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Marechal Cuidado com alcoolismo

Consumo de bebidas alcoólicas aumenta durante a pandemia em Marechal Rondon

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Prática traz vários riscos à saúde, tanto físicos quanto psicológicos. Pessoas precisam ficar atentas, pois o alcoolismo está ligado a fatores genéticos e hereditários e o uso excessivo de álcool pode ter um papel de gatilho para o início da doença (Foto: O Presente)

A pandemia do novo coronavírus trouxe como uma das medidas para evitar a propagação do vírus o isolamento social. Com bares, restaurantes e comércios fechados ou atendendo de forma reduzida, além das determinações de decretos, muitas pessoas passaram a ficar mais tempo em casa. Com isso, o consumo de álcool e drogas aumentou.

Após esses quase quatro meses de isolamento social, conforme pesquisa da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), houve uma alta de 38% nas vendas em distribuidoras de bebida e de 27% nas lojas de conveniência desde a decretação da pandemia no país.

Essa prática, que parece ser algo comum e corriqueiro, pode trazer grandes prejuízos para a saúde física e mental de quem está fazendo o uso excessivo de álcool. O psiquiatra rondonense Roberto Goulart Machado explica que o alcoolismo está ligado a fatores genéticos e hereditários e que o uso excessivo de álcool pode ter um papel de gatilho para o início da doença. “A pessoa nasce com um terreno próprio para o alcoolismo. Não temos como afirmar se irá desenvolver a doença ou não, mas como o terreno é próprio, se plantar em cima desenvolve”, alerta o médico.

A pandemia e suas consequências muitas vezes geram sentimentos como ansiedade e depressão, que, segundo Machado, também funcionam como gatilho para o uso de bebidas alcoólicas. “Juntando outros fatores desencadeantes, como a situação da pandemia, isso será um risco para o paciente que tem o fator genético para o alcoolismo”, enaltece.

Psiquiatra Roberto Machado: “Geralmente o alcoolista procura tratamento quando ele já está em um nível de intoxicação média ou grave, e aí já requer medicação” (Foto: O Presente)

 

VÍCIO

O psiquiatra comenta que quem possui pré-disposição genética para o alcoolismo tem um risco muito grande de desencadear a doença nesse período. “Os fatores traumáticos acontecem na vida, ao longo dela vão se passando situações de perda, situações que são difíceis para a pessoa enfrentar, e isso funciona como desencadeantes, e com o fator genético terá grandes chances de desenvolver o alcoolismo, sempre”, reitera.

De acordo com o médico, os fatores externos, os problemas, não irão desaparecer. “À medida em que a pessoa vai vivendo vão surgindo situações de trauma e responsabilidades, e isso também aumenta a ansiedade e desencadeia o alcoolismo”, explica.

 

QUANDO DEVO ME PREOCUPAR?

O uso excessivo de álcool pode se tornar um problema na vida das pessoas, conforme Machado, quando passa a interferir nas atividades diárias e começa a causar sofrimento no convívio sócio-familiar. “Aí considera-se alcoolismo. Os prejuízos são globais, pois vai corroendo o organismo e gerando doenças que atingem todos os órgãos, todo o sistema orgânico”, salienta.

De acordo com o psiquiatra, no convívio sócio-familiar o vício vai deteriorando todas as relações e gerando muitos conflitos. “O alcoólatra vai sendo isolado, e a pessoa vai desenvolvendo um sentimento de que não tem importância, pelas próprias ações dela, que ela não tem valor, e cada vez mais ela recorre à bebida para fugir desse sentimento que é muito ruim. Quando a gente se sente uma porcaria, é um dos piores sentimentos que podem existir. Aí vai lá, toma mais uma bebida para fugir desse sentimento, e entra nesse círculo vicioso que não para mais”, destaca.

A bebida, acrescenta o médico, também causa dependência física, além da dependência psicológica. “O organismo aprende a funcionar somente com a bebida e o organismo irá sinalizar com algum sintoma mostrando que o álcool está fazendo falta. A pessoa terá ansiedade, tremor, sudorese, convulsão, vários sintomas sinalizando que está precisando mais, que já é dependente daquela substância. O álcool cria tanta dependência física quanto as piores drogas que existem, e de forma rápida. A pessoa não precisa beber todo dia por muito tempo para ficar dependente da bebida, e muitos se dizem bebedores sociais”, alerta.

 

TRATAMENTO

O alcoolismo tem tratamento, de acordo com Machado, esse deve ser feito com uma abordagem multiprofissional, com suporte de terapia para os casos indicados, atividades, terapia ocupacional e medicação, que, ressalta o profissional, também é fundamental. “Geralmente o alcoolista procura um tratamento quando ele já está em um nível de intoxicação média ou grave, aí já requer medicação”, pontua. “Há também as comorbidades, que são as doenças associadas ao alcoolismo, e uma delas é a depressão. É muito comum depressão em alcoolistas, e muitas vezes ela fica mascarada pelo uso excessivo de bebidas, mas essas comorbidades também precisam ser tratadas porque se não se somam com o fator genético”, menciona o psiquiatra.

 

CUIDADO COM AS FRAGILIDADES

Ele diz que nesse momento de fragilidade, em que o consumo de álcool está sendo maior, as pessoas precisam de suporte emocional para lidar com situações difíceis e não acabarem entrando no alcoolismo. “Independente de ser alcoolista ou não, o ser humano é muito frágil; forte são os outros animais. A estrutura emocional é frágil e diante de situações-problemas as pessoas regridem e precisam de suportes, que são referenciais, desde família, quando há condição de servir de referencial, sua crença como suporte, e tratamento de profissionais, sem deixar o problema avançar, porque depois que ele avançar fica muito mais difícil de ser tratado e, às vezes, requer até internamento”, enaltece.

 

AUMENTO NA DEMANDA

Proprietário de uma loja de conveniência em Marechal Cândido Rondon, Marcos Rodrigo Vier relata que percebeu aumento na procura por bebidas alcoólicas após o início da pandemia. “Nos horários em que nós estamos atendendo a procura aumentou. Principalmente quando os bares e lanchonetes fecharam, as pessoas começaram a procurar lugares para comprar bebida e ir para casa fazer o consumo”, comenta.

Ele observa que o maior fluxo de procura está nos fins de semana, quando as vendas são maiores. “As pessoas estão procurando mais por cervejas, das marcas tradicionais, pois como o atendimento está sendo somente na porta do estabelecimento, procuram pelo que já conhecem”, expõe.

Marcos Rodrigo Vier, proprietário de uma loja de conveniência em Marechal Cândido Rondon (Foto: O Presente)

 

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