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Marechal Família Dorecki

Comandantes do BPFron e do Pelotão Cobra, pai e filho contam experiências de trabalhar juntos

Fora do batalhão, pai e filho. Dentro da corporação, hierarquia e disciplina norteiam a família Dorecki. Em entrevista ao O Presente, comandantes do BPFron e do Pelotão Cobra contam sobre as relações profissionais e familiares quando se trabalha junto

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Comandante do BPFron, Tenente-Coronel André Cristiano Dorecki, e comandante do Pelotão Cobra, 2º tenente Vitor Cristiano Dorecki: pai e filho (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

É Dia dos Pais. Passarinhos voltam para seus ninhos e prestigiam aquele que sempre foi exemplo. Em alguns casos, mensagens e telefonemas quebram o “galho” para unir os familiares. Para os mais sortudos, a proximidade é tanta que a parceria paterna é celebrada todos os dias.

No caso da família Dorecki, pai e filho têm uma ligação para além dos laços de sangue: os dois compartilham a profissão. Policiais militares, o pai, Tenente-Coronel André Cristiano Dorecki, está à frente do comando do Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron), enquanto o filho, 2º tenente Vitor Cristiano Dorecki, lidera um dos “braços” do batalhão, o Pelotão Cobra.

Ao O Presente, os policiais da família Dorecki contaram um pouco sobre como é ser pai e filho no ambiente de trabalho. Confira.

Há 30 anos

Natural da Capital paranaense, a família adotou a região de fronteira, em especial Marechal Cândido Rondon. O Tenente-Coronel Dorecki comandou o BPFRON de 2017 a 2018 e retornou ao comando em dezembro de 2019. Com 30 anos de carreira, ele relembra que os primeiros contatos com o meio militar aconteceram cedo, aos 12 anos.

“Estudei no Colégio da Polícia Militar, em Curitiba, e lá tive os primeiros contatos com a profissão. Fui positivamente influenciado, gostei da convivência com os policiais e procurei seguir carreira. Tive oportunidade de entrar na academia em 1992, cursei três anos de formação e, após concluído, sai aspirante”, relembra o coronel, hoje aos 49 anos.

Ainda quando era 2º tenente, Dorecki teve seu primeiro filho, Vitor Cristiano, de quem hoje é companheiro de BPFron. “Uma das lembranças que tenho mais vivas é a do desfile de Sete de Setembro. Eu, minha mãe, o João (irmão mais novo) e minha avó paterna íamos na Avenida Cândido de Abreu (em Curitiba) para assistir ao pai, que na época era comandante da Companhia de Choque”, conta.

Outros caminhos

Apesar dos eventos, solenidades e de ver o pai fardado em casa, Vitor conta que seu ingresso ao meio militar, aos dez anos, aconteceu meio por acaso. “Também fui para o Colégio da Polícia, mas não por sugestão dos meus pais. Na época, um colega meu faria o teste para o Colégio Militar e eu quis fazer também. Por desencontro nosso, por fim ele fez para o Colégio Militar do Exército e não passou, enquanto eu fiz para o Colégio da PM e passei. Foi apenas no colégio, quando pude vivenciar um pouco do que via em casa, que surgiu a vontade de seguir carreira”, expõe.

Até então, os colégios militares disponibilizavam vagas para que alunos destaques entrassem direto na academia, o que mudou quando Vitor estava no Ensino Médio e abalou os planos do curitibano. “Deu uma desanimada, porque eu tinha entrado na 5ª série e estava estudando para conseguir a vaga pelo colégio, aí foi suspenso. Nesse meio tempo, eu comecei a fazer Direito, Administração, Física e um monte de coisa até descobrir que queria mesmo seguir a vida policial”, destaca o 2º tenente, de 25 anos.

Espaço para escolha

Dorecki garante que não houve pressão por parte dele para que o filho seguisse a carreira paterna. “Tanto o Vitor quanto o mais novo sempre estiveram à vontade para fazer a escolha deles. Qualquer atividade é digna e eles seriam acolhidos em qualquer caminho que escolhessem, desde que fosse para o bem”, ressalta.

O coronel diz que, independentemente da profissão, é muito satisfatório ver os filhos se encaminhando no caminho do bem. “Preciso falar da minha esposa (Vivi) que, por vezes, carregou todo o fardo quando estava trabalhando e viajando por conta do trabalho”, enaltece.

Trabalho em família

Vitor fez concurso em 2016, ingressou na academia em 2017 e atuou como aspirante no 19º Batalhão da PM, de Toledo, antes de conseguir uma vaga no BPFron, há cerca de um ano e dois meses. Quando ele adentrou no batalhão, já tinha o próprio pai como comandante.

Ainda que dividam a mesma unidade policial, no dia a dia do trabalho a relação entre os Dorecki é distante. “As ocorrências rotineiras seguem um canal de comando. Por exemplo, os policiais do Pelotão Cobra fazem a apreensão, informam para mim e eu repasso as informações ao comandante da 1ª Cia do BPFron, o tenente Beiger, que inteira o coronel. Seguimos esse caminho hierárquico, sem quebrar a cadeia de comando”, explica o 2º tenente, pontuando que apenas em algumas operações especiais há o contato direto entre pai e filho no batalhão.

Sem “pai” ou “filho”, hierarquia e disciplina norteiam a atuação profissional “sim, senhor” (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

“Sim, senhor”

Ao O Presente, eles afirmam que tentam não deixar assuntos do trabalho invadirem o espaço da convivência familiar. “Às vezes acontece de comentarmos uma ocorrência de destaque, seja positiva ou negativa. Ainda assim, a gente tenta não se aprofundar para não levar trabalho para dentro de casa”, expõem.

Outro ponto é o respeito à hierarquia e à disciplina, princípios que regem a Polícia Militar. “Tenho os policiais como filhos, até porque sou um dos mais velhos no grupo. Mesmo assim, o tratamento é sempre de forma profissional para que não haja nenhum prejuízo ao trabalho desempenhado”, assegura o coronel, que é endossado pelo filho: “As coisas são bem separadas. Por causa da entrevista, até estou chamando o comandante de pai, mas o normal é ‘coronel’, ‘sim, senhor’ e ‘não, senhor’”.

Dar o exemplo

Dorecki enfatiza que dar um bom exemplo é o elo que une ser pai e ser policial. “Muitos valores do meio militar vão dentro de casa, mas o principal é sempre tentar dar o melhor exemplo. Falo isso tanto na polícia quando para meus filhos. Precisamos dar um exemplo positivo para que possa ser replicado. Esse é o caminho”, afirma.

Vitor, por sua vez, é pai da pequena Antonella, de apenas dez meses, e está se descobrindo na figura paterna. “Sempre quis ser pai e a bebê está me ensinando o que isso realmente significa. Até brinco com a minha esposa (Katiane) que se eu soubesse como era não teria dado tanto trabalho quando era mais novo”, brinca, emendando que paciência, carinho e atenção são pontos-chave: “Muito do que sou hoje é fruto do cuidado que meus pais tiveram comigo lá atrás. Tudo o que fazemos hoje vai impactar no que ela será no futuro. Então, a gente pega os bons exemplos, os replica e, agora, os transmite no papel de pai”.

Tradição em vista?

Os Dorecki comentam que, até então, a família tinha apenas eles e alguns parentes distantes como policiais. Questionados pela reportagem de O Presente, eles avistam a possibilidade de a profissão tornar-se tradição. O caçula da família hoje é estudante, mas, conforme Dorecki, também tem afeição pela atividade policial.

Já Vitor comenta que a filha está cercada de influências do meio militar. “Minha esposa é policial também e os avôs dos dois lados também são policiais. A Antonella está crescendo praticamente dentro do batalhão e, se for o que ela desejar, vai contar com a gente nessa caminhada. Ser pai é saber que os filhos trilham os próprios caminhos e, ao mesmo tempo, estar sempre ali para apoiá-los”, enaltece o 2º tenente.

Comandante do Pelotão Cobra, 2º tenente Vitor Dorecki é pai da pequena Antonella: “Minha esposa (Katiane) é policial também e os avôs dos dois lados também são policiais. Nossa filha pode ser o que ela desejar, sempre vai contar com a gente nessa caminhada” (Foto: Divulgação)

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