Fale com a gente

Marechal

De best-sellers a clássicos: leitor rondonense busca diversidade

Publicado

em

Seus amigos reclamam que você deixa de vê-los para, em vez disso, ler? Ou você é daqueles que nem pensa em reservar um momento do dia ou da semana para a leitura? Se você faz parte do segundo grupo, preste atenção: uma pesquisa de Yale (Estados Unidos) revela que o hábito de ler está associado a uma longevidade maior, ou seja, quem lê mais vive mais. Em Marechal Cândido Rondon há muitos leitores que ficarão felizes com essa notícia. Estão entre eles estão:

Cristiano Viteck, jornalista

Leio menos do que eu gostaria. Com essa frase o jornalista começou a responder as perguntas da reportagem de O Presente, acrescentando: Meu emprego dos sonhos seria ser pago para ler, brinca.

Viteck lê frequentemente desde os dez anos, seguindo o exemplo do pai, que sempre leu bastante. No colégio, na época em que a leitura era obrigatória na preparação para vestibulares, fiquei cerca de dois anos desestimulado com a leitura. Porém, depois fui apresentado a um autor, o Charles Bukowski, e percebi que não era que eu não gostava de ler, apenas que tinha sido apresentado aos autores errados, comenta.

Ele diz que lê muito romance no estilo literário, livros de história, de comunicação, biografias, entre outros. O que não gosta são os livros de autoajuda e best-sellers.

Devorando em média um livro por semana, o rondonense conta que há obras que leu de uma única vez, sem pausa. Teve um único livro que eu deixei de ler. Trata-se de um clássico da literatura alternativa chamado Almoço Nu, de William S. Burroughs. Se não, mesmo que eu não goste tanto assim, acabo lendo até o final, declara.

É até engraçado, porque quando gostamos muito de um livro, queremos ler mais, contudo, quando ele termina, ficamos tristes. Tem livros inclusive que mesmo depois de terminar de ler, eu deixo em cima da mesa, levo comigo, para estar perto dele por mais uns dias, expõe.

Viteck tem mais de mil livros em sua biblioteca particular. É a parte favorita da minha casa, revela. Ele tem um filho de um ano, que leva o nome de Inácio em homenagem a um dos seus autores preferidos: Ignácio de Loyola Brandão. Como pai, comenta que já está montando uma biblioteca para o filho.

 

Arquivo pessoal
Cristiano Viteck: Meu emprego dos sonhos seria ser pago para ler, brinca

 

Ana Carolina de Moraes, estudante

A adolescente Ana Carolina de Moraes que não gostava muito do universo dos livros, leu cinco obras em apenas uma semana. Depois de ganhar um livro de presente, comecei a gostar da leitura, menciona. O estilo preferido são as coleções juvenis, seleções que possuem mais volumes. Além de tomar gosto pela leitura, a criatividade apontou para outra diversão que dividirá o espaço com os livros: os quebra-cabeças. Ana pretende montar um de duas mil peças, sem deixar de lado os livros de que gosta tanto.

 

Mayara Schaffner/OP
Ana Carolina de Moraes

 

Clarice Lottermann, diretora do Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), doutora em Estudos Literários

Apaixonada pela leitura, Clarice Lottermann tem como disciplina no curso de Letras a Literatura Infantojuvenil e no Programa de Pós-Graduação de Letras do Mestrado/Doutorado da Unioeste atua com a Literatura Juvenil Contemporânea. Assim, suas pesquisas se voltam muito para este tipo de leitura, principalmente as narrativas ficcionais, analisando o que esse público está buscando para ler. Por necessidade profissional, leio muito o que esses jovens leem, as séries, os best-sellers, entre outros. Porém, a Clarice leitora e não pesquisadora lê diversas outras obras, seja da literatura brasileira ou da estrangeira. Leio de Saramago a Mia Couto, gosto muito de David Mitchell, autor de Atlas de Nuvens, que é o que estou lendo agora, diz.

Na cabeceira da cama de Clarice, além de Mitchell, tem o livro Relato de um Certo Oriente, de Milton Hatoum, o que revela que a doutora lê várias obras ao mesmo tempo. A rondonense cita ainda um autor angolano do qual está gostando bastante: José Eduardo Agualusa.

Sobre quantos livros lê ao mês? Ela responde: depende muito do tipo de obra escolhida. Há alguns que lemos rapidamente, que têm uma leitura mais prática. Outros exigem do leitor um tempo maior para ler e que faz com que levantemos os olhos das linhas por um momento, pois nos fazem pensar, ressalta.

Clarice diz que não fica um único dia sem ler e que, em algumas ocasiões, optou por não terminar uma determinada obra. Contei as páginas e deixei ele parado por alguns dias. Eu sabia que quando decidisse ler, terminaria e ainda não queria me desfazer do universo vivido naquela história, conta.

 

 

Arquivo pessoal
Clarice Lottermann

 

Affonso Celso Gonçalves Junior, professor doutor na Unioeste – Centro de Ciências Agrárias

Leitor assíduo, Affonso Celso Gonçalves Junior lê em média dois a três livros por mês, no mínimo uma revista semanal e um ou dois jornais por dia, além de sites de notícias e diversas leituras científicas (artigos científicos, teses, dissertações, entre outros).

No momento dessa entrevista, Affonso estava em viagem, mas prestativamente respondeu às perguntas mesmo a distância. Compartilhou que no Aeroporto Internacional de Recife, onde estava, havia adquirido dois novos livros: Vocação para o mal, de Robert Galbraith, que é um romance policial, e A química, de Stephenie Meyer, que trata de uma aventura policial atrelada a uma trama científica de uma agência clandestina. Viajo bastante a trabalho para ministrar palestras, conferências e apresentar trabalhos em congressos com minha equipe. Nestas viagens pelo Brasil sempre passo nas livrarias dos aeroportos e jamais saio sem adquirir pelo menos uma obra e em viagens internacionais aproveito para comprar livros que muitas vezes ainda nem foram lançados no Brasil, relata.

De modo geral, sou muito eclético e curto todos os tipos de literatura: livros técnicos e científicos, romances, história, entre outros. Gosto muito de obras sobre sociedades secretas, livros espiritualistas e alquimia, sendo que destes assuntos citados já li mais de 150 obras. Finalizei recentemente a leitura de três obras: Ponto de Mutação, de Fritjof Capra (lido pela segunda vez), Inferno, de Dan Brown, e A espiã, de Paulo Coelho, enumera.

Com uma história com os livros já de longa data, quando começou a ler com cinco anos, sempre teve muito interesse pela leitura, já que o pai era um apaixonado por livros, apesar de não ter tido a oportunidade de finalizar seus estudos devido à falta de condições financeiras da época. Tenho despertado o interesse pela leitura em minhas filhas Isabela, de 12 anos, e Cecília, de oito anos. Elas leem constantemente, comemora.

Por fim, Affonso aconselha: Ler transforma mentes comuns em terreno fértil onde germinarão as sementes dos conhecimentos adquiridos e que se transformarão em plantas de sabedoria que alimentarão a todos que te cercam.

 

Arquivo pessoal
Affonso Celso Gonçalves Junior, professor doutor na Unioeste

 

Incentivo, paixão, exemplo…

A secretária de Educação de Marechal Cândido Rondon, Márcia Winter da Motta, que também é educadora, defende o incentivo à leitura. A leitura é fundamental na vida de qualquer pessoa. Na escola onde atuei não era difícil encontrar crianças que no horário de recreio que preferiam ler gibis do que brincar. Então percebo que os projetos de leitura nas escolas são muito importantes para que se desperte esse gosto logo cedo, acredita.

A diretora de ensino da Educação Infantil do município, Andreia Jaqueline Bach, atenta para o papel do professor em sala de aula como exemplo de leitor para os alunos. Vejo que na escola o professor precisa gostar de ler, de compartilhar essa paixão pelas obras, além de disponibilizar esses livros, deixá-los de fácil acesso para que as crianças possam pegar, manusear, saciar a curiosidade. De nada adianta deixá-los trancados na biblioteca, entende.

O diretor do Departamento de Ensino Fundamental rondonense, Alaércio Pinati, destaca que o contato com os livros acontece em todos os Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) de Marechal Rondon. O bebê começa a ter contato com o universo da leitura quando escuta as histórias, vê os livros. Isso ocorre por meio do projeto Contação de histórias, que contemplam todas as turmas de todos os Cmeis, declara. Nesta ação, uma professora conta as histórias de diversas maneiras: com livros, encenações, preparando um cenário, com objetos e entre outras.

 

Mayara Schaffner/OP

Integrantes da Secretaria de Educação de Marechal Rondon: Andreia Jaqueline Bach, Alaércio Pinati e Márcia Winter da Motta

 

Duas bibliotecas com 29 mil livros

Marechal Rondon conta com a Biblioteca Pública Municipal Martinho Lutero, que tem 45 anos de história no município, e com a Biblioteca Cidadã Alice Weirich, inaugurada em 2011. Segundo a auxiliar administrativa da Biblioteca Cidadã, Arlete Lopes, o público de lá é diversificado, com mais visitas de crianças, adolescentes e jovens. Temos até mesmo crianças que ainda não sabem ler, como, por exemplo, um menino de três anos, que tem sua própria carteirinha e a cada 14 dias a mãe traz ele para que devolva o livro que pegou emprestado e escolha um novo. A mãe lê para ele e ele mesmo cria a história vendo as imagens ilustradas na obra, conta.

As escolas municipais também frequentam a Biblioteca Cidadã, levando os alunos para fazerem aulas de leitura durante o período de 45 minutos, que equivale a uma aula. Além disso, a biblioteca desenvolve projetos durante o ano, tendo como abertura do calendário de atividades o dia 18 de abril – Dia Nacional do Livro Infantil – em homenagem ao escritor Monteiro Lobato. É uma semana de ações, que conta com visita dos alunos, contação de histórias, apresentação de filmes, entre outras atividades, explica Arlete.

Para este ano, a semana alusiva ao Dia Nacional do Livro Infantil contará com novidades. Criaremos a Tenda Literária. A partir dela nós levaremos a biblioteca para as instituições de ensino, começando pelos distritos, informa.

A Biblioteca Cidadã recebe uma média de 150 leitores por mês, que podem levar até dois livros para empréstimo, por um período de 14 dias. Temos várias obras que não foram devolvidas nas datas previstas. Não há nenhuma multa ou sansão por conta do atraso, então quem tem livros das bibliotecas em casa pode devolver sem problemas, para que o cadastro fique em dia e estes livros possam sem emprestados para outras pessoas, orienta Arlete.

Para fazer a carteirinha é necessário apenas ir até a biblioteca com um documento com foto e um comprovante de endereço. O acervo disponível na Biblioteca Municipal é de cerca de 26 mil exemplares e na Cidadã 2,8 mil.

 

Mayara Schaffner/OP
Rafael Valeriano, de 12 anos, é vizinho da Biblioteca Cidadã e lê com frequência desde que o espaço foi inaugurado. Gosto de livros que têm sequências, como o Crepúsculo, comenta

 

Copyright © 2017 O Presente