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Marechal Espiritualidade x consumo

Apesar da importância para o aquecimento das vendas do comércio, Páscoa não é só chocolate

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(Foto: Leme Comunicação)

 

Será que ao longo dos anos o sentido da Páscoa mudou? Os supermercados e lojas especializadas em vendas de chocolates e produtos especiais para a data talvez possam responder esta questão.

A cada ano, a indústria de chocolates aposta em inovações para conquistar os consumidores, especialmente por esta ser a segunda melhor data de vendas para este mercado, perdendo apenas para o Natal.

“Que é agradável, divertido e até prazeroso receber e dar ovos de chocolate, isso é verdade. Entretanto, estamos diante de uma data importante para os cristãos e, assim como no Natal, outros personagens ficam em evidência e são intensamente lembrados principalmente no comércio pelo viés do consumo”, pontua a consultora em gestão de pessoas e relacionamento humano, Marta Schumacher.

Pela vivência da tradição dos chocolates herdada de nossos pais e avós, ela considera que especialmente as crianças aprendem a dar muita atenção aos personagens desta data, tendo uma imagem distorcida da Páscoa. “Muitas vezes, é esquecido de comentar, dialogar e levar as crianças a compreender o verdadeiro motivo desta importante comemoração cristã. Até mesmo muitos adultos já não sabem mais o verdadeiro sentido da Páscoa. Estão mais focados na compra dos chocolates e presentes de seus entes queridos e muito desligados da razão principal da comemoração pela qual a data existe”, observa.

 

Celebração cristã

A Páscoa é hoje a maior de todas as festas cristãs. Maior até que o Natal. Marta explica que a Páscoa é uma comemoração que surgiu na tradição judaica em memória da libertação do povo hebreu da escravidão no Egito. “Essa celebração recebeu o nome de Pessach, que em hebraico significa passagem, nesse caso, da escravidão à liberdade. Daí surgiu a palavra Páscoa”, expõe.

No cristianismo, por sua vez, a Páscoa possui um significado distinto da crença judaica, mas, apesar disso, a festa cristã possui uma ligação direta com a dos judeus. “Para os cristãos, a Páscoa relaciona-se com a morte na cruz e a ressureição do mestre Jesus Cristo”, diz.

Dentro da tradição cristã, a ressurreição de Cristo aconteceu no terceiro dia após sua crucificação. “É de grande significado para os cristãos do mundo inteiro porque evidencia a importância da ressurreição de Cristo. O próprio apóstolo Paulo afirma em sua carta registrada em I Coríntios 15:14 que ‘Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, também é vã a vossa fé’. Esse pequeno trecho da Bíblia dá uma dimensão do grau de importância da ressurreição para a comunidade cristã. Ele nos dá a entender que sem a Páscoa, isto é, sem a ressurreição de Cristo, a fé dos cristãos não teria sentido prático. Os cristãos entendem que a morte de Cristo foi um sacrifício voluntário com o propósito de salvar a humanidade de seus pecados. Por meio desse sacrifício, a humanidade ganhou uma nova chance”, reflete a profissional.

Marta expõe que a Páscoa relembra a passagem da morte para a vida, considerada como renovação e renascimento; simboliza a passagem da escravidão do pecado para a liberdade da vida de Luz e presença de Deus. “A ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo simboliza o início de uma vida nova, uma vida liberta da escravidão do pecado. Não mais para relembrarmos a saída do povo do Egito, mas para sempre nos lembrarmos de sairmos do pecado. Somente podemos dizer feliz Páscoa se formos capazes de abandonar os nossos pecados e nos reconduzir para um novo modo de vida, a vida na Luz, que é Jesus”, opina Marta.

Marta Schumacher, consultora em gestão de pessoas e relacionamento humano: “Muitas vezes, é esquecido de comentar, dialogar e levar as crianças a compreender o verdadeiro motivo desta importante comemoração cristã. Até mesmo muitos adultos já não sabem mais o verdadeiro sentido da Páscoa” (Foto: Divulgação)

 

O que vamos comemorar?

Com o passar dos anos, a Páscoa se transformou em uma oportunidade de aquecimento das vendas para o comércio. “Mas nem de longe este é o seu principal objetivo”, frisa a consultora.

O sentido real da Páscoa é completamente espiritual. Na visão da profissional, isso deve ser lembrado para nossos filhos e netos. “Se os batizamos em Cristo, é importante que saibam e conheçam a sua história, a razão da sua paixão, morte e ressurreição”, complementa.

Marta enfatiza que a Páscoa é um memorial eterno que celebra a redenção, a graça e a libertação do povo de Deus das garras da morte, do pecado e da escuridão. “A belíssima simbologia que é envolvente e rica aponta unicamente para o amor de Jesus demonstrado na cruz do calvário. O Senhor nos amou e derramou seu sangue por cada um de nós e continua o aspergindo sobre nossas vidas, casas e famílias para nos guardar e mostrar o caminho da salvação. Se não pensarmos e, ainda, se não vivermos essa verdade, logo será esquecida e o que comemoraremos então?”, questiona ela.

Para não nos perder do verdadeiro sentido da Páscoa, indica Marta, devemos celebrar a Páscoa com um profundo sentimento de gratidão e euforia por aquilo que Deus fez e faz por cada um de nós. “O maior gesto do grande amor do Pai por nós foi dar o seu próprio Filho pela nossa salvação. Então, como filhos muito amados, desejamos que todos renovem a esperança, a fé, o amor e a paz em seus corações. Que todos nos sintamos restaurados e revigorados pelo verdadeiro sentido da Páscoa, e se entendermos todo o sentido desta festa grandiosa, de que depois das trevas vem a luz, podemos até comer chocolates e convidar o coelhinho, que são apenas detalhes, pois com Cristo em nossa vida certamente todos teremos uma feliz Páscoa”, conclui.

 

 

Momento de oportunidade

Talvez a celebração religiosa realmente tenha ficado em segundo plano e o mercado consumidor ganhado mais uma data especial para aumento nas vendas. Isso, no entanto, não significa que a forma que comemoramos a Páscoa deva ser abolida.

Especialmente porque a Páscoa é uma oportunidade de geração de emprego e renda, tendo em vista que nesta época do ano as empresas, supermercados e indústrias costumam aumentar a produção, demandando mão de obra temporária que, eventualmente, pode-se tornar cargos efetivos.

Além disso, a data tem extrema importância para o comércio no primeiro semestre do ano, elevando o volume de negócios para supermercados e empresas especializadas na venda de doces artesanais, como é o caso da Cravo’Ca Doces Finos.

Segundo a sócia-proprietária da empresa, Nicole München, em comparação com a Páscoa do ano passado o número de encomendas para ovos de colher – especialidade da empresa para a data – aumentou de forma significativa. “Tanto é que limitamos uma data para a realização de pedidos para que a semana que antecede a Páscoa seja focada apenas na produção, entrega e retirada dos pedidos”, menciona.

Nicole considera que a cada ano é significativo o aumento pelo consumo de produtos artesanais, que são, de certa forma, presentes mais exclusivos para datas especiais, como é o caso da Páscoa. “A procura foi bastante diversificada, tanto para os ovos maiores quanto para a opção de dois ovinhos menores, que vêm em dois sabores diferentes”, explica. “Tivemos encomendas para presentear familiares, casais, namorados, afilhados e até mesmo encomendas maiores, para equipes de funcionários”, expõe.

Apesar de essa ser uma das épocas do ano em que a empresa está a todo vapor, Nicole diz que ela e a sócia, sua mãe, Celia München, não trabalham na data de hoje (19). “Não vamos produzir, fazer entregas, nem abrir para a retirada de pedidos. A Sexta-feira Santa é um momento de espiritualidade, para relembrarmos o real significado da Páscoa e o que ela representa. Mesmo trabalhando muito neste período, não podemos esquecer do verdadeiro significado de tudo isso e deixar de ter esse momento de reflexão, oração, de estar em família”, enaltece.

Celia e Nicole München, sócias-proprietárias da Cravo’Ca Doces Finos: “Mesmo trabalhando muito neste período, não podemos esquecer do verdadeiro significado de tudo isso e deixar de ter esse momento de reflexão, oração, de estar em família” (Foto: Divulgação)

 

Crescimento

Ao passo em que os produtos artesanais ganham o mercado, há quem também não saia dos ovos de Páscoa mais tradicionais ou, pelo bolso apertado, não deixe a data passar em branco e opte, pelo menos, por barras de chocolate ou caixas de bombom.

Pelo menos foi esse o comportamento do consumidor observado pela gerente do Supermercado Copagril da Avenida Rio Grande do Sul, Chadia Ibrahim Ribeiro. “Em comparação ao ano passado, a venda de ovos comportou-se da mesma forma, mas houve um crescimento perceptível na venda de barras e caixas de chocolate”, aponta, informando que as vendas cresceram em torno de 7% nos chocolates nesta Páscoa em comparação a 2018.

Na visão de Chadia, o consumidor que não deixa a tradição de presentear com ovos de Páscoa de lado são os mais velhos. “Avôs e avós não deixam de comprar ovos para os netos”, assinala.

Pelo valor agregado do doce, no entanto, há quem se contente com barras e caixas e, ainda, cestas personalizadas que, segundo ela, congregam mais itens, sendo muitas vezes um presente único para agradar toda a família. “Pela Páscoa ser uma data religiosa e congregar o espírito familiar, as pessoas estão em clima de celebração e, por isso, acredito que não deixam de presentear com, pelo menos, uma pequena lembrança”, ressalta.

Gerente do Supermercado Copagril da Avenida Rio Grande do Sul, Chadia Ibrahim Ribeiro: “Pela Páscoa ser uma data religiosa e congregar o espírito familiar, as pessoas estão em clima de celebração e, por isso, acredito que não deixam de presentear com, pelo menos, uma pequena lembrança” (Foto: Leme Comunicação)

 

 

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