIMENTO
“Rapaz, que sufoco!”
Por Jorge Samek
TESTE POSITIVO
“Rapaz do céu, que sufoco… não tem ideia do que passei, cara. Estava, no dia 03 de março, com minha vida absolutamente normal, me exercitando, trabalhando, tinha ido ao sítio, de repente, não mais que de repente, fiquei indisposto, decidi fazer um exame. Testei positivo, não tive febre, não perdi olfato nem paladar, me sentia assintomático. Me isolei, achando que teria sintomas leves, e que não teria problemas maiores”.
OFEGANTE
“Cometi o equívoco de não comunicar ninguém, mas lá pelo quinto ou sexto dia, comecei a ficar ofegante. Então, comuniquei minha filha Fernanda, enfermeira. Correu a me visitar, providenciou tomografia e exame de sangue. Ali já apontava comprometimento de 20% do pulmão e os indicadores do sangue fora da margem de segurança”.
MUITO RÁPIDO
“Fui internado no (Hospital) Angelina Caron. No dia seguinte já avançou para 50% dos pulmões. É coisa rápida, como ataque de cigarrinha nas pastagens. Num dia não se vê quase nada, no outro tá dominado, é desse jeito. Fui para UTI, piorei, mais de 90% de comprometimento dos pulmões, aí os médicos me intubaram”.
APAGÃO E SONHO
“Passei quatro dias intubado. Não lembro de absolutamente nada. É o sono mais profundo que você possa imaginar. Lá pelo quarto ou quinto dia, tive o sonho mais lindo de minha vida. No sítio, muito verde, água abundante, e minha mulher, Maria Olivia, junto com três amigas, me mostrando filhotes de tartaruga, quero-quero, beija-flor saindo do ovo, marreco, eu admirado. E a Maria Olivia e amigas rindo de minha reação”.
ESPANTALHO
“No sonho, me vi em um misto de choro com alegria. Foi assim que eu nasci de novo e saí da intubação, foi assim que acordei. Permaneci mais uma semana na UTI, dali a pouco veio comidinha quente, passei para o quarto, a voz foi voltando. Perdi oito quilos. Já sou magro, agora pareço um espantalho, garganta muito machucada pela intubação. Agora estou com apetite de leão, nunca comi com tanto prazer. Como de tudo, tenho me refestelado. Estou em casa desde o início do mês, fazendo fisioterapia, lendo tudo sobre criação de angus, agronegócio, relendo a história do Paraná, fiz uma rotina que me absorve o dia todo…”.
FORÇA DA MENSAGEM
“Têm sido uma delícia os meus dias. Estou a cada dia melhor. Quero agradecer todas as mensagens, orações que recebi dos amigos. Só quem passa por uma situação como essa consegue entender a força de uma mensagem de carinho. Minha gratidão aos profissionais do hospital e a todos que estiveram por mim”.
ENTENDA:
O que é quase-morte?
O termo experiência de quase-morte (ou EQM) refere-se a um conjunto de visões e sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente. A mais divulgada é a projeção da consciência (também chamada de “projeção astral”, “experiência fora do corpo”, “desdobramento espiritual”, “emancipação da alma” etc.).
Relatos falam em “sensação de serenidade” e “experiência do túnel”. Parapsicólogos e espiritualistas interpretam estas experiências como supostas provas ou evidências do dualismo mente-cérebro e da vida após a morte.
Por outro lado, médicos e cientistas apontam as EQMs como características de alucinações que, durante o estado de coma ou perda de consciência profunda, surgem sob determinadas condições de estresse físico e neurológico.
As características mais relatadas são:
- A paz
No início da experiência, a dor desaparece. Somem também as noções de tempo e espaço. A pessoa é tomada por um sentimento indescritível de paz e serenidade. Essa fase ocorre em cerca de 60% das EQMs
- A viagem
A sensação é de se desprender do corpo físico e flutuar. Muitos dizem ver e ouvir o que se passa no ambiente em que o corpo está. Outros vão a lugares distantes – há até viagens espaciais.
- O túnel
Segue-se uma etapa transitória de escuridão. São comuns as descrições de viagens muito velozes por um túnel, como se a pessoa estivesse sendo tragada por um aspirador de pó gigante.
- A luz
No fim desse túnel, quase sempre há uma luz. Sobreviventes de experiência de quase-morte dizem que essa é a luz mais brilhante que poderia existir no Universo e, ainda assim, não ofusca a visão.
- A fronteira
Em cerca de 10% dos casos, a pessoa relata entrar na luz do fim do túnel. Além dela, há ambientes paradisíacos e um limite que, se for ultrapassado, tornaria a morte irreversível. A pessoa acorda em seu corpo e volta a sentir dor.
- Retrospectiva
A pessoa recorda vividamente todos os fatos de sua vida – não é comum que essa lembrança apareça de uma vez, fugindo do conceito terreno de tempo.
- Companhia
Alguns relatos de EQMs incluem encontros com os espíritos de parentes mortos. Ou de amigos mortos. Ou com conhecidos vivos ou ainda completos desconhecidos.
- O ser iluminado
Mesmo pessoas sem religião narram encontros com uma entidade bondosa, caridosa e acolhedora. Quando lhe atribuem uma identidade, ela varia de acordo com a fé.
- Conhecimento global
Durante a EQM, a pessoa pode vir a encontrar uma esfera que encerra todo o conhecimento do Universo. O ego desaparece, tudo e todos passam a ser uma coisa só.
Fonte: revista Superinteressante, reportagem “A Fronteira da Morte”.
Com Pitoco