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Meio Ambiente, agronegócio e cooperativismo – por Urbano Mertz 

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(Foto: Divulgação)

O agronegócio brasileiro está sendo cobrado por ações de preservação ambiental. Muitos dizem que esta cobrança tem um viés “ideológico” ou decorre de “interesses comerciais” de governos, ONGs ou concorrentes de outros países. No entanto, também podemos afirmar que resultam de uma preocupação real com a sobrevivência da humanidade nas próximas décadas.

As cobranças decorrem das evidências de mudanças climáticas no planeta, comprovadas em eventos nunca antes observados com tal intensidade, tais como ondas de calor fora do comum, derretimento das geleiras, elevação do nível do mar, mudança do regime de chuvas e desertificação de áreas antes cultivadas.

O aquecimento global já é um “consenso científico”, isto é, 95% dos estudos publicados nas revistas científicas de maior prestígio do mundo demonstram que ações humanas estão alterando o clima do planeta.

O Brasil também é cobrado por compromissos assumidos em diversos protocolos internacionais, desde a conferência Rio 92 ao Acordo Paris, em 2015, e também pelo cumprimento das metas assumidas na Política Nacional sobre Mudanças do Clima, aprovada pelo Congresso em 2009, regulamentada em 2010 e protocolada na ONU em 2016.

O setor agropecuário brasileiro responde por cerca de 30% das emissões brasileiras e 7% das emissões globais de Gases de Efeito Estufa (GEE: Gás Carbônico, Metano e Óxido Nitroso). Por isso foi implantado o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC), que é um dos programas da Política Nacional sobre Mudanças do Clima.

O Programa ABC tem sete subprogramas, tendo seis com metas físicas de redução de emissão de carbono a serem alcançadas até este ano de 2020. Já foram alcançadas as metas dos Programas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Sistema de Plantio Direto e Fixação Biológica de Nitrogênio. Estão abaixo dos 50% as metas de Recuperação de Pastagens Degradadas, Florestas Comerciais Plantadas e Tratamento de Dejetos Animais.

Cooperativas podem acessar recursos do Programa ABC através de bancos oficiais de investimento e repassar aos associados com juros de 4,5% a 6% ao ano, com prazo de até 12 anos para pagar. Pelo seu potencial financeiro e natureza social, as cooperativas podem colaborar muito no enfrentamento às mudanças climáticas, implantando linhas do Programa ABC ou de outras fontes nas estruturas próprias e nas propriedades dos associados.

Os programas e projetos em defesa do meio ambiente pelas cooperativas não podem ser vistos apenas como condicionantes de acesso ao mercado de commodities, mas como projetos de sobrevivência, pois o comportamento do clima e a disponibilidade de água já nos afetam, e, como atesta a ciência, tendem a se agravar, caso nada for feito. 

Entre as sete maiores cooperativas singulares que atuam na região Oeste do Paraná, observamos que, em 2019, somente uma delas elaborou um Relatório de Sustentabilidade, relatando diversos programas voltados ao meio ambiente. Esta cooperativa está um passo à frente das demais, pois já atende às cobranças do mercado externo e contribui para a sua própria sustentabilidade.

 

Urbano Mertz é engenheiro agrônomo do IDR-Paraná e presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon

urbano@idr.pr.gov.br

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