Fale com a gente

Marechal Aulas não presenciais

Ano letivo da rede municipal rondonense deve ser concluído em 2020

Publicado

em

Secretaria de Educação de Marechal Rondon alterou o calendário, antecipando recessos. Reposição dos dias perdidos já está programada e prevê aulas aos sábados quando puderem ser presenciais. Cerca de 90% dos pais estão buscando e devolvendo as atividades para serem aplicadas em casa (Foto: O Presente)

Há quase três meses a rede municipal de educação de Marechal Cândido Rondon vive uma nova realidade: atividades não presenciais. Após a suspensão das aulas presenciais no mês de março, em decorrência da pandemia do coronavírus, essa foi a alternativa encontrada para que os estudantes dos iniciais do Ensino Fundamental, do 1º ao 5º ano, dessem continuidade ao ano letivo e não perdessem o vínculo com as escolas e os estudos. Na rede estadual de ensino, a prática também foi adotada, assim como na educação privada, todavia com outros métodos, como aulas virtuais.

“O primeiro material de complementação escolar foi elaborado pela secretaria e encaminhado às escolas e aos professores, que, juntamente com coordenadores e direção, distribuíram as atividades impressas para as famílias. Do segundo material em diante o planejamento e a elaboração das atividades ficaram a cargo do professor para sua turma”, explica o diretor de ensino da Secretaria Municipal de Educação, Alaércio Pinati.

De acordo com a secretária de Educação, Márcia Winter, hoje o município possui um norte, mas no começo, por ter sido uma situação inusitada, houve certas dificuldades. “Nós fizemos as primeiras atividades porque não sabíamos como proceder. Fomos aprimorando o processo e depois os professores começaram a elaborar”, reitera, acrescentando: “Em conformidade com órgãos fiscalizadores, mantemos os contratos de professores e estagiários. Por questões sanitárias, o trabalho acontece em forma de escala, 40% das horas feitas no local de trabalho e 60% de trabalho remoto”.

Pinati frisa que toda a base legal formulada em Marechal Rondon para iniciar as aulas não presenciais está pautada em regulamentações e instruções do Ministério da Educação (MEC), Conselho Estadual de Educação e da Secretaria Estadual de Educação (Seed).

Secretária de Educação de Marechal Rondon, Marcia Winter: “Sinto que os alunos no começo estavam mais motivados em aprender as coisas, porque era diferente. Agora vejo que estão perdendo o interesse, estão cansando e até mesmo saturados: querem voltar para a escola” (Foto: O Presente)

 

CALENDÁRIO LETIVO

Marcia lembra que antes de partir para essa nova modalidade de aulas, a comunidade escolar foi acionada. “Nós tínhamos duas opções e as explicamos: deixaríamos o ano rodar sem atividades e reporíamos esses dias posteriormente ou então faríamos as atividades remotamente para validar como dia letivo, que é como a maioria dos municípios está fazendo e como nós também optamos por fazer”, menciona.

Uma das preocupações dos pais, segundo ela, é se o ano letivo será concluído ainda em 2020. “Estamos seguindo o encaminhamento da Seed e, se seguir do jeito que está, terminamos ainda neste ano”, projeta.

Para que isso seja possível, aponta Pinati, a Secretaria de Educação se reuniu com os diretores dos educandários e alterou o calendário letivo. “Antecipamos os recessos e computamos a partir daí os dias letivos e a carga horária. A reposição dos dias perdidos já está toda programada nesse calendário, tendo algumas aulas aos sábados quando puderem ser presenciais”, informa.

Diretor de ensino, Alaércio Pinati: “Reconhecemos a dificuldade por parte dos pais e responsáveis. Muitos trabalham e ajudam os filhos à noite; outros pais não têm formação acadêmica. O importante é dar o seu máximo e sempre recorrer ao professor via on-line” (Foto: O Presente)

 

PARTICIPAÇÃO

Segundo Márcia, cerca de 90% das famílias estão retirando as atividades impressas nas escolas, conforme solicitado pela Secretaria de Educação, e devolvendo-as dentro do cronograma quinzenal ou, em alguns casos, depois dos prazos. “Optamos pelo material impresso pensando na realidade das nossas crianças, pois muitas não têm meios para acessar plataformas on-line. É claro que além dessas atividades impressas, os professores mandam vídeos, atividades extras, explicações via grupo no WhatsApp. Há toda uma interação acontecendo”, destaca a secretária.

 

ANO DIFÍCIL

A chefe da pasta diz que o mesmo currículo que seria feito nas aulas presenciais está sendo utilizado nesse momento. “A qualidade não é a mesma, todos estamos cientes, tanto que os professores não exigem tanto. As principais coisas serão assimiladas. São menos atividades, respeitando essas dificuldades para o aluno e até para o pai que acompanha. É um ano difícil, um ano em que se está perdendo, estamos frustrados, ninguém está contente com a situação, mas precisamos achar uma saída e buscamos fazer o melhor”, resume.

O diretor de ensino salienta que há o reconhecimento da dificuldade por parte dos pais e responsáveis. “Muitos trabalham e ajudam os filhos à noite. Outros pais não têm formação acadêmica e têm dificuldades em auxiliar os filhos. O importante é dar o seu máximo e sempre recorrer ao professor via on-line”, considera Pinati, emendando que encontros presenciais podem ser agendados em alguns casos.

 

INTERESSE DIMINUIU

Em relação ao acolhimento das aulas não presenciais, Márcia afirma que a empolgação inicial diminuiu. “Tudo era novidade e havia uma busca muito grande em fazer. Até então, acreditavam que ia durar uma semana, 15 dias ou um mês, mas isso foi passando. Sinto que os alunos estavam mais motivados em aprender as coisas, porque era diferente. Agora vejo que estão perdendo o interesse, estão cansando e até mesmo saturados: querem voltar para a escola. É claro, hoje em isolamento eles estão proibidos de sair, passam o dia inteiro em casa, quando antes frequentavam além de escola outros espaços. Eles querem voltar ao normal”, ressalta.

Um dos fatores observados, de acordo com o diretor de ensino, e que dificulta a realização das atividades, além da ausência do docente, é o ambiente residencial. “Mesmo com pai, mãe ou responsável ajudando, a criança vê a televisão, o videogame, o animal de estimação, os brinquedos e acaba se distraindo”, pontua.

Os professores, expõe a secretária, partilham do mesmo sentimento de saudade. “Por mais que estejam em suas casas e sigam trabalhando, sinto que às vezes não há mais tanto ânimo. Por outro lado, vejo superação, adaptação à essa nova circunstância e procura constante por novas ferramentas tecnológicas, mídias e aulas diferenciadas”, considera.

 

ATENÇÃO ESPECIAL

Pinati frisa que as crianças que necessitam de atenção especial estão recebendo normalmente. “O professor se atenta a isso e os estudantes que precisam de adaptação curricular, alunos inclusos têm suas atividades adaptadas”, destaca.

Além disso, a assistência está sendo prestada. “O atendimento com as psicólogas, equipe multidisciplinar, psicopedagogas e fonoaudiólogas está acontecendo no paço municipal”, informa.

 

EDUCAÇÃO INFANTIL

Diferente do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), a Educação Infantil, para crianças de zero a três anos, tem atividades encaminhadas, mas a realização é optativa. “Os professores mandam atividades simples, histórias, vídeos e links via WhatsApp. Essa interação serve para manter o vínculo, para que a criança continue reconhecendo a figura do professor. Contudo, os envios são sugestões, não há obrigatoriedade e a família decide se faz”, pontua Márcia.

 

MAIOR DIFICULDADE É ENTRE ALUNOS QUE ESTÃO APRENDENDO A LER E ESCREVER

Na Escola Municipal Criança Feliz, a comunidade escolar se desdobra para que o aprendizado não cesse. “As aulas não presenciais se diferem muito do que estávamos acostumados, mas entendemos a necessidade. Essa prática se torna fundamental, uma vez que as crianças se sentem, de certa forma, próximas à escola e não perdem o hábito de estudar, mesmo sem vir para a instituição diariamente”, considera a diretora do educandário, Luciane Heydt Warken.

Diretora da Escola Municipal Criança Feliz, Luciane Warken: “Estamos todos sentindo falta dos alunos. O agito deles é o que faz a escola ter vida. Temos percebido nos últimos dias a escola muito quieta e é uma situação muito atípica, mexe com o emocional de todos nós” (Foto: O Presente)

 

MAIOR DIFICULDADE

Para ela, a maior dificuldade se dá entre alunos que estão aprendendo a ler e a escrever. “Eles não têm o processo de alfabetização, de leitura e de escrita totalmente consolidados. Dessa forma, acabam necessitando do auxílio de um adulto. Essa questão exige ainda mais atenção dos pais, que precisam intermediar a realização das atividades. Fica cada vez mais evidente o quanto é importante estabelecer uma parceria entre escola e família. Juntos precisam buscar que o aprendizado das crianças aconteça”, destaca.

 

FAMÍLIA E ESCOLA

Esse elo cada vez mais fortalecido, entende Luciane, é resultado da dedicação de todas as partes. “Sabemos que muitos pais trabalham e nos dias de entrega de atividades os professores ficam até durante o almoço para fazer esse contato. A criação de grupos de WhatsApp com pais, professores, suporte pedagógico e direção também tem sido uma boa forma de comunicação”, avalia.

Renato Aparecido Romero, professor de Educação Ambiental, Artes e Ciências nos 4º e 5º anos do Criança Feliz, afirma que há muita flexibilização nos atendimentos on-line. “Não nos preocupamos só na forma de ensinar, mas também em como o aluno recebe a atividade. O professor atua como mediador do conhecimento, proporciona a interpretação das atividades para que o estudante possa realizá-las. Como muitos pais trabalham o dia todo e se dedicam aos filhos à noite, estamos dispostos a tirar dúvidas no momento preciso, não somente em horário de aula”, ressalta.

Renato Romero, professor de Educação Ambiental, Artes e Ciências nos 4º e 5º anos do Criança Feliz: “O aprendizado acontece, a criança aprende e assimila novos saberes, mas talvez de forma mais rasa” (Foto: Divulgação)

 

APRENDIZAGEM

Diante das adversidades do momento, Romero expõe que adaptações foram feitas no que diz respeito à quantidade de conteúdo. “O aluno aprende sim, mas a cobrança de conceitos novos tem que ser mais simples, tendo em vista a falta do professor para tirar dúvidas pontuais. O aprendizado acontece, a criança aprende e assimila novos saberes, mas talvez de forma mais rasa”, opina o docente.

“Grande parte dos pais não tinha tanto conhecimento dos processos que acontecem na escola e agora vejo eles tendo um contato maior com professores e atividades. Talvez por meio desse novo normal mais pais enxerguem a importância do papel do educador”, deseja.

 

EM CASA

Tânia Urnauer, mãe do Thiago do 1º ano e da Mariana do Infantil VI, é professora e faz parte dos poucos pais que estão em casa e pode se dedicar mais aos momentos de ensino. “Procuro deixar isso muito claro para os meus filhos. Eles têm sorte em ter isso, ao contrário de alguns colegas. De um modo ou de outro, todos os pais têm vontade de ajudar os filhos”, solidariza.

Ela relata que os filhos tiveram dificuldades no início do processo, mas que agora entendem. “Nos primeiros dias em casa eles não entendiam e sempre queriam ir à escola. Sempre expliquei que era por causa do coronavírus e hoje eles têm essa noção de se proteger e proteger seus colegas”, conta a mãe.

Em uma família com mais de uma criança como a dela, Tânia enaltece a importância de atender cada filho por vez. “Sento com a Mariana e o Thiago, mas ajudo cada um separadamente. Mesmo que não seja do seu conteúdo, o outro já vai ouvindo o que estou falando”, expõe.

Tânia Urnauer em momento de estudos com os filhos Thiago e Mariana (Foto: Divulgação)

 

SAUDADES

Luciane comenta que percebe no professor a angústia de estar longe da sala de aula e dos alunos, bem como das crianças, que têm na escola um referencial. “Imaginar elas realizando uma atividade sem a presença do professor, que retoma e detalha quantas vezes for necessário, é delicado. Precisamos agradecer os pais que têm auxiliado na realização das atividades”, gratifica, emendando: “Estamos todos sentindo falta dos alunos. O agito deles é o que faz a escola ter vida. Temos percebido nos últimos dias a escola muito quieta e é uma situação muito atípica, mexe com o emocional de todos nós, mas sabemos que o momento é de cautela e preservação da vida. Esses cuidados são fundamentais para que depois da pandemia todos possamos estar bem”.

 

O Presente

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente