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Marechal Batalhas reais

Airsoft conquista adeptos em Rondon e região

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Fotos: O Presente

 

Um esporte interativo que envolve a simulação de batalhas militares e policiais de forma realista. Seus jogadores participam vestidos com fardas e equipamentos de proteção. As armas utilizadas são apropriadas para o jogo e disparam, por meio de pressão a gás e com potência reduzida, seus projéteis, os chamados “BBs”, confeccionados de plástico. Esse é o famoso airsoft.

Atividade que tem se popularizado em todo o país, mas que ainda enfrenta restrição por parte de não-praticantes por utilizar réplicas de armas de fogo, o airsoft há muito tempo deixou de ser uma brincadeira e passou a ser encarado como esporte. No Brasil, a portaria nº 002 do Colog (Comando Logístico) do Exército Brasileiro regulamentou em fevereiro de 2010 a utilização de simulacros de arma de fogo e de armas de pressão. De lá para cá a modalidade cresceu. Em Marechal Cândido Rondon, o esporte tem adeptos fiéis e eles formam o grupo Legionários Airsoft Marechal (LAM).

O jogo envolve honra e disciplina. Regido por regras, é levado a sério por seus praticantes e instrutores. Inclusive, as armas são regulamentas pelo Exército Brasileiro e o esporte é regido pela Legislação Brasileira.

A atividade de aventura é parecida com o paintball, mas ainda mais real. As batalhas podem envolver missões e diferir de acordo com o nível de combate e experiência do jogador, mas com os equipamentos corretos e a regulamentação em dia, a diversão é garantida. Dentre as missões estão desde resgates de reféns, invasões a territórios, combate a drogas e terrorismo, entre outras. Tudo para deixar o jogo próximo da realidade de soldados e militares. “Há pessoas que jogam com o intuito mais no ‘mata a mata’, que fica parecido com o que era o paintball, e também tem aqueles que levam mais a sério, utilizando o jogo como treinamento militar”, diz o operador de airsoft e líder dos Legionários, Rhamon Fernando Rutzen.

O público que pratica o airsoft é variado, incorporando desde civis, como médicos, advogados, dentistas e mecânicos, até quem é habituado ao ramo, como policiais, seguranças e militares do Exército. Rhamon, por exemplo, trabalha como torneiro-mecânico, e assim como ele todos os demais operadores possuem outra fonte de renda, mantendo o airsoft como um hobby.

Peça-chave para um bom combate, o cenário escolhido pelos operadores normalmente engloba lugares abandonados e desabitados, como casas, terrenos e construções antigas. Os jogadores ainda podem circular entre carcaças de carros, proporcionando uma missão ainda mais emocionante.

“Os jogos variam do campo. É possível jogar na mata, CQB, como chamamos os lugares fechados, como hospitais, casas e shoppings abandonados, ou seja, é possível utilizar para o jogo qualquer local que não tenha civis transitando, por questões de segurança”, explica Rhamon.

O esporte é dinâmico e pode ser jogado em poucas pessoas, em duas, quatro ou seis, até jogos mais amplos, com mil pessoas, por exemplo. “Os jogos têm logística e ficam parecendo uma guerra real, desde utilização de jipes, caminhões, fardamento, colete e coturno, todos de uso militar”, conta o operador, lembrando de sua experiência ao participar do evento de airsoft WarZone, realizado no ano passado em São Paulo.

 

Armas

No jogo de estratégia é usado um armamento de pressão no qual se tenta acertar o adversário com bolinhas de plástico não letais de 6mm. Mas, afinal, o que são essas armas?

Segundo o Estatuto do Desarmamento, são vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de “brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo”. O airsoft, no entanto, não se encaixa nessa classificação. Segundo portaria do Exército de 2010, simulacro ou réplica é um “objeto que visualmente pode ser confundido com uma arma de fogo, mas que não possui aptidão para a realização de tiro de qualquer natureza”. Essa mesma portaria classifica as armas de airsoft como armas de pressão. Ou seja, são consideradas armas de verdade, que apenas funcionam com outro tipo de dispositivo de disparo e que são usadas por esporte – ainda que algumas pessoas as usem como instrumento de defesa pessoal.

Pela legislação brasileira sobre réplicas e simulacros de arma de fogo e armas de pressão é exigido que elas apresentem uma marcação na extremidade do cano na cor laranja fluorescente ou vermelho “vivo” a fim de distingui-las das armas de fogo. Já seu proprietário deve manter a guarda permanente do documento que comprove a origem lícita do produto, além de jamais conduzi-la ostensivamente. São obrigatórios o licenciamento e a nota fiscal das réplicas para o transporte e uso.

 

É caro?

Assim como praticamente todo o esporte, no airsoft há opções para todos os bolsos. De acordo com Rhamon, o esporte dispõe de uma gama muito grande de armas, desde revólveres, pistolas, fuzis de assalto, snipers, fuzil de precisão, até armas mais complexas. “Vai variar do bolso do operador. É barato para você manter ele (airsoft), porque a munição é barata e as armas são em sua maioria elétricas, com baterias carregáveis”, expõe.

Os modelos são variados e, entre armas curtas e longas, o rondonense diz que a partir de R$ 1 mil é possível comprar um armamento de qualidade, como um fuzil de assalto, com disparo semi e automático, com cadência e alcance de tiro muito maior. “Há armas com valores mais baixos. Por exemplo, se consegue comprar uma pistola por R$ 300, mas no airsoft o preço da arma está diretamente ligado à qualidade do equipamento. Acontece que se uma pessoa jogar com uma arma que tem dez metros de alcance, enquanto outro jogador tenha uma com 40, 50 até 80 metros, ela perde muito com a qualidade do seu equipamento, até porque armas têm limitações”, frisa.

Rhamon destaca que na região os valores das armas de airsoft variam de R$ 1 mil a R$ 5 mil. “Isso dentro na nossa realidade, mas há armas de R$ 15 mil, R$ 20 mil e até R$ 30 mil”, informa, acrescentando ainda os demais equipamentos. “Coturno, farda, rádio, enfim, há toda uma gama de equipamentos. A arma, por fim, vai ser 20% a 30% do valor que se investe no esporte, por isso depende do que cada pessoa pretende desembolsar”.

Na visão do operador de airsoft, quando se tem o esporte como um hobby, acaba se investindo um valor maior. “E quanto mais conhecimento as pessoas tiverem sobre o airsoft, melhor será para desconstruir esse pré-conceito e agregar cada vez mais valor para o esporte”, considera Rhamon.

Como no município ainda não há uma loja especializada na venda de equipamentos para a prática do esporte, os praticantes precisam comprar em outras cidades ou pela internet. “Talvez com o aumento da prática, algum comerciante seja atraído para essa área. Se tem consumidor, também pode surgir a possibilidade de ter uma revenda no município”, diz o rondonense.

 

Popular na região

Rhamon conheceu o airsoft há cerca de três anos e meio, através de dois amigos que praticavam o esporte. Já na primeira vez que teve contato com a arma física e deu seu primeiro tiro, passou a gostar do airsoft. Naquela mesma semana ele adquiriu a sua primeira arma e participou do primeiro jogo. “Depois não quis parar mais”, ressalta.

Hoje, o rondonense está à frente da equipe Legionários Airsoft Marechal, que foi criada em fevereiro de 2015. “Há pessoas que jogam há mais tempo e que estão na equipe desde o início, mas que praticam com menos assiduidade. Têm pessoas que jogam toda semana e outras algumas vezes ao mês”, declara.

Além de Marechal Rondon, o esporte vem ganhando espaço em outros municípios da região, como Toledo, Cascavel, Umuarama, Palotina, Assis Chateaubriand e Maringá. “O crescimento do esporte é muito bom, pois quanto mais praticantes, melhor. Ele pode ser jogado com poucas pessoas, mas um jogo com 30 ou 40 pessoas é muito mais legal, sendo possível uma dinâmica maior e a elaboração de uma missão e um jogo muito mais complexo, tornando mais divertido”, afirma.

O rondonense acredita que a partir do crescimento do airsoft na região, inclusive com a participação cada vez maior de mulheres, as pessoas deixarão de lado o preconceito que ainda existe com relação ao esporte. “Dificilmente alguém começa a jogar e não gosta do jogo”, garante.

 

Segurança e conduta

As regras do airsoft são expressas pelos jogadores, que as estipulam por questão de segurança, para preservar a integridade física dos praticantes. A potência das armas, por exemplo, é limitada. Ela é medida por FPS (Feet Per Second – pés por segundo) e tem um aparelho que confere isso, para o projétil não sair mais forte e machucar o colega.

O que existe mesmo são regras de segurança e conduta. “Cada jogo, cada operação, tem suas próprias diretrizes, mas sem passar por cima das de segurança e conduta. As básicas são utilizar óculos de proteção e um pano vermelho, que é para se acusar quando for atingido. Ainda há quem use proteção facial, como máscaras”, explica o veterano no esporte, Rhamon Rutzen.

Os óculos são item obrigatório e indispensável e pode ser daqueles utilizados como equipamento de proteção individual (EPI) para não correr o risco de machucar o olho e perder a visão. Dali em diante, capacete, máscara e farda, por exemplo, ficam a critério de cada jogador.

Outra regra, e que faz o esporte ser considerado “de honra”, é a que o “morto” tem que se acusar. Não importa se o tiro acertou no pé ou na arma. Os pilares do airsoft são: honra, respeito ao próximo e segurança. “Quem atua de forma diferente acaba sendo cortado aos poucos dos jogos. Não é uma competição, é uma confraternização que depende da honestidade do jogador”, relata o rondonense.

Ele comenta que a munição não deixa marca, mas se for lançada de curta distância, pode doer um pouco. “Como a bolinha não marca, não tem como um jogador provar que acertou o outro, apesar de que quando a pessoa toma um tiro você consegue perceber que acertou e também consegue ver a bolinha indo, se tiver uma visão boa”, detalha o operador. “Dentro da equipe nós temos uma hierarquia e no geral as pessoas respeitam bastante, até porque é um jogo que não se joga sozinho, por isso é necessário manter uma boa convivência e harmonia”, complementa.

 

Jogos

As partidas de airsoft duram em média de duas a quatro horas, mas não há limite para ocorrerem. “Há partidas que também duram de três a quatro dias, então para cada jogo terá algo específico. Aqui na região, por exemplo, há jogos que duram o dia inteiro, sem pausa para o almoço, para realmente simular a realidade de uma batalha tal como ela é”, reforça Rhamon.

Os jogos com maior número de equipes reúnem, além dos operadores, os chamados “rangers”, fiscais que usam coletes de cor chamativa e que orientam os participantes quantos aos objetivos específicos, erros e também questões relacionadas à segurança.

Além de honra e respeito, é um esporte que também exige criatividade. “Cada operador tem a sua característica. Alguns têm qualidade de liderar, outros de “ir para cima”. Tem aquele que fica no meio do canto e os snipers que ficam mais parados. Tanto a questão física do operador, quanto a idade, não são impedimentos. Qualquer pessoa consegue jogar. Só precisa achar o equipamento certo e a sua função dentro do jogo e da equipe. Todos são importantes”, expõe Rhamon.

O veterano no esporte ressalta que para comprar uma arma de airsoft é necessário ser maior de 18 anos. O armamento precisa ser comprado no Brasil e com nota fiscal. “É proibido a venda para menor de 18 anos, mas não há nada específico sobre a prática, então vai depender do local e das pessoas com as quais vai jogar. Às vezes, tem pais e filhos que praticam juntos, mas há riscos, por conta de os jogos serem em construções abandonadas e no meio do mato”, salienta.

 

Cenários

Em Marechal Rondon, o Legionários costuma realizar seus jogos na antiga peixaria Vital e na pedreira. O antigo seminário em Nova Santa Rosa também é palco para as missões da equipe. O grupo conta atualmente com 40 membros distribuídos em Marechal Rondon, Quatro Pontes e Entre Rios do Oeste.

“Quando tem jogo, nós divulgamos e as equipes de outros municípios vêm para a cidade, assim como nós também vamos para outros lugares. Além disso, procuramos fazer jogos aqui na cidade para quem não tem disponibilidade de ficar o dia todo fora”, pontua Rhamon.

O operador menciona que os jogos são realizados em quase todos os fins de semana. “Praticamente todos os jogos são em equipes, dependendo do número de participantes. Se há poucas pessoas, como cinco ou seis, é possível fazer um jogo de duplas ou cada um por si, algo mais recreativo”, salienta.

 

Sem violência

Rhamon esclarece que ao contrário do que muitas pessoas pensam, o airsoft é uma atividade divertida. “Nenhum dos operadores faz apologia à violência. É um jogo bem divertido, legal, você faz muita amizade. Se vemos que algum operador utiliza a arma para ameaçar outra pessoa, ou ainda tentando vender sem a ponta vermelha ou laranja, a equipe não permite”, informa.

Ele destaca o fato de a população ainda desconhecer que a arma de airsoft não é letal, o que fez com que em várias situações de jogo a polícia fosse acionada. “Não andamos com as armas à mostra, mas, sim, sempre no porta-malas do veículo para não chamar atenção para algo que não tem necessidade”, frisa.

 

Réplicas das armas, por segurança, obrigatoriamente têm as pontas vermelhas ou laranjas e são regulamentadas pelo Exército Brasileiro para a prática do airsoft (Foto: O Presente)

 

 

Cenários escolhidos pelos operadores normalmente englobam lugares abandonados e desabitados, como casas, terrenos e construções antigas (Foto: O Presente)

 

Benefícios

Além de divertido, o esporte é saudável; e benefícios físicos, mentais e sociais são proporcionados pelos combates, que podem envolver exercícios de resistência física, habilidades de tiro e trabalho em equipe. Força e coordenação motora também são exigidas no esporte. O corpo é exigido pelo jogo, cujos praticantes podem correr, agachar, pular e esquivar.

A coordenação é trabalhada na sincronia com os momentos de tiro e corrida juntamente com os exercícios exigidos pelo combate. A autoconfiança é adquirida e o estresse é aliviado. “O esporte é em equipe e algumas missões são concluídas apenas com a colaboração de todos, mas o participante pode desenvolver habilidades de liderança”, destaca Rhamon.

Nas batalhas, o jogador tem de dar o melhor de si. Durante a prática do esporte, adrenalina é liberada e proporciona sensação de um misto impressionante de agitação e bem-estar.

 

Integrantes do grupo Legionários Airsoft Marechal (LAM) (Foto: O Presente)

 

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