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Geral Fartura de proteína

Há quase três anos sem pescaria oficial, Lago Municipal de Cascavel fervilha

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Lago Municipal de Cascavel é refúgio de milhares de “peixes esquecidos”: epidemia tirou manejo do calendário (Foto: Nery Cardoso)

Quando, no auge do susto inicial com a pandemia, no ano passado, do nada surgiu uma atualização da notícia do boleiro preso no Paraguai. E alguém surpreso saiu-se com essa:

– Puxa, é tanta confusão aqui com a pandemia que esquecemos o Ronaldinho preso no Paraguai!

Seria assim também com os peixes do Lago Municipal de Cascavel? Esquecemos os cardumes lá?

Em um olhar de leigo, a partir do mirante da barragem, é possível ver a olho nu centenas de peixes aglomerados, aguardando alimentação por populares.

Há várias espécies ali: bagres, curimba, pacu, tilápia, muçum e lambaris, entre outras. No topo da cadeia alimentar está a traíra. “Só na região do Centro Cívico para encontrar traíra maior que aqui no Lago”, disse um servidor do Meio Ambiente.

A questão é: sem a despesca periódica, que tirou toneladas de peixe do local em 2018 – havia quase dez mil pescadores inscritos – pode acontecer um processo de canibalização no Lago, como acontece nos aviários quando falta ração? Peixes passam fome?

E essa fartura toda de proteína que põe toneladas de carne ao alcance de uma rede poderia ser usada na mitigação social de famílias cascavelenses vulneráveis, cuja situação se agravou com a pandemia?

A professora da Unioeste, Rosilene Luciana Delariva, doutora em Ecologia aquática, põe reparos neste “fome zero” a partir das tilápias e traíras do Lago Municipal.

Segundo ela, é preciso estabelecer um plano de manejo para obter respostas às seguintes perguntas: 1) há de fato superpopulação no Lago? 2) qual a condição sanitária dos peixes?

Na pescaria de 2018, a doutora e sua equipe catalogaram as espécies ali presentes. Embora a traíra esteja no topo da cadeia, o animal mais abundante é o exótico, a tilápia.

Antes de liberar varas e anzóis, estudou-se a saúde dos bichos. O lago tem longo histórico de contaminação por metais pesados e resíduos de combustíveis.

Aproveitar essa fartura toda nos restaurantes populares ou distribuir pela ação social? A doutora discorda. “Já há programas de governo para atender essas vulnerabilidades”, opina ela.

A especialista não crê em canibalização, mesmo que isso esteja previsto até em adágio popular: os peixes maiores devoram os menores e, de alguma forma, restabelecem o equilíbrio populacional.

 

Nota 1: O monstro do Lago Ness não foi encontrado no estudo de 2018 e nem a posterior.

Nota 2: Indiferentes ao Ronaldinho preso ou à pandemia, e nem aí para metais pesados ou onças urbanas, toda madrugada uma galera entra pela mata adjacente ao loteamento Itaipu e molha a minhoca no lago – estabelecendo um controle marginal e impune da fauna piscícola local.

 

Por Jairo Eduardo, editor do Pitoco

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