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Geral "Uma arma resolveria"

Carlos Bolsonaro polemiza sobre mulher espancada

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Na segunda-feira (18), Carlos usou o Twitter para falar da agressão e defender a flexibilização do uso de armas (Foto: Divulgação)

Filho do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a paisagista Elaine Perez Caparroz, 55 anos, não teria sido agredida por um homem que conheceu nas mídias sociais se estivesse armada.

A vítima de tentativa de feminicídio ficou desfigurada e precisou de cirurgia reparadora. Ela foi espancada por quase quatro horas. O caso resultou na prisão em flagrante de Vinícius Batistas Serra, 27 anos.

Na segunda-feira (18), Carlos usou o Twitter para falar da agressão e defender a flexibilização do uso de armas.

Em janeiro, o presidente assinou um decreto que prevê que a “efetiva necessidade” para posse de arma passa a abranger moradores de todo o país. O texto não muda regras para porte de arma – que permite ao cidadão andar nas ruas armado -, mas essa alteração está sendo articulada pela bancada da bala.

Irmão de Elaine, Rogério Perez contou em reportagem do “Fantástico” que a vítima está com uma fratura no nariz, que dificulta a respiração, e outras no globo ocular, na face e no maxilar, além de ter tido os dentes quebrados.

O agressor afirmou aos policiais que dormia com a paisagista, acordou e teve um surto. A polícia entendeu que Vinícius espancou Elaine por ela ser mulher.

Segundo Elaine, ela conheceu Vinícius pelas redes sociais, os dois trocavam mensagem há cerca de oito meses e marcaram um encontro, um jantar na casa dela. No hospital, ela disse que ele perguntou se podia dormir na casa dela, ela disse que sim. “Eu acordei com ele me esmurrando a cara. Ele foi tentar me dar um mata leão, coloquei as mãos para não deixar ele concluir e ele me mordeu”. As agressões continuaram.

 

Liberação de armas

A posição de Carlos Bolsonaro, de que um acesso facilitado a armas de fogo evitaria casos de violência doméstica, é compartilhada por parlamentares da base do governo no Congresso Nacional, como a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). “Tentou estuprar uma mulher, fogo nele. Bala nele. Eu como mulher, não hesitaria em atirar num estuprador que tentasse me violar ou a qualquer um dos meus filhos. A ideia é que a gente possa se defender e não ser a vítima do crime”, disse na época da publicação do decreto.

Advogados e promotores que trabalham com violência doméstica, contudo, sustentam que a liberação de armas irá agravar agressões a mulheres e casos de feminicídio devido a características desse tipo de crime, como o perfil das vítimas e dos agressores e as fragilidades da rede de assistência, incluindo falhas no atendimento nas delegacias e na fiscalização de medidas protetivas e número insuficiente de casas de abrigo.

Em entrevista, a presidente da Associação de Advogadas pela Igualdade de Gênero, Renata Amaral, disse que usar a arma para se defender ”é uma reação que se espera de quem está pensando no caso de um furto, roubo, em no que denominamos ’crimes da rua, e não em crimes ‘de casa'”.

A criminalista Stela Valim, por sua vez, apontou outras barreiras para que mulheres em situação de violência doméstica consigam se defender dessa maneira. “A grande realidade do Brasil como um todo continua sendo de que a mulher está em posição de desvantagem em relação ao homem. Ela tem menor (ou nenhuma) autonomia financeira, o que muitas vezes é um dos motivos que a impede de sair de uma situação de violência doméstica”, destacou. “Se ela não consegue sair de casa porque ainda não consegue bancar a si mesma e aos filhos, comprar uma arma vai ser prioridade? Claro que não”.

Além da limitação financeira, a especialista apontou outras barreiras de acesso às armas. “Não faz parte da realidade das mulheres brasileiras esse estímulo bélico, esse incentivo a se armar e a agir em legítima defesa a todo custo. Num país em que ainda é cultural culpar a mulher pela violência que ela sofre, não parece condizente com o nosso contexto social que ela irá simplesmente sair de casa carregando uma arma na bolsa”, afirmou.

 

Números da violência doméstica

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo, de acordo com números da OMS (Organização Mundial da Saúde). Segundo o “Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil”, foram 21% de crescimento de mortes em uma década até chegar a 13 homicídios femininos diários em 2013. A taxa é de 4,8 homicídios por cada 100 mil mulheres.

Embora homens sejam mais frequentemente vítimas de armas de fogo do que mulheres, esse tipo de arma é o meio mais usado nos 4.762 homicídios de brasileiras registrados em 2013, segundo o estudo. Foram 2.323 casos, o equivalente a 48,8%, seguido por objeto cortante/penetrante (25,3%), objeto contundente (8%), estrangulamento/sufocação (6,1%) e outros (11%).

Como não se sabe a motivação de todos os registros, não é possível dizer que todos são casos de feminicídio – homicídio de mulheres cometido em razão do gênero, ou seja, quando a vítima é morta por ser mulher, mas outros indicadores permitem analisar a abrangência dessas violações.

O número de brasileiras vítimas de armas de fogo entre 2012 e 2016 permaneceu estável, segundo dados do Datasus. Mas os casos em que esses óbitos ocorreram em domicílio, o que pode indicar violência doméstica, oscilaram neste período. Em 2016, as 560 brasileiras mortas por armas em casa representavam 40,2% das mortes em domicílio.

 

Com Huffpost Brasil 

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