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Marechal Aulas suspensas x bares funcionando

Diretores de colégios particulares de Marechal Rondon comentam sobre expectativa de retorno das aulas; cronograma letivo termina em 16 e 18 de dezembro

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Enquanto cadeiras de estabelecimentos comerciais são ocupadas, salas de aula continuam vazias. Se para alguns diretores o momento requer, de fato, cautela, para outros há disparidade de tratamento entre segmentos. Há quem considere injusta a flexibilização para apenas alguns setores (Arte: O Presente)

Desde março deste ano, todos os setores da sociedade lidam de uma forma ou de outra com as consequências da pandemia de Covid-19. Todavia, passados sete meses do início da adoção de medidas restritivas e preventivas ao coronavírus, alguns segmentos seguem de “mãos atadas”. É o caso de escolas e colégios, principalmente os privados.

Enquanto várias atividades de diferentes segmentos já foram liberadas e retomaram o atendimento, mesmo que com restrições, como é o caso de comércios, lanchonetes, bares, pizzarias e afins, o setor educacional segue com as aulas presenciais suspensas.

Tal cenário tem gerado questionamentos e até mesmo críticas principalmente por parte de dirigentes de estabelecimentos de ensino privados. Isso porque se o objetivo do Estado é evitar aglomerações, contato entre muitas pessoas em um mesmo ambiente e consequente contágio por Covid-19, não é o que se verifica em muitos municípios, inclusive em Marechal Cândido Rondon, com a flexibilização de decretos. Diariamente é possível constatar um grande número de pessoas frequentado bares, restaurantes e choperias, ou até mesmo aglomerações em determinados ambientes, e os colégios, mesmo estando preparados para a retomada, com planos e protocolos rígidos prontos, não podem recomeçar.

O descontentamento não é com a flexibilização quanto às atividades dos diferentes segmentos, mas, sim, com o que muitos chamam de disparidade para com o setor educacional.

 

“NÃO É JUSTO”

Para o diretor do Colégio Evangélico Martin Luther, Ildemar Kanitz, a disparidade entre o que pode e o que não pode funcionar é prejudicial a alguns setores. “Acho que não é justo, porque as escolas já provaram que têm condições de retornar presencialmente e respeitar todas as regras que outros setores seguem, como, por exemplo, os cultos nas igrejas. Você pode fazer culto, missa, mas aulas não pode ter. Por que não? Não é justo que a escola sofra isso”, lamenta.

Na opinião do diretor, além da competência e da capacidade de seguir as medidas preventivas, há fatores científicos que contribuem para a retomada. “Há evidências de que as crianças são as que menos transmitem o vírus, enquanto muitos acham o contrário. Está cientificamente comprovado que as crianças não são os maiores transmissores do vírus, além de serem os mais assintomáticos”, pontua.

 

ATIVIDADES EXTRACURRICULARES

De acordo com Kanitz, a instituição aguarda apenas a concordância do prefeito em decreto para iniciar com as atividades extracurriculares, já liberadas pelo Conselho Estadual. “Acredito que haverá um número relativamente grande de adesão das famílias. Imagino que de 50% a 70% querem retornar com as atividades extras”, mensura, acrescentando que a recepção por parte da comunidade escolar em municípios que liberaram o retorno das atividades é muito desigual, o que torna difícil saber como os rondonense se comportarão, se em maior parte favoráveis ou contrários ao envio dos filhos às escolas.

 

MODELO HÍBRIDO

Baseado no que acontece em outros Estados, o diretor do Colégio Martin Luther acredita que há chances de as aulas retornarem ainda nesse ano em modelo híbrido, combinando práticas pedagógicas do ensino presencial e do ensino remoto, com o objetivo de melhorar o desempenho dos alunos tanto no presencial quanto a distância. “No Rio Grande do Sul, por exemplo, muitas escolas da Rede Sinodal estão com aulas principalmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental”, exemplifica.

Indiferente ao retorno presencial, o cronograma do ano letivo de 2020, relata Kanitz, segue sem grandes mudanças. “Aumentamos uma semana. Nossas aulas vão até 18 de dezembro, sendo que a entrega de boletins acontecerá no dia 21. Vai ficar mais apertado, mas cumpriremos toda a carga horária até essa data”, garante.

 

ANO COMPLICADO

Quanto aos aspectos financeiros como consequência da pandemia, o diretor menciona que foi um ano complicado e de orçamento extrapolado. “Apesar da economia com energia, material de limpeza e água, o que a escola deixou de arrecadar foi muito grande. Sentimos aí um impacto muito grande, bem como no número de alunos que saíram da escola. Nós perdemos cerca de 4% das matrículas de alunos, especialmente na Educação Infantil até três anos, que não é obrigatória. Pode parecer pouco, mas num todo representa uma redução bem significativa”, enfatiza.

Mesmo com as dificuldades, Kanitz aponta que o quadro de funcionários foi mantido. “Buscamos suporte com programas governamentais, reduzimos a carga horária de alguns colaboradores e conseguimos nos manter”, conta. “Com esse auxílio do governo, podemos terminar o ano de forma razoavelmente tranquila”, amplia.

Por outro lado, ele evidencia que a instituição também recebeu novos estudantes nesse período. “O modelo de aula que proporcionamos durante a pandemia chamou a atenção de muitas famílias e tivemos mais de dez alunos vindo estudar conosco”, destaca.

Diretor do Colégio Evangélico Martin Luther, Ildemar Kanitz: “Você pode fazer culto, missa, mas aulas não pode ter, por que não? Não é justo que a escola sofra isso” (Foto: Arquivo/OP)

 

ATRASO EM 2021

O diretor aponta que a preocupação para o próximo ano letivo não é com o número de matrículas, haja vista que a maioria dos pais pretende rematricular os filhos, mas, sim, com o início das atividades. “Nossa preocupação é se as aulas começarão em fevereiro ou não. É possível que a gente atrase as aulas em um mês ou que comece no tempo certo ainda no modelo remoto, o que pode trazer algumas dificuldades”, prevê.

 

MAIS AFETADO

Para os diretores pedagógico e administrativo do Colégio Cristo Rei, Roque Cezar Barbosa e Valtenci Tosta das Neves, respectivamente, a educação em estado pandêmico é um dos segmentos mais afetados no Brasil. “Em primeiro lugar, é preciso ter uma visão realista do período pandêmico vivenciado. É necessário termos clareza de que o cuidado é necessário, que as perdas são reais e a disparidade é aumentada. Escolas, responsáveis e alunos buscam incessantemente se adequar ao que demanda o cenário atual e isso gera muito desgaste, seja financeiro, psicológico ou na aprendizagem”, ressaltam.

Há aproximadamente dois meses, a instituição rondonense, com aval do Centro de Operações Emergenciais (COE), atende presencialmente alunos com dificuldades de aprendizagem e, no ponto de vista da direção, a atividade tem sido exitosa. “Mantemos todas as medidas de segurança e não tivemos registros de contaminação. Inclusive, existe uma demanda de vários pais solicitando apoio presencial a seus filhos, mas que não puderam ser atendidos ainda pelos impedimentos legais”, comentam.

 

AMBIENTE SEGURO

As projeções de retorno das aulas presenciais, pontuam Barbosa e Neves, se apoiam na seguridade proporcionada no ambiente educacional. “A escola é diferente das ruas, praças e outros espaços coletivos frequentados diariamente por adultos e crianças”, comparam.

Na opinião dos diretores, as atividades presenciais devem ser retomadas ainda neste ano. “Se não com todos os alunos, ao menos com parte deles. Prova disso acontece nesta semana, quando as atividades extracurriculares voltadas à seguridade do direito de aprendizagem dos alunos retornam”, enaltecem.

Se as aulas não retornarem presencialmente até novembro ou dezembro, ainda assim o ano letivo será concluído em 2020. “Logo no início da pandemia mudamos nosso calendário escolar, excluindo recessos e estendendo para 18 de dezembro o término do ano letivo”, expõem.

Diretor pedagógico do Colégio Cristo Rei, Roque Cezar Barbosa, e o diretor administrativo, Valtenci Tosta das Neves: “Existe uma demanda de vários pais solicitando apoio presencial a seus filhos, mas que não puderam ser atendidos ainda pelos impedimentos legais” (Foto: Divulgação)

 

PERSPECTIVAS FUTURAS

Os diretores mencionam que a pandemia em termos econômicos tem sido sinônimo de perda de receita para todos e com o Colégio Cristo Rei não foi diferente. “A área educacional é uma das que mais tem sofrido no cenário atual. Graças a Deus e à parceria dos nossos clientes, conseguimos manter nossas obrigações financeiras em dia, bem como nossos colaboradores. Não reincidir contratos é um desafio, mas mantemos toda nossa equipe”, salientam.

A direção do educandário rondonense vê 2021 com bons olhos. “Há vários projetos alinhados, oficinas de aprendizagem sendo estruturadas por componentes curriculares, a fim de trabalhar os conteúdos de 2020 com mais profundidade no ano que vem. De forma assertiva, priorizando qualidade e valorizando o emocional dos alunos, temos feito a diferença em suas vidas em tempos tão difíceis como este”, garantem Barbosa e Neves.

 

CRITÉRIOS TÉCNICOS

No ponto de vista do diretor do Colégio Luterano Rui Barbosa, Cleudimar Wulff, a decisão de manter a restrição das atividades escolares está pautada em critérios técnicos avaliados pela Secretaria Estadual da Educação (Sesa). “Cabe a nós, como instituição de ensino, acatar as decisões e orientações das autoridades competentes”, resume.

Dependendo de autorização da Sesa, o diretor afirma que o educandário rondonense já realizou protocolo de procedimentos e cuidados em relação à Covid-19 e está preparado para receber os alunos. “A expectativa é de um retorno escalonado das aulas presenciais ainda neste ano. Em pesquisas internas realizadas com os pais e responsáveis percebeu-se que 50% estariam dispostos a enviar seus filhos ao Colégio Rui Barbosa”, relata, emendando que “a presença dos alunos e a interação com os professores são importantes e necessárias ao processo de ensino e aprendizagem”.

 

ANO LETIVO

Sobre um possível retorno de atividades extracurriculares, Wulff expõe que o Colégio Rui Barbosa também abrirá a oferta.

De acordo com a direção da instituição, considerando que as aulas remotas serão validadas, as atividades letivas estão ocorrendo dentro do cronograma. “O previsto no calendário é que as aulas terminem no dia 16 de dezembro de 2020, após as revisões e exames avaliativos”, informa.

Diretor do Colégio Luterano Rui Barbosa, Cleudimar Wulff: “Em pesquisas internas realizadas com os pais e responsáveis percebeu-se que 50% estariam dispostos a enviar seus filhos ao colégio” (Foto: Arquivo/OP)

 

SITUAÇÃO FINANCEIRA

Diante da situação vivenciada por pais e por toda a sociedade, a direção do Rui Barbosa concedeu descontos de até 30% nas mensalidades durante cinco meses. “A situação financeira é tratada com atenção para garantir o pagamento de todas as obrigações”, salienta o diretor, adicionando que, com a pandemia, foram realizados investimentos em equipamentos e tecnologias/sistemas para o ensino remoto.

Wulff compartilha ainda que, ao contrário dos índices estaduais e nacionais, o número de matrículas na instituição não diminuiu. “Pelo contrário, temos pais procurando o colégio para matricular os seus filhos, pois percebem a qualidade do ensino”, evidencia.

Sobre as estratégias para o ano de 2021, o diretor é enfático: “Realizaremos uma campanha de matrículas demonstrando tudo que o Colégio Rui Barbosa tem a oferecer, além de manter o ensino de qualidade já existente aos alunos e atender os pais e responsáveis de maneira satisfatória. A atenção recai também aos cuidados com professores e funcionários para que tenham equilíbrio e estabilidade emocional para enfrentar e superar os impactos da pandemia”, projeta.

 

O Presente

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