Fale com a gente

Marechal

Com a palavra, os ciclistas

Publicado

em

Marechal Cândido Rondon é conhecido por muita gente como a “cidade das bicicletas” devido ao elevado número deste meio de transporte, por sinal o mais popular do município.

Pelas ruas rondonenses é bastante comum encontrar pessoas de todas as idades andando de bike para as mais diversas finalidades, seja para ir à escola, ao trabalho ou mesmo em momentos de lazer. Não à toa, recentemente foi aprovada uma lei para celebrar o Dia Municipal do Ciclista, que a partir deste ano será comemorado em 20 de setembro.

Com o propósito de enaltecer a Semana do Ciclista, cuja programação inicia amanhã (20) e segue até o próximo dia 30, a reportagem de O Presente entrevistou cidadãos que utilizam a bicicleta com frequência. Pessoas que por obrigação ou opção decidiram pedalar para ter uma vida mais saudável, assim como para economizar dinheiro em tempos de altas constantes no preço dos combustíveis.

Os entrevistados enumeram pontos favoráveis para difundir o uso da famosa “magrela”, dentre os quais a característica plana da zona urbana rondonense, a facilidade de acesso em relação a tempo e proximidade e alguns investimentos no que tange à ciclovia. Contudo, eles chamam a atenção para a falta de consciência de alguns ciclistas, que andam na contramão e desrespeitam o trânsito. Também sugerem melhorias na iluminação e construção de ciclovias em outros pontos da cidade ou então adequações que estimulem o uso da bicicleta.

Trânsito melhor

O jovem Rodrigo Pilarski, de 18 anos, anda de bicicleta desde os seis. Ele trabalha como auxiliar no Supermercado Cercar, além de entregar compras nas casas de clientes de segunda a sábado. Conforme ele, o terreno plano do município favorece a utilização desse meio de transporte pela rapidez que oferece devido à facilidade de acesso aos locais, que em geral são próximos.

“Para mim é vantajoso porque costumo andar por uma distância média de cinco quadras com as entregas de alimentos, além do que a bicicleta deixa o trânsito melhor. Como tem muitos carros na nossa cidade, andar de bici durante o trabalho é um jeito de chegar mais cedo onde a gente precisa”, opina.

Todavia, Rodrigo ressalta que nem todas as pessoas que trafegam com veículos automotores respeitam os ciclistas e pedestres. “Tem gente que cuida, mas tem quem desrespeita, então essa é uma parte negativa. Os carros e as motos têm vantagem sobre as bicicletas porque são maiores, então poderiam cuidar um pouco mais dos ciclistas e pedestres”, entende. “Também acho que alguns ciclistas podem respeitar o trânsito e ter mais atenção porque costumam andar na contramão”, lamenta.

Versatilidade

A família Zanchet é constituída por cinco pessoas e todas utilizam a bicicleta como meio de transporte durante a semana. Somados, são 22 quilômetros por dia, o que resulta em 110 quilômetros percorridos apenas de segunda a sexta-feira. Os filhos Lucas, Ana Clara e Leonardo se locomovem em média cinco quilômetros cada um por dia, enquanto o pai Aládio anda três quilômetros geralmente de casa até a Unioeste, onde leciona, e a mãe Cláudia circula quatro quilômetros de casa até o trabalho.

Ter bike em casa não é uma realidade atual da família. Vem de tempo. Cláudia conta que possuía uma bicicleta adaptada para levar os três filhos quando esses eram pequenos. “Aquela bicicleta suportava quatro pessoas e se tornou uma atração na cidade, pois fui convidada a participar dos desfiles levando os nossos três filhos”, lembra, mencionando que quando cresceram, eles ganharam suas próprias “magrelas”.

Cláudia comenta que chegou a colocar um velocímetro nelas, sendo que a cada 100 quilômetros percorridos os filhos recebiam R$ 2. “Era uma forma de estímulo que a gente encontrou, até que os velocímetros foram roubados. Incentivamos nossos filhos a primeiro andar de bicicleta para depois ganhar eletrônicos”, salienta.

Aládio e Cláudia pontuam que atualmente andar de bicicleta é uma alternativa interessante para quem deseja evitar gastos com combustível. “O preço do combustível está caro, portanto andar de bicicleta ao invés de carro é uma maneira de economizar dinheiro. Além disso, é uma forma versátil de se locomover. São vários os pontos positivos, entre eles o terreno plano que favorece um grande número de bicicletas diariamente no trânsito”, dizem.

Eles resumem como as maiores vantagens o benefício à saúde, a economia financeira e o ganho de tempo pela mobilidade urbana, pois de carro é preciso andar mais até estacionar. “Com a correria do dia a dia muita gente não consegue praticar uma atividade física, então andar de bicicleta se torna uma solução. No caso das crianças também é positivo porque andando de carro não há noção de espaço, tempo e da própria geografia. Quando se pedala a gente conhece melhor a cidade e isso é importante especialmente para as crianças”, enaltecem.

O casal aponta algumas desvantagens que inibem um maior número de rondonenses serem vistos andando de bicicleta no cotidiano. “Falta oferecer mais segurança para o ciclista se sentir motivado a utilizar a sua bicicleta como meio de transporte, o fator clima também desfavorece, como em casos de sol quente e chuva, assim como o risco de roubo à noite e a falta de conscientização de alguns ciclistas. Outro fator é que uma pessoa estabelecida é vista com preconceito por outras pessoas na nossa cidade, porque é comum pensar que se deve ir ao trabalho de carro. Andar de bicicleta ainda é um tabu”, ressaltam.

Estilo de vida

A rondonense Marla Viteck é apaixonada por bicicleta. Para ela, pedalar é muito mais que um exercício físico, é um estilo de vida, uma identidade pessoal. Tanto que, por opção, ela faz tudo de bike. Não quer nem saber de carro.

“O uso da bicicleta, seja no dia a dia ou em determinados momentos, por diversão, traz inúmeros benefícios para a nossa vida e para o nosso corpo. Pedalar algumas vezes por semana, mesmo sem um grande propósito, é um grande incentivo para o nosso organismo. Ao fazermos isso, enviamos a mensagem de que ele pode se manter em forma e funcionar perfeitamente”, destaca.

Marla chama a atenção para um aspecto bastante comum na sociedade: achar que os cuidados com a segurança pública cabem apenas à polícia. “De fato esse órgão influencia e muito nesses cuidados com a população, mas o urbanismo, a mobilidade e a cultura também são fatores importantes para que uma cidade mantenha-se muito mais bem cuidada e segura”, diz, sugerindo como melhorias a criação de quilômetros destinados apenas ao tráfego de bicicletas, ou seja, mais ciclovias que valorizem o trajeto do cidadão. Dessa forma, opina, o ciclista poderá se deslocar com segurança, pois terá um espaço reservado para andar na cidade sem riscos de acidentes. “Mundo afora existem vários modelos de sistemas voltados para a segurança pública na qual a bicicleta ganhou destaque. Eles poderiam servir de exemplo para o nosso município, diminuindo o risco de acidentes ou atropelamentos”, reforça.

Na opinião da ciclista, se o município tivesse agentes de trânsito pelo menos em alguns pontos estratégicos da cidade para penalizar e fiscalizar o fluxo, muita coisa melhoraria. “Campanha de conscientização, no meu ponto de vista, tem que incluir pedestre, motorista e ciclista. Penso que quando se exclui algum desses é mais difícil o trânsito ser um ambiente de todos, pois fica fragmentado”, menciona. “Em nossa cidade a sinalização é precária. Muitas vezes não sei se tenho que parar ou seguir, lembrando que à noite as condições também têm que ser melhoradas”, emenda.

Benefícios

Entre os benefícios de ter a bike como meio de transporte Marla aponta uma população mais saudável, diminuindo a poluição e desafogando o fluxo de veículos. “Qualquer tipo de incentivo ao uso da bicicleta é importante, pois hoje é uma alternativa em que a sociedade ganha por ter uma cidade mais humana e saudável, menos congestionada e poluída. Diversas leis foram implantadas para incentivar o uso de bicicleta no Brasil e campanhas das mais variadas vertentes sugerem que as pessoas passem a usá-la com mais frequência nas vias dessas cidades, e isso é bastante positivo”, considera.

Para ela, tais leis incentivam o uso das bicicletas pelo fato de ser um meio de transporte que ajuda as vidas urbanas em diversos fatores. “Por exemplo, um trânsito mais tranquilo, já que com o aumento do uso da bicicleta vai ter menos engarrafamento e menos barulho de motores ou buzinas; um trânsito menos poluído, considerando que a poluição emitida pelos carros, ônibus e caminhões está entre os maiores colaboradores para a poluição do ar nas grandes cidades; e a melhoria da saúde dos cidadãos, tendo em vista que as bicicletas melhoram a qualidade de vida das pessoas, tornando-as, consequentemente, mais saudáveis”, enumera.

Em Marechal Rondon, na visão da rondonense, um dos fatores que desestimula o uso de bikes não é só a precariedade na sinalização, mas o desconforto térmico. “Todo mundo que pode evita o sol. Então, com sombras seria bem mais estimulante e prazeroso andar de bicicleta”, acredita. “O terreno plano torna maravilhoso pedalar na nossa cidade”, pontua.

Para engenheiro, estrutura cicloviária demanda planejamento

Para o engenheiro civil Marcondes Luiz da Silva, em termos de estrutura Marechal Cândido Rondon está à frente de outras cidades próximas na comparação com a malha cicloviária. “Mesmo assim, demanda planejamento por parte do Poder Público para identificar quais são os principais fluxos dos ciclistas que dependem desse meio de transporte no seu dia a dia não como passeio, mas, sim, como trabalho porque não têm alternativa. Um estudo nesse quesito facilitaria muito, pois se souber que há mais pessoas se deslocando de uma região para outra e tentar planejar rotas para a circulação ser de maneira segura, certamente haverá maior estímulo aos ciclistas”, sugere.

Marcondes comenta que os motoristas muitas vezes enxergam os ciclistas como um transtorno no trânsito. “Se o ciclista tiver um meio seguro para fazer o seu deslocamento com certeza vai optar por esse transporte até pela questão de economia. Assim sendo, acredito que algumas melhorias podem ser realizadas sob o ponto de vista da integração porque algumas famílias só usam bicicleta. Como ela faria se precisasse vir de longe até a rodoviária? Seria interessante ter um local para deixar a bicicleta com segurança, sair e retornar. Essas questões de bicicletários eu acho que dependem mais das empresas, mas nesse aspecto da integração do sistema rodoviário com as ciclovias seria importante que tivesse algo na rodoviária”, avalia.

O engenheiro também comenta que as ciclovias propiciam que muitas pessoas andem de bicicleta, porém é necessário mantê-las, assim como outros locais da sede, bem iluminadas para quem precisa andar de bicicleta à noite. “A manutenção é fundamental para servir de estímulo para outras pessoas adotarem a bicicleta como meio de transporte. Vejo como positiva a quantidade de ciclovias que nós temos. Um exemplo é a implantação da ciclofaixa que vem para favorecer o uso da bicicleta de forma mais assídua. O ponto negativo é o da questão cultural e de educação, pois percebe-se que muitos condutores de veículos não dão o devido respeito aos ciclistas. Infelizmente muitos ciclistas também não se dão o devido respeito. Circulam pela contramão e não respeitam os pedestres. Ainda falta conscientização”, finaliza.

Copyright © 2017 O Presente