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Marechal Moderno e sustentável

Contêineres ganham espaço na construção civil em Marechal Rondon

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Matéria-prima começou a ser utilizada em projetos arquitetônicos no município de Marechal Rondon há cerca de cinco anos e ganha cada vez mais espaço, principalmente em instalações comerciais. Além do aspecto moderno, é uma alternativa sustentável (Foto: Divulgação)

Após anos cruzando oceanos a bordo de enormes transatlânticos ou em forma de vagões de trem sobre ferrovias, os contêineres passaram a fazer parte da arquitetura de municípios em todo o mundo.

A reutilização de contêineres na construção civil ficou mais evidente na década de1990, por conta do elevado número descartado e inutilizado. Estima-se que 90% do movimento de mercadorias do mundo utiliza contêineres, cerca de cinco mil a cada ano.

Os contentores ou contêineres são grandes caixas feitas em aço ou madeira que servem para acondicionar e transportar uma variedade de cargas em navios, trens ou caminhões.

Outro fator contributivo para sua disseminação na construção civil, foi a necessidade de se utilizar materiais sustentáveis, com menor custo efetivo nas obras.

Em Marechal Cândido Rondon o uso dessa matéria-prima em projetos arquitetônicos iniciou-se há cerca de cinco anos e é utilizada principalmente em espaços comerciais.

O arquiteto Arlen Güttges recém-inaugurou seu escritório feito com contêineres em parceria com o engenheiro Gabriel Werlang, com quem divide o espaço. A estrutura foi feita com quatro unidades de 12 metros de comprimento por 2,5 de largura e 2,85 de altura, totalizando 125 metros quadrados (m²) de área. O escritório está localizado na Avenida Maripá e chama a atenção de quem passa pelo local. “A ideia de fazer um escritório assim existia há cinco anos, e a parceria com o Gabriel foi o que faltava para a realização do projeto. Estamos supersatisfeitos com o resultado”, comemora Güttges.

Ele revela que a maioria dos projetos que utilizam contêiner em Marechal Rondon foram executados de forma particular, sem a contratação de empresas especializadas. “A contratação de uma empresa para entregar tudo pronto custaria o preço de uma casa convencional, e praticamente inviabiliza a obra”, expõe Güttges.

Ele afirma que a escolha do contêiner no momento da compra é imprescindível para uma obra bem-sucedida. Saber a procedência e para qual finalidade ele foi utilizado é importante, pois neles são transportados diferentes mercadorias, inclusive produtos químicos e tóxicos. “Se você comprar um contêiner de qualidade a obra vai ficar boa, mas se comprar um ruim, vai ter muito problema”, alerta o arquiteto.

Outro detalhe relevante está relacionado a projetos que utilizarão mais de uma unidade. Nesses casos, é preciso comprar todas as unidades, se possível, do mesmo fabricante, para não ter dificuldade no momento de fazer o encaixe dos contêineres.

Güttges conta que durante os anos que atua no mercado foram raríssimas as vezes que clientes o procuraram para a realização de projeto arquitetônico com contêiner, no entanto, desde que se mudou para o novo espaço a procura cresceu consideravelmente. “Já tem três clientes interessados e um projeto comercial em andamento”, revela.

O arquiteto explica que mesmo com o aluguel do terreno para a implantação do escritório, o investimento deverá ser pago em sete anos e a economia em todo o processo chegou a 35% em relação a uma obra convencional.

Ele comenta que o escritório de arquitetura faz o projeto e a gestão da obra, mas a compra das unidades fica por conta do cliente. “Além do projeto, a gente faz a consultoria para ele, sobre onde e qual modelo comprar de acordo com sua necessidade”, relata.

Segundo Güttges, apesar da resistência de muitas pessoas em relação aos contêineres, o custo, o tempo de execução e o caráter de sustentabilidade tornam esse tipo de projeto viável para inúmeros fins. “Além da economia na obra você não gera impacto ao meio ambiente, pois é extremamente sustentável”, ressalta o arquiteto.

Foto da obra em andamento e, abaixo, imagem da estrutura já finalizada do escritório do arquiteto Arlen Güttges (Fotos: Divulgação)

Engenheiro Gabriel Werlang e o arquiteto Arlen Güttges: parceria resultou na construção do escritório de arquitetura (Foto: Divulgação)

Medidas do contêiner precisam ser consideradas quando se pretende revestir as paredes internas (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Ambiente interno do escritório de arquitetura de Arlen Güttges: “A primeira coisa que as pessoas falam quando entram aqui é: nossa, nem parece um contêiner”, conta o arquiteto (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

ÚTIL AO AGRADÁVEL

E foi pensando na economia e em unir o útil ao agradável que a maquiadora Patrícia Bitencourt decidiu construir seu salão de beleza com contêineres. Ela menciona que sempre precisou pagar aluguel de salas comerciais para manter sua empresa aberta e que após comprar uma residência notou a dificuldade em conciliar a distância do local de trabalho, os afazeres de casa e o contato com os filhos. “Por conta desses gastos extras e pelo fato de ficar afastada da minha família, eu optei em construir o salão junto à casa”, pontua.

Ela diz que o tempo de pesquisa para a realização do projeto foi quase o mesmo da execução total da obra. “Pesquisei durante três meses antes de iniciar o projeto e contei com a ajuda do meu irmão, que é arquiteto, mas ele não pôde participar efetivamente do projeto, pois mora em outra cidade”, lembra.

De acordo com a maquiadora, a rapidez de execução foi determinante na decisão por contêineres para a obra, que possui 60 m². “Desde a negociação e compra da unidade, até a finalização, mudança e inauguração foram apenas quatro meses e meio”, expõe.

A estrutura foi instalada há cerca de dois anos e meio e foi uma das primeiras em Marechal Rondon.

Entre outras vantagens, a possibilidade de mudar facilmente a estrutura para outro local também foi determinante na escolha do contêiner como matéria-prima. “Se amanhã ou depois eu tiver a oportunidade de comprar um terreno no centro, eu coloco em um caminhão e a levo para outra localização”, comenta a empresária.

Ela relembra que logo após instalada, a estrutura atraiu a atenção de pessoas que queriam dicas, pois também tinham o objetivo de construir usando contêiner. “Toda a parte decorativa e estrutural foi estudada e determinada por mim, pois eu não tinha condições de contratar um profissional para fazer isso. Me senti até um pouco arquiteta”, brinca Patrícia.

No entanto, a empresária ressalta que o fato de executar todo o processo da obra por conta própria trouxe alguns problemas ao longo do projeto, o que poderia ser evitado se tivesse contratado uma empresa especializada. “As pessoas acham que é só colocar uma caixa de metal e tá pronto, mas não é assim. O conhecimento do arquiteto é importante porque ele vai dar longevidade à obra”, afirma.

Patrícia Bitencourt: “Não é só colocar uma caixa de metal e tá pronto. O conhecimento do arquiteto é importante porque ele vai dar longevidade à obra” (Foto: Divulgação)

Fachada do Atelier Paty Bit, e ao fundo a residência da proprietária, Patrícia Bitencourt: unindo o útil ao agradável (Foto: Divulgação)

Um dos ambientes internos do atelier de beleza de Patrícia Bitencourt (Foto: Divulgação)

 

CHAMANDO A ATENÇÃO

Outra obra que está despertando curiosidade por quem passa na Avenida Rio Grande do Sul, no centro rondonense, tem estrutura em ângulos retos e com cores vibrantes. Trata-se de uma choperia que atenderá com o sistema de autoatendimento e três opções gastronômicas em delivery, além do atendimento presencial.

Conforme o sócio-proprietário Rafael Schneider, desde a escolha do local até o estilo da obra, a intenção principal do projeto era chamar a atenção, motivos que levaram à escolha do contêiner ao invés de uma obra convencional. “A gente queria um lugar muito interessante, e acho que conseguimos. Fico contente com isso”, frisa.

Segundo ele, o local oferecerá uma grande variedade em chope, o que trouxe outro ponto positivo ao projeto, pois a câmara fria da própria unidade será usada para o acondicionamento da bebida. “A ideia é ter uma variação bem maior que se tem hoje na cidade em outros estabelecimentos”, resume.

Rafael Schneider, sócio-proprietário da choperia: “Sabemos que os rondonenses são exigentes, por isso fizemos um local de qualidade, pois queremos que as pessoas se sintam bem” (Foto: Divulgação)

A Choperia Contém Chope, na Avenida Rio Grande do Sul, feita com contêineres, deve ser inaugurada ainda esse ano (Foto: Divulgação)

 

LAR CONTÊINER

Todos os exemplos bem-sucedidos citados acima mostram a versatilidade e as vantagens em se utilizar contêineres como principal matéria-prima na construção civil, porém, engana-se quem pensa que eles podem ser usados apenas para estabelecimentos comerciais.

Em Marechal Rondon existe uma residência feita em contêiner, talvez a única, ao menos é a que se tem notícia. Nela mora há mais de quatro anos o casal Kátia Neuberger e Marcelo Warken (Seco).

Kátia conta que a ideia surgiu durante uma viagem à praia, onde o casal notou que existiam várias lojas de conveniência feitas com contêineres. “Como já tínhamos o lote, mas não tínhamos condições de construir uma casa, decidimos fazer com contêiner, e saiu bem mais em conta”, relata.

Apenas o banheiro e uma cobertura utilizada como área de lazer foram feitas em alvenaria; a cozinha, a sala e o quarto do casal ficam dentro do contêiner.

Ela comenta que boa parte da mão de obra, como os cortes para instalação de portas e janelas, e a pintura do contêiner foi feita pelo marido dela, que possui uma tornearia que realiza manutenções automotivas. “Ele tem os equipamentos necessários para esses tipos de trabalho, então conseguimos economizar um pouco em mão de obra”, detalha.

A rondonense diz que mesmo com o aterramento feito no terreno, a construção do muro e todo o acabamento, a economia foi considerável. “Se fizéssemos uma casa convencional esse valor seria bem maior”, afirma.

Ela declara que, apesar de estar satisfeito com o custo-benefício da obra, o casal pretende construir uma casa convencional na frente do terreno. “E esse espaço que moramos hoje transformaremos em uma edícula”, compartilha.

Casal Kátia Neuberger e o Marcelo Warken é dono da única residência feita com contêineres em Marechal Rondon (Foto: Divulgação)

Uma estrutura em concreto foi construída para suportar o telhado convencional da casa, que serve como isolante térmico (Foto: Divulgação)

Contêiner foi para transporte de produtos têxteis e veio com o assoalho em madeira naval (Foto: Divulgação)

 

IMPORTANTE SABER

É óbvio que para quem precisa de um espaço muito amplo, seja para moradia ou instalação comercial, o contêiner não é a melhor opção. Suas medidas geralmente são medidas em pés, variando entre 20 e 40. Os contentores com 20 pés apresentam dimensão de 6 metros de comprimento por 2,4 de largura e 2,6 de altura, enquanto os de 40 variam em 12 x 2,4 com altura de 2,6 a 2,9 metros, a medida varia de acordo com a antiga função do contêiner.

Outro ponto que precisa ser considerado é o tamanho do terreno onde ele será instalado. A área deve ser capaz de comportá-los e ter espaço extra para as manobras dos guindastes que posicionarão os módulos.

A mão de obra especializada é importante, principalmente para fazer os cortes para instalação de portas e janelas. O posicionamento das mesmas precisa ser observado para obter melhor circulação de ar no interior dos espaços.

Os contêineres usados na construção civil normalmente são feitos de aço, um ótimo condutor de calor e péssimo isolante térmico, portanto, os cuidados com o conforto térmico e acústico também precisam ser levados em conta.

Quem fará financiamento para a realização do projeto precisa se ater a possíveis restrições, por se tratar de uma estrutura não usual.

As licenças e alvarás costumam ser as mesmas dos imóveis em alvenaria, mas isso pode variar de uma cidade para outra, o que necessita de pesquisa antecipada para não esbarrar em dificuldade para obtenção de documentos básicos para iniciar a obra.

 

VANTAGENS DE USAR CONTÊINERES NA CONSTRUÇÃO CIVIL

– Obra mais limpa com redução de entulho e de outros materiais

– Rapidez na execução: leva geralmente entre 60 e 90 dias para ficar pronta

– Economia de recursos naturais, menor uso de areia, tijolo, cimento, água, ferro entre outros artigos

– Reutilização do material

– Flexibilidade: além da construção poder ser desmontada e montada em outro terreno, suas características modular e geométrica permitem diversas configurações e facilitam a construção e/ou montagem

– Baixo custo: bem administrada, a construção pode ser 30% mais barata do que a tradicional

– Durabilidade: o contêiner tem vida útil longa, pois é projetado para resistir às diversas intempéries e suportar grandes cargas

– Na maioria das vezes, não requer serviços de fundação e terraplenagem

– Mantém boa permeabilidade do terreno

 

CUIDADOS

– O terreno precisa ter espaço para as manobras dos guindastes no transporte e armazenamento dos contêineres

– Requer mão de obra especializada, principalmente nos cortes das esquadrias

– Requer cuidados especiais de isolamento térmico e acústico. O contentor é feito de aço, que é um ótimo condutor de calor e péssimo isolante acústico

– Como se trata de um tipo novo de construção, carece de legislação adequada e dificuldade de obtenção de financiamento

– Dependendo do que o contêiner transportava no passado, podem haver vestígios contaminantes

– Os solventes liberados da pintura e selantes utilizados na fabricação do contêiner podem ser prejudiciais à saúde

– Pode haver ferrugem: é preciso tratamento adequado antes da aplicação na construção

 

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