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Geral Escassez hídrica

SOS Rio Iguaçu: presidente da Sanepar fala sobre medidas para preservar o principal rio paranaense

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Presidente da Sanepar, cascavelense Claudio Stabile: “Literalmente podemos dizer que tiramos água de pedra e fizemos chover. Fomos às cavas, às pedreiras buscar água. Fizemos semeadura de nuvens com aviões para fazer chover” (Foto: Divulgação)

Recente reportagem da BBC de Londres colocou o Rio Iguaçu no cenário internacional. Repercutindo a entrevista da diretora da ONG SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, o reputado canal inglês disse que o Iguaçu está doente.

Rio da energia, o Iguaçu comporta seis usinas, a última delas, denominada “Baixo Iguaçu”, inaugurada dois anos atrás na região do Parque Nacional, gera 350 megawatts ao custo de R$ 2,3 bilhões.

O Iguaçu é o maior rio em extensão do Paraná. Para ser grande, fez um percurso inimaginável: nascido pertinho do Oceano Atlântico, correu para o lado oposto, a Oeste, depositando águas no Rio Paraná, na tríplice fronteira com Argentina e Paraguai, e inspirando o nome do município: Foz do Iguaçu.

Foi quando o maior espetáculo do Iguaçu fraquejou, com as Cataratas gotejando água, é que se observou a gravidade do problema. Comportas e reservas de massa hídrica das usinas a jusante precisaram remexer para garantir a maior atração turística do Paraná.

Mas a água não faltou só lá, como faltou cá. Cascavel andou espremendo torneiras. Na Capital, para atender milhões de bocas sedentas, foi preciso bombardear nuvens. Nesta entrevista, o presidente da Sanepar, o cascavelense Claudio Stabile, reconhece a gravidade do problema e conta como a empresa tem apertado São Pedro para que o líquido precioso não falte.

 

Pitoco: O Rio Iguaçu está doente? O que está sendo feito para curá-lo?

Claudio Stabile (CS): Temos um projeto em execução a partir das nascentes do Rio Iguaçu, na serra do mar, até o Porto Amazonas. Vamos revigorar esse corpo hídrico com técnicas de conservação, manutenção permanente, tudo que for necessário, reintroduzindo a mata ciliar em todo o entorno.

 

Pitoco: É o suficiente?

CS: Estamos trabalhando também com a técnica de reservação. Para melhor entendimento, é como constituir lagos com águas do Iguaçu para fazer a diluição e devolvê-la pura ao leito original. É um trabalho de limpeza por método natural. Não é área de lazer e, sim, de conservação hídrica.

  

Pitoco: Às vezes parece que estamos enxugando gelo…

CS: Olhando para a situação em todo o planeta, percebemos que as estiagens daqui ou chuva demais, como na Alemanha, serão fenômenos cada vez mais frequentes. São as mudanças climáticas. Não temos domínio sobre escassez ou excesso de água, mas podemos iniciar processos agora para amenizar os efeitos destes fenômenos.

 

Pitoco: Como foi o enfrentamento a mais recente crise hídrica?

CS: Literalmente podemos dizer que tiramos água de pedra e fizemos chover. Fomos às cavas, às pedreiras buscar água.

Fizemos semeadura de nuvens com aviões para fazer chover e deu certo. Antecipamos obras, firmamos parcerias com Itaipu aí na região Oeste para as bacias do Piquiri e do Ivaí. Enfim, foi correria.

 

Pitoco: Cascavel mostrou-se bastante vulnerável neste período de estiagem. Qual é o projeto para garantir o abastecimento aqui?

CS: Cascavel tem água, está entre três bacias, mas tem muita concorrência na captação. Há mais de três mil poços artesianos no município e não temos um grande reservatório. Os poços que a Sanepar abre são revestidos, protegidos. Os demais não sabemos. Isso implica em riscos de contaminação para o lençol freático.

 

Pitoco: A cada etapa o município vai buscar água mais longe. É possível que daqui a pouco tenhamos que fazer o Rio Iguaçu de manancial para Cascavel?

CS: Temos áreas em estudo em Cascavel para formar lagos de reservação. Não podemos entrar em detalhes ainda de localização para evitar especulação imobiliária. Estamos no Rio São José, que está a cerca de 50 quilômetros do Rio Iguaçu. Há estudos, sim, mas é preciso entender a composição do solo e a questão topográfica, o nível do rio com relação à altitude da cidade. Não posso afirmar agora que vamos pegar água no Iguaçu para Cascavel, mas digo que vamos buscar água onde estiver para garantir o abastecimento.

 

Pitoco: Cascavel foi parar no topo do ranking de cidades grandes e médias com 100% do esgoto coletado…

CS: Morei em Cascavel aos sete anos de idade, no início dos anos 1970. Me recordo que a Rua Paraná nem era pavimentada. Deixamos a cidade e quando voltamos, em 1984, já havia obras de saneamento básico a partir da Avenida Brasil. Foi isso que permitiu a verticalização da cidade a partir dos anos 1990. Como fazer um prédio sem saneamento, uma fossa para cada apartamento? Então Cascavel avançou neste aspecto e a Sanepar agora anuncia que teremos 100% da coleta, e o que é mais importante, 100% da coleta tratada. É a primeira grande cidade a atingir esse coeficiente.

 

Pitoco: Temos problemas com o odor das estações de tratamento na região Oeste da cidade…

CS: Quando essas estações foram projetadas, estavam muito distantes da cidade. O crescimento de Cascavel foi tamanho que alcançou esses equipamentos. O odor vem do gás. Estamos trabalhando para transformar esse gás em energia ou biometano. E usá-lo para secar o lodo do esgoto, limpando e transformando em fertilizante. Estamos fazendo nossa parte, mas é preciso que os municípios também planejem melhor sua expansão urbana.

 

Pitoco: O prefeito Leonaldo Paranhos está confiante que sairá dos cofres da Sanepar o dinheiro para a reformulação do Lago Municipal, naquele projeto do Jaime Lerner…

CS: Estamos tratando esse assunto com o prefeito. Está muito bem adiantado. Há todo um arranjo para ser feito, mas tem viabilidade, sim.

 

Pitoco: O novo marco do saneamento está vigente. Permite que a Sanepar entre em outros territórios, mas também possibilita que outros players, inclusive internacionais, entrem no Paraná…

CS: Não queremos errar como outras empresas públicas erraram no passado. Primeiro vamos cuidar do Paraná. Antes de sairmos de nossas fronteiras vamos consolidar aqui no Estado. O nosso planejamento 2021 a 2025 prioriza investimentos no Paraná.

 

Pitoco: Os acionistas da Sanepar, incluindo aí milhares de pequenos cotistas, podem ficar tranquilos com a gestão

da empresa?

CS: Saímos de 32 mil acionistas em janeiro de 2019 para mais de 430 mil. Ações valorizaram muito em período curto. Assim os grandes venderam e permitiram uma fragmentação em milhares de pequenos. Sabemos que ações desta natureza não são para especular, é algo para médio e longo prazo, mas a Sanepar está fazendo sua parte com um plano de expansão abrangente, recorde de investimentos, sempre resguardando a prudência necessária.

 

Pitoco: Tem orado muito para São Pedro?

CS: Precisamos orar. Antes desta chuvarada de outubro, tínhamos um déficit acumulado de quase 800 milímetros. Isso corresponde a quase oito meses de desequilíbrio. Estamos tomando as medidas necessárias para enfrentar esses tempos incertos.

 

 

Por Jairo Eduardo/Pitoco

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