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Marechal Estiagem prolongada

Atraso no plantio da safra de verão vai comprometer safrinha no ano que vem

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Devido à estiagem prolongada e consequente atraso no plantio, somente 10% da área reservada à soja foi cultivada na microrregião rondonense, e muitas lavouras terão de ser replantadas (Foto: Joni Lang/OP)

Depois de uma safrinha de milho recorde neste ano, a próxima safra pode ter seu resultado comprometido em virtude do atraso no plantio, motivado pela escassez de chuvas nos últimos meses em todo o Paraná.

Na microrregião de Marechal Cândido Rondon, segundo informado na última semana por engenheiros agrônomos, aproximadamente 10% das lavouras foram cultivadas com soja, todavia algumas áreas serão replantadas devido às perdas já concretizadas. Nas áreas que serão cultivadas daqui para frente a expectativa de colheita ainda é positiva, porém o agricultor deverá estar atento ao clima e ao manejo com defensivos para impedir o avanço das pragas e obter bom desempenho na produção.

O produtor Douglas Schmidt trabalha para familiares que possuem lavouras no distrito rondonense de Porto Mendes. Ele cultiva em torno de 95 alqueires entre as terras dos parentes e áreas arrendadas nas proximidades da vila e nas linhas Apepú e São Carlos. Conforme o rondonense, devido à estiagem prolongada apenas em torno de 20% do total recebeu o plantio de soja para a safra de verão, quando em outras épocas o índice era de 50%. “O plantio foi feito há cerca de duas semanas, sendo que por enquanto não posso falar em perda na produtividade porque pode ser registrada chuva nos próximos dias. Acredito que se chover em breve a área cultivada não deve ter nenhum tipo de prejuízo, mas isso depende do tempo”, diz Schmidt.

Agora, ele acompanha as condições climáticas e espera a chuva para iniciar o plantio nos outros 80% de terra. “Dependendo da quantidade da chuva eu pretendo entrar com as máquinas uns dois dias depois para plantar, mas se demorar é possível que eu cultive parte ainda no seco. A área a ser plantada neste momento deve dar uns 20% e o restante a gente completa em seguida”, comenta.

Embora o tempo seco dos últimos meses prejudique o plantio de forma geral, Schmidt lembra que há alguns anos houve um clima parecido no momento da semeadura, porém com bom resultado na colheita. “Tivemos uma média de 140 sacas por alqueire há dois anos. Esperamos que para a safra de verão que se inicia a colheita seja de no mínimo 150 sacas por alqueire, até porque a última já teve quebra e rendeu umas 110 sacas por alqueire. Se conseguir plantar tudo até 15 de outubro e a partir daí a chuva normalizar a nossa safra pode ser de bom resultado”, enaltece.

Apesar da expectativa para a colheita da soja ser boa, o agricultor avalia que o atraso no plantio vai comprometer o rendimento do milho safrinha no próximo ano. “Quanto mais cedo plantar o milho, melhor é. Então um pouco da produtividade da outra safra já está perdida”, ressalta.

 

Agricultor Douglas Schmidt: “Tivemos uma média de 140 sacas por alqueire há dois anos, numa situação parecida. Se conseguir plantar tudo até 15 de outubro e a partir daí a chuva normalizar, a nossa safra pode render no mínimo 150 sacas de soja por alqueire” (Foto: Joni Lang/OP)

 

ATENÇÃO ÀS PRAGAS

De acordo com o gerente da unidade da Copagril em Quatro Pontes, engenheiro agrônomo Genésio Seidel, embora nos últimos anos a semeadura tenha ocorrido no início de setembro, o atual prazo é normal para o plantio conforme o zoneamento agrícola. “De setembro a outubro entramos em um período com maior luminosidade e temperatura, tanto do solo quanto do ambiente, e grande parte das cultivares de soja respondem bem, apresentando desenvolvimento rápido e menos problemas de porte reduzido, podendo aumentar o potencial produtivo. Dependendo do clima nós podemos ter produtividades muito boas, inclusive melhores do que quando as lavouras são semeadas muito cedo. Outra questão é que a qualidade está mais ligada ao clima no enchimento dos grãos e ao manejo utilizado”, expõe.

Seidel considera que o porte mais alto devido ao cultivo tardio pode facilitar o controle de plantas daninhas. “Por outro lado, o fechamento rápido e as plantas de porte maior tendem a dificultar o manejo de pragas e doenças, exigindo maior atenção e cuidados adicionais nas pulverizações, pois haverá dificuldade de atingir o ‘baixeiro’ das plantas, onde as pragas normalmente se abrigam”, salienta.

O gerente destaca que a semeadura da soja dentro do mês de outubro com o uso de cultivares precoces e superprecoces vai culminar na colheita no mês de fevereiro, o que atende à demanda do zoneamento agrícola de risco climático. “Tal ferramenta indica a colheita da soja no máximo até 28 de fevereiro na microrregião rondonense. Logicamente existe a preocupação por parte dos produtores, mas ainda é cedo para maiores preocupações. Primeiramente é necessário fazer a semeadura da soja sem risco e conduzir bem a lavoura para atingir boas produtividades na safra prestes a ser implantada, para depois disso se preocupar com a próxima safra”, orienta.

 

Gerente da Copagril em Quatro Pontes, engenheiro agrônomo Genésio Seidel: “Nós podemos ter produtividades muito boas, porém o fechamento rápido e as plantas de porte maior tendem a dificultar o manejo de pragas e doenças, exigindo maior atenção e cuidados adicionais nas pulverizações” (Foto: Divulgação/Copagril)

 

ÁREAS CONDENADAS

A estimativa é de que em torno de 10% da área agricultável na microrregião rondonense tenha sido preenchida com soja, informa o engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte. “Os produtores que possuem áreas maiores cultivaram parte de suas lavouras, já os pequenos agricultores, com raras exceções, ainda não plantaram. As consequências dos 20 dias de atraso no plantio da soja são diretas pensando no milho safrinha, que terá menor potencial produtivo na metade do ano que vem, o que resultará em uma perda de 100 sacas por alqueire”, revela.

Ele menciona que o risco de estiagem nos meses de dezembro e janeiro, marcados por temperaturas altas, traz perigo de quebra na safra porque a cultura da soja estará na etapa de enchimento dos grãos. “Existem áreas que foram plantadas totalmente no seco até que na última semana foram registrados 12 milímetros de chuva, 15 e outros lugares dois ou cinco milímetros, portanto os volumes são baixos e impediram as sementes de emergirem. A semente absorveu um pouco de água e o processo de germinação iniciou, entretanto não existe condição da planta se desenvolver, de modo que algumas áreas já estão condenadas e precisarão ser replantadas”, frisa.

Cunha avalia que no caso das lavouras cultivadas há sim redução de produtividade porque a germinação da planta não será uniforme. “Neste momento não há problema de qualidade de grãos porque estas lavouras não emergiram, sendo que as perdas nos grãos ficam relacionadas com alguma intempérie ou ataque de pragas na fase da colheita. A semente deve germinar o mais rápido possível quando colocada no solo para que todas as plantas nasçam no mesmo momento, gerando potencial produtivo uniforme e dentro do esperado”, expõe.

De acordo com o agrônomo, as previsões meteorológicas são baseadas em modelos matemáticos e ultimamente o grau de assertividade está abaixo do esperado. “Considerando que a semente carrega todas as informações daquela variedade genética, a exemplo de um chip, recomenda-se a aplicação da soja no período que tiver umidade suficiente para germinar e emergir. O próximo passo é que estas pequenas plantas sejam muito bem cuidadas para expressar todo potencial produtivo com a finalidade de que o agricultor obtenha bom resultado na colheita”, resume.

 

O Presente

 

Engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte: “As consequências dos 20 dias de atraso no plantio da soja são diretas pensando no milho safrinha, que terá menor potencial produtivo na metade do ano que vem, o que resultará em uma perda de 100 sacas por alqueire” (Foto: Joni Lang/OP)

 

Lavoura já cultivada e que recebeu pouca chuva gerou plantas com radícula emitida, mas outras sementes ainda não pegaram umidade: prejuízo aos agricultores (Foto: Divulgação/Agrícola Horizonte)

 

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