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Marechal

Atendimento psicossocial como ferramenta de integração familiar e social

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Sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais severos ou persistentes, incluindo aqueles relacionados ao álcool e às drogas, além de outras situações que impedem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Para superação destes tipos de problemas é necessário buscar ajuda. Em Marechal Cândido Rondon, um local de apoio à superação destas dificuldades é o Centro de Atendimento Psicossocial (CAPs) Laços de Amor, que conta com equipes multiprofissionais que atendem pessoas de todas as faixas etárias.

Em atuação desde novembro de 2014 no município, o CAPs faz aproximadamente cinco mil atendimentos por ano, em torno de 420 por mês, a 685 pacientes cadastrados. Destes, 278 foram encaminhados para internamentos por uso de álcool, dependência química e transtornos mentais. No local, mensalmente são cadastrados em média 20 novos pacientes.

De acordo com a coordenadora do CAPs, assistente social Rosane Herpich, a grande missão é incentivar a integração social e familiar dos pacientes, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia para interagirem com o ambiente social e cultural.

Outras ações desenvolvidas no Centro de Atendimento Psicossocial são o acompanhamento clínico e terapêutico, visando a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercícios dos direitos civis e fortalecimento dos vínculos.

A assistência inclui atendimento individual através de medicamentos, psicoterapia e orientação, atendimento em grupos, como psicoterapia, atividades de suporte social, atendimento em oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, atendimento à família, além de atividades comunitárias com foco na inserção familiar e social.

“Nós realizamos uma triagem quando da chegada do paciente para saber se é caso de CAPs ou não. Se não for, encaminhamos a outro serviço de saúde. A nossa equipe integra o Comitê Municipal de Saúde Mental e Enfrentamento à Violência, sempre com participação ativa. Acreditamos que o trabalho desenvolvido contribui à melhora de boa parte dos nossos pacientes”, menciona Rosane, lembrando que a equipe é formada por psiquiatra, enfermeira, psicóloga, assistente social, psicopedagoga, técnica de enfermagem, técnico-administrativo, zeladora, educadora física e arte terapeuta.

Fortalecer vínculos

A psicóloga Margarete Wissmann salienta que muitos cidadãos se dirigem ao CAPs com o objetivo de ajudar os familiares a resolver problemas graves. “Os casos mais comuns dos atendimentos realizados são voltados a transtornos graves como bipolaridade, depressão, esquizofrenia e problemas com álcool e drogas. Esse é o nosso público característico”, comenta.

Margarete diz que a sociedade ainda acredita que a pessoa que sofre de esquizofrenia seja agressiva. “Isso é um engano. É mais fácil ela agredir a si própria, como se mutilar ou ter um comportamento suicida, do que ferir outra pessoa. Trata-se de uma visão antiga e distorcida das pessoas”, ressalta.

Existem algumas situações de filhos que agridem os pais, o que geralmente está ligado a um surto psicótico, quando a pessoa perde a noção da realidade. “Acontece alguma situação de violência, mas quando a pessoa não está em tratamento. Os usuários que são acompanhados seguem tratamento psiquiátrico e tomam medicação, portanto têm a doença estabilizada. Por exemplo, surto psicótico não se atende aqui por ser um caso de urgência e emergência. Além desse acompanhamento e de tentar resolver os problemas dos pacientes, nós procuramos estimular o fortalecimento dos vínculos familiares e de amizade. Isso ocorre sugerindo uma percepção positiva da vida, através da religião, por exemplo”, acrescenta.

Tentativa de suicídio

Tema em voga na campanha Setembro Amarelo, o suicídio é algo tratado com muita cautela e preocupação. Margarete relata que o perfil de portadores de transtornos mentais graves e dependentes químicos – álcool e drogas – forma o público de risco nessas situações de tentativa de suicídio. “Muitos usuários vêm com esse histórico, enquanto esse tema é trabalhado por nós o tempo todo. É preciso perceber alterações de comportamento em um jovem que antes tinha bom rendimento escolar e agora tem queda no desempenho. Também há outros fatores como isolamento social e familiar, falar coisas que demonstrem falta de motivação e desânimo. Nada surge por acaso, uma vez que as pessoas acabam dando sinais”, pontua a psicóloga.

Segundo ela, muitos são os casos em que os familiares buscam ajuda, pois numa primeira tentativa a família não percebe, até que o comportamento se repete. “Nós fazemos uma avaliação para saber se também há transtorno. Entre os casos que podem desencadear essa tentativa estão rompimento social e separação e, ao contrário do que se pensa, nem sempre há condição de depressão. O mais importante é as pessoas ficarem atentas a quem estiver ao lado, pois quem pensa em tirar a própria vida sempre dá sinais. A nossa sugestão é buscar ajuda, pois sempre existe uma maneira de lidar e fazer diferente”, orienta a profissional.

Atividades físicas

Os pacientes que passam por tratamento e se encontram em uma fase mais estável gradualmente participam de atividades físicas e culturais, sendo que tais ações são desenvolvidas pela educadora física Lilian Raquel Werner e pela arteterapeuta Kleyne Paula Castro Lance (Pequena).

Lilian Werner comanda a oficina de esporte e lazer, atuando especialmente com ginástica laboral que é desenvolvida duas vezes por semana em turnos de duas horas, bem como a caminhada ao ar livre, através das academias da terceira idade. “A oficina acontece nas segundas e quintas-feiras, das 08h30 às 10h30. Os nossos pacientes da oficina já passaram pela recomendação médica ou psicóloga, portanto possuem melhores condições emocionais e físicas, mas antes disso é solicitado atestado para a atividade. São pessoas com uma situação mais confortável, abrangendo o público masculino e feminino, a maioria formada por pessoas de 20 a 40 anos”, expõe, lembrando que para o próximo ano está sendo estudada a possibilidade de disponibilizar a modalidade de badminton.

A ginástica laboral gera maior flexibilidade, agilidade, entre outros, enquanto a arte desperta a criatividade para a pessoa se expressar e estimula a concentração. “Através dessas atividades as pessoas desenvolveram potenciais que antes não eram explorados, além de trabalhar a coordenação motora e o raciocínio lógico. Considerando que alguns pacientes têm deficiência intelectual, essas atividades também podem auxiliar a desenvolver habilidades”, enaltece Lilian.

Terapia para prevenir

Kleyne Paula Castro Lance (Pequena) explica que a arteterapia é muito ampla e pode ser realizada com vários públicos. “Ela é importante para o desenvolvimento do ser humano, pois na parte da saúde mental e terapia a impressão é de que todos nós precisamos de um momento terapêutico na rotina de trabalho. É gratificante ver o envolvimento dos pacientes e reunir os grupos formados”, enfatiza.

Pequena conta que de oito a dez pessoas participam da atividade, até mesmo pelas dificuldades emocionais. “Eu procurei entender o que eles gostavam ou não de fazer, pois a frustração em alguns casos ocorre ao trabalhar com aquilo que não gosta, então são disponibilizados outros trabalhos manuais. O preconceito quanto a quem tem transtorno mental deve ser combatido porque isso não é contagioso. A saúde mental deve ser tratada com franqueza. Para que haja integração, todo mês fazemos uma atividade com a participação de todos os pacientes, como festa junina, bingo, apresentação de ginga e oficinas”, menciona.

As atividades realizadas envolvem pintura livre, aquarela, acrílica e pigmento, restaurações de móveis, aproveitamento de materiais recicláveis para juntar embalagens tetra pak, isopor para misturar tinta e papelão com mistura para pintura. “O crochê é o carro-chefe. Este é um excelente recurso de prevenção dos jovens que estão à beira de desenvolver a dependência química. Nós precisamos pensar recursos de arteterapia como prevenção para os jovens e outras pessoas não terem contato com essas situações ruins, devemos chamar e aproximar essas pessoas da arte, seja através da música, dança, teatro, artes visuais e intervenções culturais”, frisa Pequena.

Onde procurar

No CAPs o atendimento é oferecido de segunda a sexta-feira, das 07h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30, na Rua Sete de Setembro, 1.945, no Jardim O Espigão. O telefone de contato é o (45) 3254-7880. Nas manhãs de sexta-feira acontecem reuniões internas, enquanto nas tardes ocorrem visitas e trabalhos internos, assim como a consulta do psiquiatra. Na última sexta-feira do mês é desenvolvida atividade com os pacientes, como oficina da beleza e uma festa comemorativa como forma de integração entre os pacientes.

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