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Marechal Bom desempenho

Aumento no preço dos insumos e falta de mão de obra não intimidam construção civil

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Engenheiros e arquitetos de Marechal Rondon avaliam o ano de 2020 para a construção civil positivamente. Números de alvarás e habite-se mensurados pela prefeitura confirmam crescimento no setor. Agora, expectativas se voltam para 2021 (Foto: O Presente)

Durante alguns períodos de 2020, em virtude do fechamento do comércio como prevenção à transmissão do coronavírus, as ruas de Marechal Cândido Rondon e de outros municípios do Brasil estavam praticamente vazias. Contudo, para os bons observadores uma movimentação não passou despercebida: a construção civil, considerada essencial, não deixou de trabalhar e movimentar os canteiros de obras da região.

Após uma dormência de cinco anos no setor, em nível nacional, a construção civil vem desde 2019 apresentando bons resultados e no ano pandêmico que se encerrou não foi diferente. Mesmo com o desabastecimento ocasionado pela paralisação de algumas indústrias e, consequentemente, com os encarecimentos dos insumos, engenheiros e arquitetos consideram 2020 como um ano positivo. Agora, os olhares se voltam para 2021, ainda com o fator da pandemia, e anseiam por mais um período de rendimento no setor.

Segundo dados da Secretaria de Fazenda de Marechal Rondon, os números de alvarás de construções e de habite-se, licença final que a obra recebe, emitidos em 2020 cresceram no município, se comparados a 2019.

Tratando-se de habite-se emitidos em 2020 (381 certificados) o número foi 33% superior ao índice de 2019, quando foram emitidas 285 licenças. O município rondonense passou por períodos de diminuição no número, sendo que mesmo 2020, considerado positivo, não pôde superar o número obtido em 2016, com 425 habite-se.

No que diz respeito ao número de alvarás de construção emitidos nos últimos anos, o índice se mostrou bastante instável: de 513 Alvarás emitidos em 2016, após dois anos em queda, chegou a 468 em 2019, quando registrou-se o crescimento de 3,2% em 2020, com 483.

(Arte: O Presente)

 

SURPRESA POSITIVA

Para o engenheiro civil rondonense Marcondes Luiz da Silva, o desempenho da construção civil pode ter surpreendido muitas pessoas que tinham uma ideia pessimista para o setor. “Foi justamente o contrário e pôde se perceber pelo volume de obras na cidade. Acredito que um dos itens que contribuiu para isso foram as reduções nas taxas de juros. Deixar o dinheiro parado não era mais tão vantajoso e as pessoas optaram por construir, visto que além de oferecer um retorno futuro com o aluguel, fornece uma segurança econômica maior”, avalia, ao O Presente.

Apesar dos resultados positivos alcançados pela construção civil no município no ano que se findou, Silva ressalta que o setor teve de lidar com a problemática da escassez de mão de obra. “Imaginávamos que, por conta da pandemia, teríamos problemas com relação à dispensa de funcionários para evitar aglomerações, mas foi justamente o contrário. Precisamos contratar cada vez mais. A mão de obra se mostrou bem mais escassa em 2020 do que em 2019”, observa.

Engenheiro civil Marcondes Luiz da Silva: “Precisamos contratar cada vez mais. A mão de obra se mostrou bem mais escassa em 2020 do que em 2019” (Foto: O Presente)

 

ANTECIPAÇÃO DAS COMPRAS

Aliado aos problemas de contratação, o aumento dos custos, menciona ele, também foi perceptível. “Itens como vergalhões receberam um acréscimo da ordem de 120%. Não bastando o aumento, lidamos com a dificuldade de conseguir materiais, tendo que antecipar bastante as compras para prevenir o risco de paralisar obras. Para 2021, os valores ainda são uma incógnita, mas com o dólar se mantendo nas alturas essa condição deve se prolongar”, lamenta.

O engenheiro civil não vê influências negativas da pandemia nas demandas do setor. “Seguimos trabalhando normalmente, mas precisando de colaboradores. Percebemos um aumento nas obras de melhorias, reformas, ampliações, instalação de piscinas e afins. Nem conseguíamos atender a todos, porque ainda tínhamos as obras convencionais em andamento. As reformas foram encaixadas conforme a disponibilidade das equipes”, expõe.

Partindo desse contexto, ele tem expectativas otimistas para o ano que se iniciou. “Estamos com bastante trabalho, obras já contratadas e orçamentos para elaborar. Em conversas com outras pessoas do ramo, quase todos apontam que a construção já está limitada, sem condições de mais orçamentos nesse ano. As expectativas são promissoras e vejo que o setor tem condições de crescer em 2021, se superados os gargalos de mão de obra e disponibilidade e preço de materiais”, pondera.

 

MELHORES TAXAS

A engenheira civil Carolina Souza vê a melhoria dos juros e financiamentos como um dos motivos para o bom momento da construção civil. “As taxas ficaram melhores e muita gente conseguiu financiar e colocar em prática a obra que já era um sonho tempos atrás. Por sermos uma região agrícola, o dólar alto pode ter sido um bom negócio para os produtores de soja, engajando mais investimentos na construção civil. Além disso, um público tinha capital em mãos e, com a instabilidade dos investimentos e da Bolsa, preferiu investir no mercado imobiliário. Esse bom momento se deve a uma mistura de todos esses fatores”, detalha.

Carolina também constatou o momento positivo na demanda por projetos, mas não o atribui inteiramente à pandemia. “Houve um aumento considerável no custo de praticamente todos os materiais de construção, o que com certeza é negativo ao setor”, cita.

Nos seus trabalhos, a engenheira rondonense percebeu uma característica que se destacou. “Tivemos muita procura por quitinetes e pequenos e médios apartamentos para serem alugados. As melhorias de imóveis pessoais (investimentos em área de lazer, churrasqueira etc) ficaram em segundo lugar”, aponta, emendando: “Alguns projetos do fim do ano passado sairão do papel agora no início desse ano”.

Engenheira civil Carolina Souza: “Tivemos muita procura por quitinetes e pequenos e médios apartamentos para serem alugados. As melhorias de imóveis pessoais ficaram em segundo lugar” (Foto: Divulgação)

 

OLHOS ABERTOS

Mesmo com olhares otimistas para o que se apresenta, Carolina menciona que é preciso estar preparado para uma desaceleração do ritmo das obras. “No geral talvez o setor sofra um pequeno recuo devido ao aumento dos valores e da falta no fornecimento de alguns materiais. Porém, é difícil afirmar alguma coisa agora. Temos a vacina a caminho, o que é um bom sinal para a retomada da economia no geral, mas não sabemos a que prazo isso refletirá no setor”, conclui.

 

SAÍDA DO ALUGUEL

Assim como Carolina, o engenheiro civil rondonense Carlos Roberto Wild também vê no cenário econômico ventos favoráveis ao setor imobiliário. “Houve um incremento de incentivo muito grande, o que facilitou a aquisição de imóveis. Várias pessoas saíram do aluguel, aproveitando os juros baixos para financiamento”, aponta, acrescentando: “Os produtos agrícolas também contribuíram, pois estavam em valores recordes nesse ano. A baixa remuneração nas aplicações fez com a construção civil se sobressaísse como um empreendimento oportuno”.

Engenheiro civil Carlos Roberto Wild: “Nós, da construção civil, temos que procurar meios para facilitar os trâmites burocráticos, pois são extremamente demorados e afastam, por vezes, empresários e investidores vindos de fora” (Foto: Divulgação)

 

INFLAÇÃO ENTRE 10% E 11%

Wild pontua que mesmo com a boa demanda, o setor se viu com uma inflação entre 10% e 11% no ano que encerrou. “Os efeitos ainda não foram devidamente repassados, aguardamos por uma acomodação nos valores a um patamar normal. Alguns produtos tiveram um acréscimo de 100%, como o aço e materiais elétricos”, exemplifica ele, dizendo que a alta do câmbio é outro fator que contribui para esse alto patamar alto de preços.

 

DESBUROCRATIZAÇÃO

Na visão do engenheiro, para que a construção civil mantenha o bom desenvolvimento em 2021 é preciso que haja a desburocratização do país. “Precisamos de uma remodelação nos impostos, com facilidade na recolha, e de uma desoneração da folha de pagamento. Nós, da construção civil, temos que procurar meios para facilitar os trâmites burocráticos, pois são extremamente demorados e afastam, por vezes, empresários e investidores vindos de fora”, lamenta. “O custo no Brasil não permite que grandes investidores venham para cá. Mesmo com uma lucratividade boa, a burocratização do país, a instabilidade das leis e as mudanças repentinas nas decisões tornam o país instável para investimentos internacionais. Então, aguardamos que em 2021 as reformas aconteçam e os investimentos retornem ao país”, opina.

 

INTERDEPENDÊNCIA

Em âmbito local, Wild destaca que seu escritório adentrou 2021 com projetos encaminhados. “Tanto na área de habitação quanto na hospitalar, pois somos especializados nesse ramo. Devido ao grande porte de algumas construções, esperamos que a pandemia se normalize para dar início a algumas obras, pois precisamos de uma equipe grande e de liberações”, expõe.

Para ele, a vacina é essencial para o bom andamento da economia como um todo. “A construção civil não se mantém sozinha. Ela faz parte de uma ação global de investimentos e empresários de todos os ramos. Há uma interdependência e isso só deve se normalizar com a imunização”, considera.

 

PROJETOS ADORMECIDOS

Arlen Güttges, arquiteto, afirma que a construção civil vinha de um crescimento linear, depois de sofrer períodos de contração. “Muitas pessoas se encorajaram durante a pandemia a fazer investimentos nos imóveis, tanto reformas quanto construções novas, tendo em vista que as taxas de juros dos bancos e as aplicações não estavam rendendo tanto. Então, muitos tiraram esses recursos e resolveram investir em obras ou até na aquisição de imóveis, gerando uma rentabilidade maior”, aponta.

No entendimento do rondonense, o fato de o governo ter considerado a construção civil um ramo essencial também contribuiu para seu bom momento. “Diversos escritórios conseguiram colocar projetos em dia, porque muitos clientes estavam adormecidos. Com a pandemia, as pessoas colocaram em prática esse sonho que vinha sendo deixado de lado”, relata.

Arquiteto Arlen Güttges: “Muitos clientes estavam adormecidos. Com a pandemia, as pessoas colocaram em prática esse sonho que vinha sendo deixado de lado” (Foto: Arquivo/OP)

 

ENCARECIMENTO

“Percebemos um aumento de pelo menos 23% na média geral do valor da obra”, mensura Güttges. Para ele, as paralisações geradas pela pandemia foram as principais responsáveis pelo encarecimento. “Muitas indústrias pararam de fabricar e a exportação também foi atingida. Uma hora a conta vem. Acredito que vai muito tempo para baixar ou normalizar o preço”, estima, exemplificando: “Alguns clientes repensaram sobre iniciar uma obra e adiaram, não só pela questão dos materiais, como também pela falta de mão de obra. Querendo ou não, isso afeta em aumento no custo final da obra”, argumenta.

 

ESTABILIZAÇÃO DOS PREÇOS

Sobre o andamento da construção civil em 2021, Güttges analisa que, devido ao aumento do preço dos insumos, não deve haver um crescimento expressivo. “Muitos produtos continuam sendo ajustados, o que causa dúvidas para nós, profissionais da área. É difícil precisar o que vem pela frente, mas há uma possibilidade grande de retração. Os impactos na construção civil são vistos posteriormente, pois as obras em andamento tendem a continuar. Eu particularmente não dou muito crédito a uma retração, muito difícil, vejo uma estagnação”, opina.

Com o advento da pandemia, obras de melhorias e reformas em residências tiveram maior demanda (Foto: Divulgação)

 

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