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Marechal Gole fatal

Alcoolismo matou 26 rondonenses nos últimos cinco anos

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Foram três mortes no município devido a este problema em 2020. Total de internações via Sistema Único de Saúde chegou a 25 no ano passado pelo alcoolismo. Psiquiatra destaca que pressão do dia a dia e a Covid-19 causam insegurança em muitas pessoas que têm buscado no álcool um falso alívio (Foto: Agência Brasil)

O abuso no consumo de substância alcoólica foi responsável por 26 óbitos de cidadãos residentes em Marechal Cândido Rondon nos últimos cinco anos, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Três deles foram registrados no ano passado, dos quais dois tendo como causa doença alcoólica do fígado e um atribuído como transtorno mental e comportamental devido ao uso de álcool.

De 2016 a 2020, a 20ª Regional de Saúde de Toledo registrou 219 falecimentos em municípios da sua área de abrangência, sendo 136 por doença alcoólica do fígado e 83 no caso de transtorno mental e comportamental devido ao uso de álcool. Em ambas as situações houve 41 mortes exclusivamente ano passado na regional. As informações também constam no SIM.

Cento e trinta e seis pessoas dos municípios da área de ação da 20ª Regional foram encaminhadas para internamento hospitalar no ano de 2020 por transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool. Dentre eles, 25 rondonenses, conforme o Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), do Ministério da Saúde. A relação detalhada pode ser observada nas tabelas a seguir.

 

TRANSTORNOS

O psiquiatra rondonense Roberto Machado informa que no decorrer do ano passado o município foi responsável pelo atendimento de em torno de 200 casos no Ambulatório de Saúde Mental, além de outros cerca de 180 casos via Centro de Atendimento Psicossocial (Caps), englobando os mais diversos transtornos mentais e comportamentais provocados pelo alcoolismo.

“Todos os transtornos de dependência ou mentais vêm aumentando na sociedade e não só agora, porque os fatores hostis em relação à pessoa estão crescendo no mundo. As pessoas vêm em uma situação de sofrimento devido ao modelo que pressiona muito, o que eleva o nível de ansiedade. Nesse sentido a pandemia é um agravante”, pontua.

O psiquiatra diz que trata pacientes de todos os lugares. “Então, possuo amostragem geral e isso é bem claro para mim. Na maioria das pessoas a ansiedade está acima do limite, o que pode desencadear outros quadros de ruptura na estrutura, produzindo rachaduras até desenvolver outros quadros como o alcoolismo, que é uma busca de alívio”, expõe.

Machado lembra que o alcoolismo possui uma situação “de peso”: o fator genético. “Situações estressantes contribuem para aumentar a dependência dessa substância, mas, obrigatoriamente no alcoolismo, é preciso ter o fator genético, pois se não existir a pessoa pode passar pela pior situação estressante imaginável e ainda assim não parte para o alcoolismo. Se tiver o fator genético, mesmo que o problema não seja grande, uma vez que é herdado de familiares, o cidadão associa com fatores estressantes e pode desencadear a dependência alcoólica”, explica.

 

Psiquiatra Roberto Machado: “No alcoolismo obrigatoriamente há o fator genético. Neste caso, mesmo que o problema não seja grande, uma vez que é herdado de familiares, o cidadão associa com fatores estressantes e pode desencadear a dependência alcoólica” (Foto: Joni Lang/OP)

 

AGRAVANTE

Conforme o médico, a pandemia do coronavírus é um fator agravante do alcoolismo, porque ajudou a aumentar a ansiedade das pessoas. “É estressante, cria terror, pânico, medo e insegurança, desencadeando vários quadros, incluindo o alcoolismo. Outra questão é o desemprego, a diminuição de renda, então qualquer fator, sensação de perda e insegurança leva a pessoa para o alcoolismo quando já possui o fator genético. Isso ocorre porque ela tem o terreno próprio, fértil para isso”, reitera, acrescentando: “É como se a pessoa tentasse fugir do sufoco, do sofrimento, ou seja, produz um falso alívio”.

Segundo ele, a pandemia desestabilizou todas as pessoas indiferente de classe social, umas mais e outras menos. “Nós precisamos de rotinas fixas, pois servem para nos sentirmos mais seguros. Se tirar a rotina de uma pessoa ela fica insegura e aumenta a ansiedade, fica no ar perdida. Todas as pessoas têm uma quantidade enorme de rotinas que nem se dão conta, daí a importância de segui-las”, pontua.

 

REFERENCIAIS

Machado enaltece que os cidadãos precisam ter referenciais em suas vidas para se amparar. “Em períodos de insegurança e de fragilidade precisamos de referenciais como família, religião, um apego a Deus, e algumas amizades boas. É importante e ajuda as pessoas a se manterem firmes em momentos de fragilidade, e isso precisa ser entendido por todos. Se ficar sem referenciais as pessoas se perdem, isso porque emocionalmente o ser humano é muito frágil. Ele precisa de algumas pessoas ou exemplos para se segurar nesses momentos em que se sente frágil, triste e/ou com medo”, descreve.

O psiquiatra diz que quando a pessoa se encontra no limite, tendo sinais de dependência, é chegado o momento de procurar assessoria técnica, que inclui equipes como as do CAPs de Marechal Rondon, com psicóloga, psicopedagoga, assistente social e médico psiquiatra para assessorar tecnicamente inclusive se precisar de auxílio de medicação. “Há muitas opções boas, uma gama enorme de medicações que podem ajudar as pessoas”, finaliza.

 

 

 

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