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Em 20 anos metade do clero da Diocese de Toledo estará acima dos 75 anos

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reitor do Seminário São Cura D'Ars, de Quatro Pontes, alerta para a necessidade de tratar das vocações de forma mais acentuada (Foto: Leme Caomunicação)

 

Em 20 anos, estima-se que a Diocese de Toledo tenha metade do seu clero acima dos 75 anos.

O alerta vem do padre Marcelo Ribeiro da Silva, reitor do Seminário São Cura D’Ars, de Quatro Pontes, ao explicar que esta não é a realidade atual, mas é algo que se lança como um desafio a ser superado. “Este é um fato que surpreende a comunidade, mas precisa ser abordado, pois se não tratarmos do tema das vocações mais acentuadamente isso vai implicar em consequências muito sérias no futuro da nossa diocese, que é a falta de padres”, diz.

Hoje, a Diocese de Toledo compreende 19 municípios: Guaíra, Terra Roxa, Palotina, Maripá, Mercedes, Nova Santa Rosa, Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, Ouro Verde do Oeste, São Pedro do Iguaçu, Assis Chateaubriand, Tupãssi, Nova Aurora, Jesuítas, Formosa do Oeste, Iracema do Oeste e Toledo. Ao todo são 31 paróquias e 38 padres diocesanos. “Dentro da perspectiva de 20 anos, teremos 19 padres acima dos 75 anos. Esta é uma idade em que as pessoas ainda estão bastante ativas, entretanto, para um padre, com todas as suas funções na paróquia, é o momento que o trabalho precisa diminuir”, menciona.

Para o reitor do seminário, é necessário que a comunidade católica compreenda que o futuro da diocese não depende apenas do próprio seminário, mas também das paróquias e suas comunidades, a fim de que incentivem cada vez mais as vocações. “Não sei se em 20 anos vamos ordenar 19 novos padres, possivelmente não, mas podemos lançar as bases para um futuro mais promissor”, reflete.

Por outro lado, padre Marcelo ressalta que desde sua ordenação, em 2012, foram ordenados junto a ele oito padres jovens. “Não é que não tenham padres mais jovens na nossa diocese, mas essa renovação não pode parar de acontecer. Se os seminários não ganharem o peso que precisam ter de formação de padres, tendo a preocupação dos cristãos católicos, podemos minguar”, alerta.

 

Formação religiosa

Atualmente, o Seminário São Cura D’Ars conta com um grupo de 14 jovens. Entretanto, no passado, a casa já chegou a acolher 50 rapazes. “Quando comparamos esses números, é necessário pensar não somente no aspecto negativo, de termos menos rapazes em formação, especialmente porque no passado o seminário não era uma casa de formação religiosa apenas”, ressalta.

O reitor lembra que, antigamente, boa parte das pessoas buscava o seminário como um recurso para sua formação educacional. “As famílias eram maiores e, muitas vezes, o pai dizia ‘Se pelo menos um dos meus filhos for para o seminário, ele terá estudo e, se Deus quiser, será padre’”, enaltece.

Hoje, compartilha o padre, a formação educacional está muito mais acessível. A região Oeste conta com diversos cursos de graduação, em universidades públicas e privadas, por isso, acrescenta ele, o seminário já não é mais procurado em vista do estudo. “O nosso critério para ingresso também mudou. Hoje observamos muito se a pessoa demonstra sinais de vocação”, pontua.

Padre Marcelo explica que o processo de formação de um pastor, no sentido de um homem capaz de cuidar dos outros, de uma comunidade, dura em torno de dez a 12 anos.

Inicialmente, os jovens são acolhidos em casas menores, como é o caso do Seminário São Cura D’Ars, que recebe meninos a partir dos 14 anos, quando ingressam no 1º ano do Ensino Médio. “Depois de passarem os três anos do Ensino Médio conosco, eles vão a Toledo, onde passam pela formação em Filosofia durante quatro anos, e depois seguem para a formação em Teologia, feita em Curitiba, em mais quatro anos”, detalha.

O foco de um seminário menor, expõe o reitor, é prioritariamente a formação humana. O objetivo é ajudar que o jovem tenha condições de ser um homem bom, em um processo de ajudá-lo a se descobrir como pessoa, ter amor próprio, a acolher bem as pessoas e a se posicionar diante da vida. “Essa etapa inicial que forma a dimensão humana é critério para as etapas posteriores, porque um líder religioso não se forma da noite para o dia”, afirma.

 

Rotina

Padre Marcelo diz que o dia a dia dos seminaristas não foge do cotidiano de um rapaz comum. No Seminário São Cura D’Ars, pela manhã os jovens têm a oração da manhã ou uma missa e, após o café da manhã, seguem para o colégio. Na parte da tarde, as atividades envolvem horários para o estudo, prática de esportes e trabalhos da casa.

Um dos aspectos de grande importância para a formação religiosa, destaca o reitor do seminário, é o vínculo do seminarista com sua família. “Os pais são muito presentes em eventos e reuniões realizadas pelo seminário”, comenta.

No primeiro semestre, os jovens vão para suas casas a cada 15 dias, intervalo que aumenta com o passar do tempo a fim de que seja formada a dinâmica de proximidade da família, mas também de crescimento pessoal. “Os meninos que estão aqui em formação são aqueles que em algum momento da vida sentiram-se interessados, vieram conhecer o seminário e abriram um horizonte de possibilidades que antes não tinham. Mais do que uma decisão de ser padre, estar no seminário é uma busca de respostas a questionamentos internos sobre a vida”, opina.

 

Descobrimento

O reitor do seminário salienta que nenhum jovem que ingressa na formação deve, obrigatoriamente, ser padre. “Todos eles entram para o seminário sabendo que este é um caminho de liberdade de escolha, é um ambiente de possibilidades”, esclarece.

Em meio ao processo de formação religiosa, são diversos os motivos para que um rapaz não queira tornar-se padre. Um dos principais salientados por padre Marcelo é a inconstância do jovem. “Ele vai fazendo experiências, tendo descobertas e compreendendo se tem afeição a determinados aspectos ou não. Mas o importante é que, caso ele saia do seminário, ele saia bem, um homem inteiro, que tenha boas lembranças e principalmente que tenha crescido enquanto pessoa”, enfatiza.

Apesar disso, ele ressalta que o seminário oferece uma formação humana e religiosa que poucas pessoas possuem, como, por exemplo, ter o acompanhamento de formadores 24 horas por dia, estudar em instituições de ensino de qualidade, atendimento pedagógico e psicológico, além de participar de uma experiência em comunidade. “Todos esses aspectos são importantes para formar um líder completo, que no futuro seja capaz de cuidar das outras pessoas, mas no decorrer desse caminho pode acontecer de o jovem não se identificar com a função religiosa”, declara.

 

Manutenção

Assim como os demais seminários da Diocese de Toledo, o Seminário São Cura D’Ars é mantido pelos repasses da Mitra Diocesana de Toledo, com valores oriundos do dízimo recebido em todas as paróquias da diocese. “Todos os dizimistas das paróquias estão contribuindo para a manutenção dos gastos ordinários do seminário, como funcionários, escola, alimentação, entre outros”, relata.

À parte disso, explica o reitor da casa, há investimentos feitos para manter a estrutura do seminário, que tem os recursos oriundos dos eventos promovidos pela instituição. “Um dos principais eventos é a Festa do Seminário, que já acontece há mais de 20 anos e tem proporções diocesanas”, conta.

Mais do que angariar fundos, padre Marcelo evidencia que a Festa do Seminário tem dimensão simbólica em primeiro lugar, já que as pessoas que participam do evento conhecem a estrutura do seminário e os jovens da casa, o que gera confiança e credibilidade ao local. “E é isso que precisamos para continuar trabalhando: a confiança e a credibilidade das comunidades”, conclui.

 

Em tempo

Neste ano, a Festa do Seminário acontecerá no dia 07 de abril, com o tradicional costelão assado no fogo de chão. As fichas para o evento estão sendo comercializadas ao valor de R$ 32. Mais informações podem ser obtidas no Seminário São Cura D’Ars pelo telefone (45) 3279-1259.

 

(Foto: Leme Comunicação)

 

Atividades dos seminaristas envolvem horários de estudo, esporte, trabalhos na casa e ensaios para as celebrações na Paróquia Nossa Senhora da Glória (Foto: Leme Comunicação)

 

 

“Se não tratarmos do tema das vocações mais acentuadamente isso vai implicar em consequências muito sérias no futuro da nossa diocese, que é a falta de padres”

 

 

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