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Geral Pandemia de Covid-19

Rondonense relata rotina nos EUA após país se tornar o epicentro do coronavírus no mundo

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Vanessa Kunzler Manning: “Pensar que você pode ser a próxima vítima desse vírus nos faz sentir responsável por fazer o máximo possível para proteger quem você ama” (Foto: Arquivo pessoal)

Os Estados Unidos se tornaram neste sábado (11) o país com o maior número de mortes provocadas pelo novo coronavírus (Covid-19) em todo o mundo, de acordo com a universidade americana Johns Hopkins. Com 18.860 mortes em território americano, o país superou a Itália, que já tem 18.849, ainda segundo o balanço da universidade.

Apenas no Estado de Nova Iorque, epicentro da epidemia no país, são mais de oito mil mortes, 700 nas últimas 24 horas.

Em entrevista ao O Presente, a rondonense Vanessa Kunzler Manning, que mora na região Nordeste do Texas, compartilhou com a reportagem a situação vivida por lá, a qual, segundo ela, tem sido de muita apreensão. “Ver o número de infectados aumentar tão rapidamente é assustador”, resume.

 

MUDANÇA DE ROTINA

Vanessa conta que adotou o home office (trabalho remoto) a pedido da empresa onde trabalha no dia 16 de março. “Daí para frente os casos de Covid-19 aumentaram drasticamente. No dia 24 de março Dallas já possuía 169 casos confirmados, no dia 02 de abril eram 831 e neste sábado já somam 1.537”, comenta.

Na região onde a rondonense reside são cerca de 7,5 milhões de habitantes, abrangendo os grandes centros de Dallas e Fort Worth. “Nessa região tivemos a ordem para ficar em casa estabelecida no dia 22 de março. Os cidadãos foram proibidos de sair de suas residências para serviços que não sejam essenciais. Nessa data, vários comércios e estabelecimentos foram obrigados a fechar suas portas por tempo indeterminado, incluindo lojas, salões de beleza e consultórios médicos. Todos os procedimentos não emergenciais em consultórios médicos, odontológicos e veterinários estão proibidos. Escritórios não podem ter mais de dez pessoas ao mesmo tempo e é preciso respeitar os dois metros de distância. É bastante triste sair e dar uma volta de carro e ver tudo fechado, sem nenhum veículo nos estacionamentos”, expõe Vanessa.

 

DIRETRIZES DE COMBATE

Ela explica que as diretrizes para lidar com o enfrentamento à Covid-19 não são estabelecidos pelo governo federal. “Na nossa região, somos divididos por grupos de cidades, o que chamamos de County. Dallas County possui mais ou menos dez cidades, Tarrant County, onde eu moro, é um grupo de 19 cidades. Cada County estabelece quando a quarentena começa, quando termina, e define os detalhes do que é considerado serviço essencial. Em Dallas County foram registrados (dados de ontem, 10 de abril), 1.537 casos de coronavírus, com 25 fatalidades; em Tarrant County são 705 casos com 21 fatalidades”, detalha.

Conforme Vanessa, as pessoas que não sobreviveram à doença, em sua maioria, se encaixavam no grupo de risco. “Eram idosos ou possuíam histórico de problemas respiratórios, e claro que houve algumas exceções”, menciona, acrescentando: “As autoridades têm estudado os casos agora por localização e têm concluído que muitos grupos considerados minoria estão sendo infectados pelo vírus em maior número. As minorias são as pessoas que vivem em locais com menor poder aquisitivo. A ideia é oferecer testes de forma gratuita para evitar a contaminação. A maioria das pessoas que conseguiram fazer testes está realizando através de médicos particulares, porque possuem convênio médico. Aqui não há hospitais públicos”.

 

SITUAÇÃO DOS HOSPITAIS

A situação dos hospitais nesse momento, de acordo com a rondonense, não é grave. “Há vários leitos disponíveis. Na questão de EPI (equipamento de proteção individual), nossa situação não é diferente de nenhum outro hospital onde os funcionários usam o mesmo equipamento para o turno inteiro de trabalho”, salienta.

 

TESTES SÃO DE DIFÍCIL ACESSO

Os testes para detecção do vírus, aponta Vanessa, não são de fácil acesso nos Estados Unidos. “Apesar de termos opções de drive-through se possuir requisição médica, a maior parte das pessoas que consegue fazer o exame possui plano de saúde e usa o sistema particular. Devido a esse fato tem se percebido que a minoria não está sendo testada com a mesma frequência, e isso pode fazer com que os números aumentem ainda muito mais. Aqui não possuímos acesso a hospitais públicos e as pessoas que estão em nível de pobreza não possuem acesso a sistema de saúde e só são atendidas em situação emergencial. A grande preocupação atual é oferecer testes para esse grupo, já que o vírus pode estar crescendo muito nas áreas mais pobres dos municípios. Outra área que viu aumentar o número de casos foram as casas similares a asilos. Estão pedindo para quem puder levar os idosos para casas de familiares para proteção deles. Há vários casos que foram passados de um idoso para outro. Todas as visitas foram proibidas e a ordem de ficar apenas no quarto foi estabelecida”, menciona.

 

ASSUSTADOR

Vanessa relata que muita coisa mudou na rotina da cidade onde vive e arreadores e na sua vida, particularmente, desde o dia 22 de março. “Ver o número de infectados aumentar tão rapidamente é assustador. Pensar que você pode ser a próxima vítima desse vírus nos faz sentir responsável por fazer o máximo possível para proteger quem você ama. Eu tenho o privilégio, e que privilégio em um momento que muitos perderam seus empregos, de realizar meu trabalho de casa. Trabalho com software e tenho a habilidade de oferecer nossos serviços através de conferência e de forma eletrônica. Parte do meu trabalho é viajar, o que está extremamente proibido momentaneamente. Organizei um escritório em casa, e meu maior ajuste é se habituar a estar sozinha o dia inteiro falando com pessoas por chats, telefone ou videoconferência. Em casa, ficamos um pouco neuróticos. As maçanetas das portas estão sendo limpas diariamente, assim como as áreas comuns da moradia”, compartilha.

 

COMPRAS EM MERCADOS

Realizar compras atualmente, diz ela, se resume a fazer pedidos via aplicativo. “Ir ao mercado hoje é abrir o aplicativo do celular e colocar no carrinho os itens para a semana. Quando o pedido está pronto, é dirigir até o mercado, abrir o porta-malas do automóvel e deixar eles carregarem as compras enquanto você espera no carro, sem contato nenhum. O único problema é a falta de certos itens. Para você encontrar papel higiênico, papel toalha e carnes, por exemplo, tem que ir pessoalmente ao mercado. Assim como qualquer comércio essencial, os mercados limitam o número de pessoas e você fica em fila para conseguir entrar. Máscara não é obrigatório, mas muita gente está usando. Muitos estão fazendo em casa e doando para as pessoas se protegerem e protegerem os outros”, ressalta.

 

PICO DA DOENÇA

De acordo com a rondonense, o pico da doença na região onde ela mora deve ocorrer nas próximas semanas. “A nossa quarentena está planejada para terminar no dia 30 de abril. Esse é o prazo estabelecido pelo governador do Texas e seguido por alguns Counties. Dallas estabeleceu o dia 20 de maio como término da ordem de sair de casa. É claro que essas diretrizes são dinâmicas e tudo pode mudar, mas certamente os números que temos hoje seriam muito maiores se a população ainda estivesse livremente saindo pela rua”, considera.

 

CRIATIVIDADE

Os restaurantes, emenda ela, estão usando a criatividade para sobreviver. Além de pedidos on-line e de serviços de entrega, como UberEats, estão vendendo kits com alimentos como vegetais, ovos, carne e papel higiênico. “Soa até engraçado, mas é uma excelente forma de ajudá-los e também uma forma de conseguirmos aqueles itens difíceis de encontrar nos mercados. Infelizmente muitos não estão sobrevivendo e muita gente foi mandada embora. O seguro-desemprego está em número nunca visto. São mais de 700 mil pessoas no Texas, o que já é maior do que o ano passado inteiro. Os bancos estão oferecendo auxílio com financiamento para pequenas empresas, os municípios estão criando leis para que as pessoas não possam ser despejadas de casas ou apartamentos que alugam por motivo de perda de emprego, e há muito auxílio no pagamento de financiamentos de casa, com pausa no pagamento sem nenhuma multa por três meses”, expõe.

 

PARQUES FECHADOS

A Páscoa também será diferente por lá. “No período da Páscoa os parques públicos são muito utilizados para a caça aos ovos, contudo, as cidades estão fechando todos os parques públicos para evitar o máximo possível a aglomeração de pessoas”, pontua.

 

ESFORÇO FUNDAMENTAL

Na opinião da rondonense, as medidas restritivas são fundamentais para o sucesso no combate ao novo coronavírus na região do Texas. “Os números ainda estão crescendo, mas não consigo nem imaginar a situação que estaríamos hoje se não tivéssemos ficado em casa. No dia 07 de março foi a última vez que estive com um grupo de amigos e falávamos do vírus, mas sem muita preocupação. Hoje estamos todos nessa situação”, conclui.

 

Parques públicos estão fechados para evitar aglomeração de pessoas (Foto: Vanessa Kunzler Manning)

 

Locais que costumam estar sempre lotados de pessoas e veículos agora estão vazios, praticamente sem movimento (Foto: Vanessa Kunzler Manning)

(Vídeo: Vanessa Kunzler Manning)

 

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