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Geral #AmorNãoÉTurismo

Separados pela pandemia: rondonenses falam sobre desafios da distância e da saudade de viver longe de seus amados

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(Foto: Divulgação)

Muito se discute sobre o que é essencial e o que não é nessa pandemia de coronavírus. O que pode ou não funcionar, que ramo deve ter mais ou menos restrições e por aí vai. Mas quando envolve sentimentos, como avaliar e classificar?

Repudiando a classificação de não essencial, casais binacionais do mundo todo organizaram o movimento “Amor Não É Turismo”, utilizando as hashtags #LoveIsEssencial (#AmorÉEssencial) e #LoveIsNotTourism (#AmorNãoÉTurismo).

Por meio dessa campanha, os apaixonados esperam permissão dos países para que visitem seus parceiros, mesmo sem serem casados. Afinal de contas, o amor é o mesmo.

 

HISTÓRIA

A rondonense Tatiani Cattini é uma das pessoas que luta para que essa causa seja reconhecida para que ela possa visitar seu noivo, Norbert Lesniewicz, que mora na Polônia. “São muitas pessoas nessa situação. Eu não vejo como o fato de eu não ser casada me impeça de ver meu noivo. Não há porque separarem a gente. Essa saudade é terrível”, exterioriza a cabeleireira, que atua em Marechal Cândido Rondon.

Separados por mais de 9.882,66 quilômetros de distância, os noivos esperam o momento em que poderão se ver novamente e, enfim, casar-se. “Nos conhecemos em Marechal Rondon. Ele trabalha em uma empresa alemã e veio fazer um trabalho em Vila Ipiranga (distrito do município de Toledo), juntamente com uma empresa brasileira. Nos conhecemos em janeiro de 2019, mas até então nada demais. Em fevereiro ele mandou mensagem para que eu cortasse o cabelo dele, mas eu não podia. Ficamos nesse desencontro até junho, quando deu certo”, conta Tati, lembrando o início de seu relacionamento e as primeiras preocupações: “Eu pensava em como iríamos nos comunicar, porque ele não falava português muito bem, mas por fim deu certo. Ele me chamou para jantar em um domingo, dia 16 de junho”, lembra.

Digno de histórias de cinema, o casal teve um início de relacionamento intenso, conforme revela a rondonense ao O Presente. “Logo nessas semanas, ele foi na casa da minha mãe e me pediu em namoro para ela, bem cavalheiro e tradicional, além de me convidar para ir à Polônia em agosto, no aniversário de bodas dos pais dele. Eu fui, conheci toda a família do Norbert e adorei o lugar. Foi tão intenso e forte, eu nunca tinha sentido isso antes. Parece um amor de filme, nunca pensei que sentiria algo tão grande como o que eu sinto com ele. Parece que nos conhecemos há muito tempo”, enaltece Tati.

Retornando do país europeu, o casal manteve o namoro a distância até dezembro, quando o noivo de Tati veio novamente para o Brasil terminar o projeto no distrito toledano. “Novamente, ele foi jantar na casa da minha mãe e aconteceu o inesperado: era dia 08 de dezembro e ele me pediu em casamento”, emociona-se, ao lembrar daquele momento.

Os noivos Norbert Lesniewicz e Tatiani Cattini tinham planos de se casar neste mês na Polônia, mas tiveram que adiá-los devido à pandemia (Foto: Divulgação)

 

NOIVADO

Já noivos, Tati foi com Norbert para a Polônia novamente, permanecendo lá até fevereiro de 2020. Segundo ela, o casal já tinha planos de morar juntos em território polonês. “Quando eu estava lá, fiz um curso de corte de cabelo e o estabelecimento me chamou para falar sobre penteados em um curso que aconteceria. O Norbert foi meu intérprete e deu tudo certo, foi muito legal. Eles gostaram de mim e me chamaram para trabalhar lá, mesmo sem eu saber o idioma”, comenta.

Com passagem agendada para 29 de maio rumo à Polônia, Tati ressalta que as coisas estavam tão prontas para a mudança que ela se desfez de todos os móveis de sua residência. “Eu morava sozinha e depois disso fiquei com meu pai, depois com uma amiga e uma semana antes da data de embarque fui ficar com minha mãe. O plano era aproveitar o tempo e me despedir. Por fim, o voo foi remarcado para 16 de junho e novamente adiado, sem novas previsões, e eu estou morando com minha mãe”, relata.

Norbert e Tati vê nas tecnologias uma maneira de matar a saudade e manter o contato (Foto: Divulgação)

 

CASAMENTO

Conforme a rondonense, tanto casamento como lua de mel já estavam organizados e tiveram de ser adiados. “Iríamos nos casar em julho e agora não sei quando poderemos. Estamos vendo outras possibilidades para o casamento. Posso me casar em qualquer país da Europa e adentrar ao continente com a data de casamento marcada, sem estar casada de fato. Contudo, é uma coisa complicada e poderia levar meses, porque precisaria enviar as vias originais de alguns documentos e esse tipo de correspondência não está funcionando. Outra possibilidade é ele marcar nosso casamento na Polônia e, para isso, eu preciso ir ao consulado em Curitiba assinar um termo dizendo que permito e estou ciente sobre o casamento. Esse seria o método mais rápido e com a data marcada eu consigo entrar em qualquer país europeu”, expõe.

 

LIDANDO COM A SAUDADE

Como trabalha atendendo pessoas, Tati diz que muitos dão palpites e gostam de opinar. “Todo mundo me pergunta sobre isso. Uns dizem que logo vai dar certo e outros falam que só no fim de ano vai ser possível, cada um tem seu ponto de vista. Sou grata pelo meu emprego, essa ocupação faz com que os dias passem de forma mais fácil e me ajuda a lidar com a saudade”, frisa.

Também para amenizar um pouco da saudade, o casal se comunica sempre que possível, tentando vencer as cinco horas de diferença no fuso horário dos dois países. “Todo momento em que podemos, quando não estamos trabalhando, nós conversamos, até por vídeo chamada. Em um fim de semana fizemos a primeira experiência de dormir juntos virtualmente: cada um com seu tablet, aqui eram nove da noite e lá duas da madrugada. Eu o vi adormecer e ele me viu quando acordou. Foi uma sensação muito boa, me senti mais perto”, conta Tati.

De acordo com ela, o fato de não haver uma data para esperar torna a distância ainda mais difícil. “Mesmo se fosse uma previsão distante, eu saberia que demoraria, mas chegando esse momento eu o veria. Esperar assim é agoniante, excruciante e terrível. Em relacionamentos a distância é diferente, porque você sabe que há possibilidade de se ver, todavia, nesse momento a pandemia nos impede disso”, lamenta.

 

AMOR É ESSENCIAL

Tati menciona que a entrada na Europa é permitida para pessoas de lugares com o mesmo nível ou abaixo do que o país de destino. “No Brasil não melhora a situação (de casos de coronavírus) e então fica complicado de viajar. O movimento #LoveIsNotTourism está fazendo um abaixo-assinado para mudar isso. A campanha está muito famosa nos Estados Unidos, Alemanha e Brasil. Eu vejo tantos casais passando pela mesma situação que a minha. É ruim para todos nós, mas, por outro lado, é reconfortante ver que não estou sozinha”, aponta a rondonense.

A petição está disponível em https://bityli.com/ugh0h e até ontem (27) cerca de 22 mil pessoas já haviam assinado o documento. “Dentro desse movimento, todo mundo se responsabiliza por fazer o teste com antecedência para apresentar no embarque e na imigração. Depois faremos outro teste e ficaremos em quarentena. Estamos dispostos a fazer todo esse procedimento. É um preço pequeno a se pagar para conseguir ver meu noivo”, enaltece Tati.

Cinco países já permitem a entrada de pessoas com relações não oficializadas, sejam namorados ou noivos: Dinamarca, Noruega, Holanda, República Tcheca e Áustria. “A presidência da União Europeia é da Alemanha, que tem simpatizado com a ideia ‘Amor Não É Turismo’. Caso a proposta seja aceita, para os outros países seguirem o exemplo é mais fácil. Na primeira oportunidade que surgir eu vou para lá. Como já estou com a passagem comprada, ela está em aberto e posso ir a qualquer momento. Tenho esperanças de que aconteça em breve”, finaliza.

Tatiani Cattini pede para que os complacentes ao movimento “Amor Não É Turismo” assinem o abaixo-assinado: “Eu vejo tantos casais passando pela mesma situação que a minha. É ruim para todos nós, mas, por outro lado, é reconfortante ver que não estou sozinha” (Foto: O Presente)

 

SEIS MESES SEM SE VER PESSOALMENTE

Débora Liessem Vigorena Guevara e Victor Guevara também sentem os efeitos da pandemia no relacionamento. Casados há três anos, Débora está em Marechal Rondon com a filha Isadora, de dois anos, e ele na Colômbia: não se veem presencialmente há quase seis meses. “Eu o conheci em uma viagem a Cartagena de Índias, cidade onde ele mora. Nosso casamento foi feito no Brasil e obteve reconhecimento na Colômbia. No primeiro ano de nossa união ele morava conosco em Marechal Rondon, mas no ano seguinte foi chamado para assumir um concurso público da área de Direito no seu país de origem. Eu o apoiei a assumir, pois ele só recebia uma bolsa de mestrado e não tinha perspectivas de trabalho em curto prazo no Brasil. Isadora nasceu e ele conseguiu licença de alguns meses para ficar conosco. Nosso combinado foi de nos vermos entre dois a três meses até decidirmos onde ficar. Eu também sou concursada, o que dificulta a tomada dessa decisão”, compartilha Débora à reportagem do O Presente.

Segundo ela, a pandemia ocasionada pela Covid-19 interrompeu o ciclo de visitas. “Ele viria nos visitar em junho, mas o aeroporto da cidade dele está fechado desde o fim de março, com previsão de abrir somente no início de setembro, inclusive ele já comprou passagem. Tem sido muito difícil para os três, sobretudo para ele, que está isolado em um apartamento fazendo home office, longe de mim e da filha. Isadora e eu temos a benção de contar com uma forte rede de apoio por parte de minha família”, enaltece.

A rondonense conta que mesmo a família vivenciando uma rotina de conversas diárias por vídeos chamadas, a espera é muito difícil. “Minha filha interage muito com o pai nas vídeos chamadas que fazemos diariamente, mas sempre que vê um avião no céu pensa que ele está chegando. Sempre havia uma data precisa para a chegada dele e hoje não há certeza de quando poderemos estar reunidos presencialmente outra vez. Isso, de certa forma, acalmava nossos corações e a espera ficava mais curta”, expõe.

Victor Guevara, Débora Liessem Vigorena Guevara e Isadora, filha do casal: “Percebemos a força de um amor que ultrapassa as barreiras do tempo, que não se cansa, pois é a vontade de ambos estar perto da maneira que é possível agora, se renovando em uma troca recíproca” (Foto: Divulgação)

 

REPENSAR ESCOLHAS

Débora diz que, de certo modo, a situação vivenciada pela família os fez pensar melhor em alguns pontos. “Toda essa situação nos faz repensar nossas escolhas e avaliar mais rapidamente possibilidades para ficarmos juntos em um só lugar. Percebemos também a força de um amor que ultrapassa as barreiras do tempo, que não se cansa, pois é a vontade de ambos estar perto da maneira que é possível agora, se renovando em uma troca recíproca”, conclui.

 

O Presente

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