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Marechal Entrevista ao O Presente

“Algumas empresas demitiram, mas com a retomada das atividades torcemos para que isso não aconteça mais”, diz presidente da Acimacar

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Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (Acimacar), Ricardo Leites de Oliveira: “Sabemos que o setor de saúde pede o isolamento, mas precisamos que a economia volte a trabalhar. É uma equação muito difícil” (Foto: Joni Lang/OP)

Gestores municipais e estaduais têm vivido um dilema nos últimos dias. De um lado profissionais de Saúde defendem o isolamento social como forma de conter o coronavírus. No entanto, o fechamento de empresas fez a economia parar e, como consequência, ocasiona desemprego e falta de renda.

Em entrevista ao Jornal O Presente, o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (Acimacar), Ricardo Leites de Oliveira, admite ser uma equação difícil, mas frisa que a entidade defende o interesse de seus associados, sendo que a maioria cobrou a reabertura do comércio, que ocorreu na terça-feira (31). “Se fizermos o isolamento total na nossa cidade, infelizmente teremos um isolamento social muito grande, pois muitas pessoas não têm de onde tirar sua renda familiar. E como eles terão algo para comer?”, questiona o dirigente. Confira.

 

O Presente (OP): Na última sexta-feira (27) a Acimacar se posicionou favorável à reabertura do comércio. Foi uma decisão unânime?

Ricardo Leites (RL): Sim, essa decisão foi unânime. Fizemos uma videoconferência com todos os diretores na sexta-feira pela manhã, mas na quinta-feira (26) à noite também tivemos uma reunião com o Conselho Consultivo, que envolvem os ex-presidentes da Acimacar. Todos foram a favor da reabertura do comércio após o término do decreto. Nós não tivemos nenhum posicionamento contra. Os únicos posicionamentos que tivemos eram para que conseguíssemos que as empresas tivessem um controle de isolamento e também de higiene.

 

OP: A Acimacar pode reavaliar essa posição ou ela fica mantida por enquanto?

RL: Por enquanto fica mantida a reabertura. Não foi a Acimacar que decidiu sobre a reabertura, essa decisão cabe ao Centro de Operações Emergenciais (COE) da prefeitura e daí o prefeito emite um decreto. A Acimacar emitiu sua opinião, mas cabe à prefeitura se esse decreto é prorrogado ou cancelado. Nós acreditamos que a reabertura das empresas amanhã (terça, 31) acontece normalmente. A Acimacar está fazendo a partir de hoje (segunda-feira, 30) uma campanha de conscientização, tanto dos empregados quanto para os empregadores, para que tenham noção de como organizar as entradas, os fluxos dentro das empresas, a questão de higienização, o isolamento e a distância do público dentro das empresas.

 

OP: Como o senhor avalia que será a reabertura do comércio após o período fechado? Vai haver movimento ou as vendas serão tímidas?

RL: Em alguns setores o movimento será grande logo no início. Eu sou arquiteto, então há muitas obras que estão acontecendo. A construção civil não foi paralisada, mas as lojas de materiais de construção só puderam atender via telefone ou WhatsApp. Existem muitos clientes que precisam escolher acabamentos, revestimentos para suas obras, e com a abertura física das lojas poderão fazer as compras. Acredito que nesses primeiros dias muitas empresas do setor da construção civil terão um movimento grande. Já o setor de venda de roupas e calçados acredito que terá um crescimento menor, pois todos estão com medo da contaminação do vírus. Então só irá comprar uma roupa quem realmente tiver necessidade. Haverá venda sim, mas será menor do que nos outros setores.

 

OP: Diante do cenário, é possível avaliar daqui para frente como fica a inadimplência e o desemprego?

RL: Nós ainda não podemos avaliar. Sabemos que algumas empresas fizeram pequenas demissões, mas com a retomada das atividades torcemos para que isso não aconteça, que cessem as demissões. O governo federal e o Governo do Estado fizeram algumas políticas nesse sentido, com empréstimos e financiamentos para que as empresas tenham fluxo de caixa para continuarem trabalhando. O governo federal fez um programa de incentivo de crédito para os autônomos, porque como muitos não estão trabalhando não têm de onde tirar renda. Sabemos que com esses incentivos haverá redução no número de demitidos.

 

OP: O senhor acha que as medidas anunciadas pelo governo estadual e federal são suficientes neste momento?

RL: Ainda não temos números para falar se isso é suficiente ou não. No Brasil, alguns setores da economia têm fluxo de caixa de 15, 20 até 30 dias, mas nós sabemos que não é tão simples assim. Nos Estados Unidos as empresas têm em média um fluxo de caixa de 23 dias, e olha que lá é um país bem organizado financeiramente. Acreditamos no Brasil o fluxo médio de caixa das empresas deve ser de 18 a 20 dias. Nós já tivemos um período de dez dias com as empresas fechadas, então será algo bem difícil de saber se essas empresas vão conseguir ter uma retomada normal ou se vão precisar destes empréstimos do governo federal. O governo federal fez a prorrogação dos impostos que seriam pagos nos meses de abril, maio e junho para outubro, novembro e dezembro. Eu acho que isso ainda não irá resolver o problema de algumas empresas, pois nesses meses pagarão dobrado esses impostos, tendo em vista que no final do ano nós ainda temos o 13º e férias. Então, a Acimacar vai enviar um ofício para a Caciopar (Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresarias do Oeste) e para a Faciap (Federação da Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná) para que nós consigamos fazer com que esses impostos sejam parcelados no ano que vem.

 

OP: Alguns segmentos terão mais dificuldade em se recuperar. A Acimacar teme pelo fechamento de algumas empresas no município?

RL: Conversamos com alguns presidentes de cooperativas de crédito e eles falaram que, pelo fluxo das contas de empresas, muitas não vão suportar essa crise. Então a gente acredita que, infelizmente, algumas empresas na nossa cidade e na região irão fechar. Mas talvez com esse empréstimo que o governo federal e o Governo do Estado farão pode melhorar a saúde financeira destas empresas. No entanto, no cenário atual algumas iriam fechar sim.

 

OP: Dentro do próprio governo federal não há um entendimento a respeito do isolamento. Enquanto presidente da Acimacar, como o senhor avalia esse cenário em que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é a favor da medida e o presidente Jair Bolsonaro sai às ruas e acha que a vida precisa ser retomada?

RL: Se fizermos o isolamento total na nossa cidade, infelizmente teremos um isolamento social muito grande, pois muitas pessoas não têm de onde tirar sua renda familiar. E como eles terão algo para comer? O governo federal anunciou uma bolsa de R$ 600 por família, mas não irá sustentá-la com esse valor. Sabemos que se houver isolamento social total nesse período as pessoas passarão fome, e isso pode gerar um caos total. Mas nós temos que pensar também que o isolamento é importante. Por isso a Acimacar pede às pessoas que não precisam sair, que fiquem em suas casas e façam o isolamento. Idosos e pessoas com problemas de saúde, não saiam de casa. As creches retornarão somente a partir do dia 06 de abril, então pedimos aos empresários que puderem auxiliar seus funcionários nesse período, que flexibilizem horários ou permitam o trabalho remoto para que eles possam cuidar dos seus filhos.

 

Presidente da Acimacar, Ricardo Leites de Oliveira, ao O Presente: “Se até a primeira quinzena de maio não conseguirmos sanar a questão do coronavírus, a Expomar e a Expo Rondon serão canceladas” (Foto: Joni Lang/OP)

 

OP: O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou atrás na decisão em relaxar o isolamento após o país se tornar o novo epicentro do coronavírus. O senhor teme que isso chegue ao Brasil e que amanhã ou depois seja preciso voltar atrás também e fechar novamente o comércio, perdendo o controle da situação?

RL: Sabemos que a situação da pandemia está crescendo cada vez mais, mas temos que ser humildes e reconhecer nossos erros. Se por acaso for necessário o fechamento das empresas, nós assim faremos. Nós não podemos fazer com que as vidas humanas sejam privadas. Nós temos que continuar trabalhando hoje, mas se for necessário fecham-se as portas e faz isolamento. Nos Estados Unidos, o Trump pediu uma coisa, agora teve que retornar, fazer um pedido para que seja feito o isolamento. Eu acredito que isso também vai acontecer no nosso país. Em Santa Catarina o governador havia falado na quinta-feira que reabriria todo o comércio, mas ontem (domingo, 29) fez um novo decreto isolando novamente o Estado. As pessoas têm que entender que é algo novo. Nós não sabemos como isso funciona, ninguém passou por isso antes. Então nós estamos, infelizmente, passando por experiências que ninguém passou. Temos que entender que se for necessário fazer a paralisação novamente das empresas, nós faremos para proteger as pessoas em Marechal Cândido Rondon.

 

OP: As redes sociais acabam se tornando um termômetro para medir como é a percepção das pessoas em relação àquilo que acontece. A decisão pela reabertura do comércio gerou críticas, mas também posicionamentos favoráveis. Como lidar nesse momento com essa equação, em que de um lado está a economia e de outro a saúde? Como chegar a um consenso?

RL: Nós tivemos mais pedidos para que fosse feita a reabertura da economia do que o isolamento. A Acimacar representa hoje mais de 1,9 mil empresas. São mais de 30 mil pessoas que estão envolvidas nas empresas, como colaboradores, famílias que sobrevivem dessas empresas, então todos pediam que fosse feita essa retomada. Poucos pediam para que não houvesse a retomada e, sim, o isolamento total. Sabemos que o setor de saúde pede o isolamento, mas precisamos que a economia volte a trabalhar. É uma equação muito difícil para conseguirmos organizar, mas os pedidos que nós tivemos foram pela reabertura do comércio.

 

OP: A Expo Rondon acontece todos os anos em julho, sendo que cabe à Acimacar organizar a Expomar. A festa do município deve ser realizada ou está em avaliação?

RL: Há cerca de 15 dias tivemos uma reunião com os diretores da Acimacar, o prefeito Marcio Rauber e o presidente da Proem (Fundação Promotora de Eventos), Anderson Loffi, para decidir justamente isso. Ainda não sabemos a que ponto chegará essa epidemia aqui em Marechal Cândido Rondon. Conversamos que se até a primeira quinzena do mês de maio a situação for normalizada, poderá haver a Expo Rondon. Mas se até esse período não acontecer todas as licitações, pois os contratos precisam ser feitos, infelizmente a festa não será realizada. Estamos torcendo para que o evento ocorra, pois movimenta muito a economia de Marechal Cândido Rondon. Porém, se até a primeira quinzena de maio não conseguirmos sanar a questão do coronavírus, a Expomar e a Expo Rondon serão canceladas.

 

OP: Se não acontecer em julho a Acimacar defende que a data seja remanejada para outro mês, mas que não haja cancelamento da festa?

RL: Isso que estamos pedindo: se não acontecer em julho, mas que possa acontecer mais para frente. É uma situação delicada, pois há muitos eventos já marcados para o Parque de Exposições. A própria Acimacar tem reservado o Centro de Eventos para a segunda quinzena de agosto para promover o Fórum Empresarial, que também não sabemos se irá acontecer. Os contratos com os palestrantes estão na mesa da presidência para serem assinados, mas não foram ainda porque aguardamos o que irá acontecer. Talvez esses eventos que a Acimacar organiza não acontecerão no mês de junho e julho. Vamos torcer para que a festa não seja cancelada, que seja prorrogada talvez para o mês de agosto, setembro, outubro, porque esse ano Marechal Cândido Rondon faz 60 anos e é a 40ª Expomar que a Acimacar organiza.

 

OP: A Acimacar tem recebido pressão de algum segmento, como por exemplo de organização de eventos, bufê, restaurante, para que o prefeito Marcio Rauber reveja algumas medidas do decreto?

RL: Algumas medidas do decreto são uma cópia do que vem do Governo do Estado. O governo estadual que cancelou os eventos que reúnam mais de 50 pessoas. O decreto estadual também pede que academias e outras atividades não funcionem. Não é o decreto do nosso município e, sim, um decreto estadual. Sabemos que muitos setores vão sofrer com isso. Todas essas empresas, como de bufê, de locação de mesas, toalhas, garçons, passarão por momentos difíceis, mas temos que entender que como é um decreto estadual precisamos respeitar. E mesmo que fosse municipal nós precisamos respeitar. É preciso deixar sempre bem claro que não é a Acimacar que fez esse decreto. Nós participamos do Centro de Operações Emergenciais (COE), mas esse decreto é feito em conjunto com enfermeiros, médicos, Secretaria de Saúde, órgãos de segurança do nosso município, Polícia Militar, Polícia Civil, enfim, todos juntos para que possamos fazer um decreto que seja bom para a saúde financeira e a saúde física das pessoas.

 

OP: Já que a Acimacar faz parte do COE, dentro das discussões que ocorrem no colegiado o senhor acredita que Marechal Cândido Rondon está preparado para a pandemia?

RL: De acordo com os números que foram apresentados pela prefeitura e pelo Hospital Rondon, Marechal Cândido Rondon tem 12 ventiladores para pacientes que precisarem de internamento. É um número grande comparado com outros municípios. Há cidades da nossa região que não têm. Na semana passada tivemos uma reunião do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD) e há sugestão de algumas Regionais de Saúde para que seja possível pegar em cidades que às vezes têm somente um ventilador, mas que junte para que seja possível formar um, dois ou três centros onde todos podem ser atendidos. Onde tem apenas um ventilador, será preciso montar uma equipe para trabalhar 24 horas por dia, e isso é inviável. Com 12 equipamentos, é mais fácil em Marechal Rondon acrescermos mais dois ou três ventiladores. Poderíamos ter centros em Cascavel, Toledo e aqui, nas cidades maiores, para que nós pudéssemos conter de forma mais organizada e com um respaldo maior de equipe médica.

 

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