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Setembro Amarelo: é preciso preservar a vida – por Vanessa Dettoni

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Foto: Divulgação

As doenças mentais, apesar de serem bastante comuns em termos de incidência, ainda são fragilmente conhecidas pela população e, por conta disso, tendem a não serem reconhecidas como fonte de intenso sofrimento, que necessita de cuidados especializados, como qualquer outra forma dor e de doença.

Neste sentido, os comportamentos e sentimentos emitidos pelas pessoas acometidas por doenças mentais, muitas vezes são interpretados de maneira errônea, sendo rotuladas como fracas, desmotivadas, preguiçosas, dependentes, pessimistas, entre outros. De modo que, tais compreensões, colocam a causa dos comportamentos apenas como responsabilidade ou culpa da própria pessoa que sofre, o que por sua vez, acabam por incidir em acusações e falta de empatia e compreensão por parte dos amigos, familiares, parceiros e empregadores.

Por conta destas situações vivenciadas, também por portadores de doenças psiquiátricas e psicológicas, as quais acabam por invalidar a seriedade e dificuldade de recuperação destes estados emocionais e comportamentais é que existem campanhas de conscientização, como a do Setembro Amarelo. Ela visa promover maior sensibilização e conhecimento da sociedade em geral, sobre a incidência das doenças mentais e suas consequências, incluindo a ideação e comportamento suicida.

A depressão associa-se à ideação suicida e ao comportamento suicida, pois, em geral, nos quadros de depressão as pessoas não conseguem perceber ou implementar ações que a levem a sentirem-se melhor; os eventos e situações que a levaram ao estado depressivo, são vistas como imutáveis e incontroláveis. Ou seja, os cursos de ação emitidos até então, não foram capazes de alterar sua dor intensa e frequente, levando a um estado de descrença e desesperança em melhorar sua vida e alcançar seus objetivos.

Ademais, outros fatores podem levar ao comportamento suicida, os quais relacionam-se a situações de crise. Quando esta é tão severa, pode gerar incapacidade de lidar com tais eventos, que são considerados muito estressantes, pela pessoa que os vivencia, tais como: problemas financeiros, términos de relacionamento, dores crônicas e doenças. “Além disso, o enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e um senso de isolamento estão fortemente associados com o comportamento suicida”. Esses fatores, ficam mais evidentes em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, onde as taxas de suicídio são elevadas. Contudo, “de longe, o fator de risco mais relevante para o suicídio é a tentativa anterior” (OMS, 2018). Ou seja, a pessoa que já tentou, está mais propensa a fazê-lo novamente.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS e Organização Mundial de Saúde – OMS (2018), o suicídio ocorre durante todo o curso de vida e foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos em todo o mundo no ano de 2016. De fato, 79% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média renda em 2016. Ele não ocorre apenas em países de alta renda, sendo um fenômeno em todas as regiões do mundo.

Ainda há dificuldades em se falar sobre a saúde mental. De modo geral, persiste um preconceito em relação tanto às doenças mentais quanto aos temas relacionados a elas. Quanto maior conhecimento a sociedade tiver, menos tabus irão envolver essas temáticas, (incluindo, aspectos que envolvem o suicídio) porque elas fazem parte do comportamento humano, invariavelmente. As doenças mentais não são diferentes das demais, possuem variáveis genéticas e ambientais e podem acometer qualquer pessoa, porém a sua manifestação não é facilmente observável, por ter características privadas e subjetivas, além disso, na grande maioria das vezes, não sendo detectável por nenhum tipo de exame laboratorial, sendo seu diagnóstico apenas clínico.

Nem sempre é simples notar indícios de ideação suicida e nem de prever o próprio comportamento suicida, embora, muitas vezes haja o relato ou outros indícios comportamentais presentes; outras vezes não há. Frequentemente, quando há a exposição clara destes sentimentos, pensamentos e intenções, há uma negação das pessoas próximas, que reagem de modo invalidante e até incrédulo. É muito difícil lidar com o sofrimento alheio, por isso, de modo geral, as pessoas tendem a não querer falar sobre as dores, as queixas e as dificuldades umas das outras; levando a um afastamento e uma esquiva destes assuntos que causam ansiedade para as partes envolvidas. Fato que é prejudicial, uma vez que falar sobre os eventos que produzem dor e sofrimento emocional é extremamente importante para podermos aprender a manejá-los.

As doenças mentais têm relação com o comportamento suicida, mas nem sempre foi possível correlacionar. Tem relatos de suicídios sem que houvesse doença mental. É fundamental buscar ajuda. O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio de forma voluntária e gratuita para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os atendimentos acontecem por telefone (basta discar 188), pelo chat ou ainda por email no www.cvv.org.br. Os canais funcionam  24 horas e todos os dias da semana.

 

Vanessa Siqueira de Medeiros Dettoni é psicóloga, especialista em análise do comportamento e terapia, e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) – campus Toledo

 

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