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Os males da falta e do excesso de medicamentos no país e no mundo – por Dilceu Sperafico

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Foto: Divulgação

Por mais contraditório e absurdo que possa parecer, não são apenas as dificuldades para aquisição em farmácias ou obtenção de medicamentos prescritos por profissionais de medicina, em unidades de saúde pública, por parte de pessoas de baixa renda, que resultam no agravamento de enfermidades e até no óbito de pacientes em tratamento.

Por mais incrível que possa parecer, pessoas com grande poder aquisitivo e acesso aos bens de consumo de alto valor têm doenças agravadas e até novos problemas de saúde, não apenas pela falta, mas também pelo excesso ou descontrole do consumo de medicamentos, incluindo produtos receitados por médicos habilitados.

Conforme relatório elaborado por diversas instituições ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgado em abril deste ano, o consumo equivocado de determinados remédios pode causar até dez milhões de mortes de seres humanos no mundo por ano, até 2050.

De acordo com o alerta, a utilização errada de antimicrobianos, como antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiprotozoários, inclusive na criação de gado e na agricultura, pode, ainda, resultar em crise financeira na saúde pública do planeta, no montante de até um trilhão de dólares, nesse mesmo período.

Segundo especialistas, uso excessivo desses medicamentos em pacientes humanos e/ou tratamento de animais e plantas pode estar fazendo com que determinadas enfermidades tratadas com esses produtos se tornem mais resistentes e como consequência acabem causando mais danos aos enfermos.

Esse crescimento da resistência ocorre, em primeiro lugar, cada vez que uma pessoa toma um determinado antibiótico e as bactérias combatidas acabam por desenvolver formas de resistência à sua fórmula.

De acordo com esse entendimento de profissionais habilitados, quanto mais a pessoa toma antibióticos, maiores são as chances de desenvolver resistência à enfermidade tratada, desenvolvendo versão mais grave da doença, muitas vezes sem tratamento disponível na atualidade.

Conforme informações do mesmo relatório, as infecções resistentes a remédios utilizados na atualidade provocam pelo menos 700 mil mortes no planeta por ano e desse total 230 mil óbitos são causados por tuberculose multirresistente.

De acordo com o mesmo estudo, no Brasil, entre 40% e 60% das doenças infecciosas já são consideradas resistentes aos medicamentos prescritos por especialistas, segundo apontam pesquisadores da Organização Mundial para Saúde Animal (OIE) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Em 2018, segundo especialistas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também havia alertado para aumento em todo o mundo dos casos de tuberculoses resistentes aos medicamentos conhecidos.

Membros da OMS, que também participaram da elaboração do relatório citado, em colaboração com a OIE e FAO, ressaltam igualmente estudo do Banco Mundial de 2016, apontando que o prejuízo econômico causado aos sistemas de saúde pela resistência de micróbios aos medicamentos utilizados, pode ser comparado às perdas da crise financeira de 2008, de US$ 1 trilhão ou cerca de R$ 3,9 trilhões, até 2050, na economia mundial.

Se confirmada a previsão, o mundo poderia perder até 3,8% do seu Produto Interno Bruto (PIB) até 2050, caso não sejam adotadas medidas para prevenir doenças resistentes aos medicamentos utilizados.
O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

dilceu.joao@uol.com.br

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