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Marechal Nova vida

Do tiro inesperado à esperança de voltar a andar

Em janeiro deste ano, após ser baleado durante uma tentativa de assalto, Renan Schroder ficou tetraplégico e passou meses no hospital, sem conseguir respirar sozinho, nem mesmo falar. Agora, há um mês se recuperando em casa, rondonense projeta sonhos para o futuro, mas ainda traz consigo marcas dos dias mais difíceis de sua vida

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Renan rodeado pelos pais Wilson e Marlene, dos irmãos Rafael e Daniele e da sobrinha Lívia: “Agradeço por estar vivo e hoje penso na minha recuperação e em poder retornar às minhas atividades” (Foto: O Presente)

Você já parou para pensar na imprevisibilidade e inconstância da vida? De uma hora para outra ela muda. Às vezes para melhor, às vezes para pior e depois para melhor de novo. Uma verdadeira roda gigante que nos rodopia a mente e nos tira o chão, e nesse vai e vem, vamos nos moldando. Estruturas são quebradas, reestruturadas, construídas.

Entre um e outro giro nessa roda gigante chamada vida, sonhos são projetados e metas e objetivos traçados. Alguns obstáculos também aparecem no caminho, de modo a provar nosso merecimento. Acontece, porém, que algumas coisas que se sucedem durante essas voltas são marcantes, por vezes dolorosas, e que podem mudar completamente os rumos da vida. Quando percebemos, acordamos em um dia precisando saber como começar de novo, mas isso, infelizmente, nem sempre é fácil.

Sinônimo de fé e esperança, o jovem rondonense Renan Francisco Schroder é um desses exemplos reais de que a vida pode mudar drasticamente de uma hora para outra, sendo necessário um novo recomeço, pautado em aprendizados.

Em janeiro deste ano, após ser baleado durante uma tentativa de assalto, ele ficou tetraplégico e perdeu todos os movimentos do pescoço para baixo. Passou meses no hospital, sem conseguir respirar sozinho, nem mesmo falar.

Agora, há um mês se recuperando em casa, Renan projeta sonhos para o futuro, mas ainda traz consigo marcas dos dias mais difíceis de sua vida.

Ainda sem conseguir respirar sozinho, dependendo da ajuda de um respirador mecânico, e com a voz comprometida, o jovem abriu seu coração e contou à reportagem de O Presente como foram os 105 dias internados em hospitais de Marechal Cândido Rondon e Cascavel.

Renan destaca que no início foi difícil aceitar o que havia acontecido com ele e revela que sentia raiva. “Quando acordei do coma, no hospital em Cascavel, sentia muita dor e sofria muito. Me perguntava por que eu não tinha morrido ao invés de ficar sofrendo e passando por toda essa dor”, conta o jovem.

Ele relata que o momento mais difícil foi quando acordou do coma e percebeu que não tinha mais sensibilidade e que havia perdido os movimentos. “Eu chorava e não conseguia secar minhas próprias lágrimas”, revela.

Hoje, no entanto, Renan afirma que aceitou o que aconteceu e não pensa mais da mesma forma que antes. “Agradeço por estar vivo e hoje penso na minha recuperação e em poder retornar às minhas atividades”, declara.

 

Lembranças apagadas

Baleado no momento em que abria o portão eletrônico para entrar na garagem da sua residência com seu veículo, Renan diz não se lembrar de absolutamente nada do momento do crime.

Na ação, os criminosos invadiram o imóvel e abordaram inicialmente a mãe, que havia ido em direção ao filho. Enquanto a mulher foi mantida na área da casa, os outros assaltantes se aproximaram de Renan e deram voz de assalto.

Quando Renan desembarcava de seu automóvel, um dos criminosos efetuou disparos de arma de fogo, sendo que um projétil transfixou o seu rosto, entre os olhos e a bochecha, e atingiu as vértebras C3 e C4. O jovem foi internado com lesão na medula.

“Lembro que naquele dia eu tinha ido pedalar com meu irmão, depois peguei o carro e vim para casa.  Só lembro de eu chegando em casa, depois disso não lembro de mais nada”, garante Renan.

Doze dias após o acontecimento, quando acordou do coma, o jovem recobrou a memória. Para ele, entre o dia em que foi baleado até quando acordou na cama do hospital, as lembranças foram apagadas. “Depois que acordei me lembro de tudo. Lembro da vinda de Cascavel para Marechal e também dos procedimentos”, detalha.

 

De volta à casa

A parte clínica de Renan está estável e depois que voltou para casa não teve nenhuma complicação, infecção ou algo que precisasse de intervenção médica. “Para minha família sei que é mais difícil, mas para mim tudo ficou mais fácil, e eu me sinto melhor estando em casa, podendo receber visitas dos meus familiares e amigos”, expõe. “É um sentimento muito bom. Agradeço por estar de volta, conseguir sair do hospital, chegar em casa e ter minha família por perto”, completa.

O jovem vai completar 26 anos ainda neste mês e em seu coração traz apenas um desejo: se recuperar totalmente e poder voltar a trabalhar. “Eu sempre trabalhei muito. A maior parte do tempo eu ficava na bicicletaria. Além disso, gostava muito de pedalar e de pescar nos finais de semana”, comenta.

Ao longo dos meses em que ficou internado, diversos foram os atos de apoio realizados pela sociedade em prol da recuperação de Renan. Uma das ações mais expressivas foi uma mobilização no Lago Municipal, com a intenção de compor uma forte corrente de oração. “Eu soube de todas as mobilizações que aconteceram. Conforme iam sendo realizadas, meus familiares me mostravam e isso me passava bastante energia positiva. Me emocionava toda vez que via alguma ação ou mensagem. Sentia o quanto as pessoas gostavam e tinham carinho por mim”, revela o jovem.

 

Ação covarde e cruel

Os pais de Renan definem a ação criminosa como covarde e cruel. “Nunca imaginávamos que ia acontecer algo desse tipo com a gente. Na verdade, até hoje não conseguimos acreditar. Foi algo que mudou totalmente nossa vida e ainda não conseguimos entender exatamente o motivo para ter acontecido”, desabafa Marlene.

Wilson complementa dizendo que todos os dias são vistas situações como essa acontecendo, mas que nunca se cogita a possibilidade de ser com a própria família. “Sempre pensei que se um dia acontecesse conosco, quando os bandidos chegassem nós iríamos nos render e entregar tudo. Mas eles foram covardes, nem se sequer deixaram ele (Renan) desembarcar do veículo”, expõe. “Ninguém está livre de ser assaltado, mas então que levem as coisas. Não precisa machucar ninguém, ainda mais uma pessoa de bem, que nunca fez mal a alguém”, lamenta.

Agora, passados quase seis meses da tentativa de assalto, ainda são poucas as informações sobre os possíveis autores do crime e, consequentemente, do autor do disparo que atingiu Renan.

Para a família, o momento não é de pensar em justiça, mas, sim, na saúde de Renan. “Não fomos atrás disso. Desde o começo concentramos nossas forças na recuperação do Renan, mas é claro que gostaríamos que os responsáveis pagassem pelo fizeram”, comenta Marlene.

 

Uma nova vida

Renan é o filho mais novo de três irmãos. Seus pais, Wilson e Marlene Schroder, acompanharam o filho desde o início do incidente, passando por momentos de felicidade, mas também de tristeza. Para eles, saber que Renan estava totalmente imóvel foi a pior notícia possível. “Com o tempo fomos nos adaptando, comemorando as pequenas vitórias, mas a nossa rotina mudou totalmente”, declaram.

A rotina dos pais foi modificada ao passo que a de Renan também precisou de adaptações. Eles inclusive deixaram seus trabalhos de lado para dar toda atenção necessária ao filho. “Hoje ele está em primeiro lugar, depois vêm as outras coisas”, afirmam Wilson e Marlene.

Mesmo com um quarto adaptado às necessidades de Renan, alguém sempre dorme ao lado da cama do jovem. “Nós nos revezamos porque não dá para deixar o Renan sozinho, pois ele não consegue chamar e alguém precisa estar junto para atender a qualquer necessidade que ele tenha”, explicam os pais.

A rotina de Renan ao longo do dia não se distancia muito da que tinha no hospital. Entre banho, medicação, curativos e higiene pessoal, o jovem também faz fisioterapia uma vez por dia, com uma profissional que se desloca à residência da família.

No entanto, trazer o filho para se recuperar em casa demandou aprendizados por parte dos familiares. “No início tínhamos um pouco de medo de trazer ele para casa e ele também tinha esse sentimento, mas deu tudo certo e até agora não tivemos nenhum problema”, conta Marlene.

“Nós acompanhávamos todos os procedimentos pelos quais ele passava no hospital para que pudéssemos aprender a fazer quando ele viesse para casa”, diz Rafael Schroder, irmão de Renan.

 

Misto de sentimentos

A família de Renan vive hoje um misto de sentimentos de alegria e tristeza ao mesmo tempo. “Estamos muito felizes e agradecemos todos os dias por ele estar aqui conosco, mas, ao mesmo tempo, nos entristece ele não estar nas condições que gostaríamos que estivesse. Mas com certeza a alegria é muito maior que a tristeza”, expõe Rafael, que acrescenta: “É muito difícil, nossa rotina mudou totalmente, mas a alegria de ter ele ao nosso lado faz tudo valer a pena”.

Alegria esta que recentemente foi completada com a chegada de um novo membro da família: a pequena Lívia, filha da irmã de Renan. “Ficamos todos juntos para cuidar uns dos outros”, enaltece Marlene.

 

Ainda há esperança

Hoje, Renan é totalmente dependente do ventilador mecânico para conseguir respirar e se alimenta apenas por sonda. No entanto, o atual quadro clínico dele não abalou o pensamento positivo da família. “Nós ainda tempos esperança que ele vai conseguir levantar da cama e voltar a caminhar. Temos muita fé. Eu e o Renan, principalmente. Sei que vamos conseguir recuperar em grande parte esse trauma, largar esse aparelho e melhorar”, declara, confiante, o pai de Renan.

A família não desistiu e continua buscando novas alternativas para a recuperação do jovem. “Já fizemos contato com o hospital Sarah Kubitschek e coletamos células-tronco com a bebê que nasceu”, revela Wilson.

A motivação está, acima de tudo, na forma como Renan vem administrando sua atual situação. Para os familiares, ele já é quase o mesmo Renan de antes. Um jovem alegre, divertido e espontâneo. “Mesmo nessa situação ele ainda está fazendo brincadeiras. Ao passo que a voz dele voltar, tenho certeza que ele vai estar contando piadas, assim como sempre fazia”, menciona Rafael.

Emocionada, a mãe de Renan lembra da persistência do filho. Sempre com pensamento positivo e sem reclamar de nada. “Quando ele está bem e não sente nenhuma dor, o Renan abre um sorriso que é a coisa mais gratificante. Quando vemos um sorriso no rosto dele sabemos que todo sacrifício vale a pena, e vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para que ele melhore”, declara Marlene.

 

Ação beneficente

Durante os últimos meses, Renan foi submetido a diversos procedimentos médicos e, embora o maior custo do tratamento tenha sido bancado pelo convênio, a família ainda arca com muitas despesas, principalmente agora com ele se recuperando em casa. “Meus pais não podem trabalhar, então a renda diminui drasticamente. Medicamentos tem alguns que ganhamos, outros temos que comprar e o mesmo acontece com a alimentação do Renan”, expõe Rafael. “Além disso, todos os equipamentos e aparelhos que ele utiliza precisam ficar ligados 24 horas por dia, então a conta de luz chegou a triplicar de valor”, acrescenta.

Por conta disso, a família decidiu promover uma ação entre amigos em prol de Renan. O prêmio principal vai ser o veículo de Renan, um Gol ano 94/95 e o segundo uma bicicleta, também de sua loja. “Ele está dando o carro e a bicicleta para nos ajudar e assim ajudar a ele também”, conclui Rafael.

Outros prêmios que integram a rifa são um televisor Samsung de 42 polegadas, um forno elétrico Fischer, um micro-ondas Consul de 20 litros e uma batedeira Britânia.

Interessados em colaborar podem entrar em contato pelos telefones (45) 99962-4494 (Rafael) e (45) 99947-6082 (Gabriela).

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