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Em meio a polêmicas, revitalização avança

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O Presente

 

A Avenida Rio Grande do Sul voltou ao centro do debate entre os rondonenses. São manifestações em redes sociais e em rodas de conversa, palpites sobre o ônus e o bônus da obra pública e argumentos que formam, involuntariamente, o time dos ambientalistas e o time dos  que querem o avanço da urbanização. Apesar de divulgado pela primeira vez há pelo menos três anos, de ter passado por ajustes e colocado em prática em 2016 – ano em que os recursos foram liberados pelo governo federal, por meio do Ministério das Cidades -, a revitalização da Avenida Rio Grande do Sul e as intervenções na Rua Santa Catarina parecem mais desagradar do que animar os munícipes.

Desta vez, a divergência de opiniões está na retirada das árvores de uma das principais vias que corta o município, que na segunda-feira (06) amanheceu de cara nova, e com bem menos sombra. Nos passeios públicos da avenida, entre as ruas Independência e Mem de Sá, e no canteiro central no intervalo das ruas Rogério Valter Grum e Helmuth Koch, os emblemáticos flamboyants vieram ao chão. Agora, cones e faixas substituem os troncos e chamam a atenção dos pedestres para evitar acidentes nos buracos que ficaram no local provisoriamente, já que a informação da Secretaria de Coordenação e Planejamento é de que na próxima semana a colocação de pavers será iniciada.

 

 

Projeto alterado

Mesmo com a manifestação de alguns rondonenses que são contra a retirada das árvores, a forma que a Rio Grande do Sul está ganhando nesta semana já é fruto de uma intervenção no projeto aprovado ano passado. Em um primeiro momento, a intenção do Poder Público era retirar todas as plantas do canteiro central, que seriam substituídas por pequenos arbustos – entre as ruas Independência e Mem de Sá -, e entre a Rogério Valter Grum e Helmuth Koch receberia uma ciclovia unidirecional.

Porém, tudo mudou ainda no ano passado, quando a população rechaçou o projeto. De acordo com o presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, engenheiro ambiental Marcos Chaves,  em casos como este, quando há a retirada significativa de árvores da cidade, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) não exige um licenciamento, todavia, pede uma audiência para que o município justifique a retirada das plantas, a fim de que seja um benefício comum. Quando convocamos a audiência em meados de julho do ano passado, a população compareceu em massa ao encontro e  não compactuou com o projeto original que previa a supressão de muitas árvores, principalmente no canteiro central da avenida por conta da ciclovia, destaca.

Na própria audiência foi definida uma comissão, composta por membros de entidades e da própria sociedade, que propuseram alterações no projeto de revitalização para que a obra impactasse de maneira menos negativa no ambiente da cidade. Entre as sugestões estava a de que a ciclovia permanecesse no canteiro central, mas que as árvores também ficassem. Principalmente os ipês, por não possuírem um porte grande e por não haver exposição de raízes permitem perfeitamente a instalação de uma ciclovia bidirecional, ressalta Chaves.

A maioria das árvores que foram retiradas dos passeios e do canteiro central da avenida são os flamboyants, que, apesar de garantirem boas sombras para os pedestres e ajudarem a amenizar as altas temperaturas, causam um problema significativo no calçamento, meios-fios e até mesmo no asfalto por conta do enraizamento, que chega à superfície. Seria totalmente inviável fazer a ciclovia de maneira segura com os flamboyants, e é por isso que o primeiro passo na Rio Grande do Sul foi a retirada das árvores de maior envergadura, deixando os ipês para garantir a sombra, destaca o presidente do Conselho de Meio Ambiente, ressaltando que, em alguns pontos, os ipês também estavam sombreados pelas outras árvores, por isso não estavam se desenvolvendo devidamente.

 

 

Condenadas

Durante o processo de retirada dos tocos das árvores que foram arrancadas da Avenida Rio Grande do Sul, especialmente na área entre o Posto Camilo e a Rodovel, o secretário de Coordenação e Planejamento, Reinar Seyboth, expõe que no momento em que a máquina movimentou, o toco partiu-se ao meio, tendo em vista a fragilidade da planta. E eu tinha a preocupação de que parássemos a máquina a qualquer sinal de danificação de meio-fio ou asfalto. Ao deitar o tronco, eram claras as condições do enraizamento bastante danificado, era uma árvore comprometida assim como todas as outras que foram retiradas, enaltece. As árvores garantem o aspecto de equilíbrio entre o concreto e o verde, mas é necessário saber que elas também têm uma vida útil e que é necessário fazer a substituição por espécies que não causem dano ao pavimento, ao passeio e novos transtornos, complementa.

De acordo com Seyboth, pelas podas realizadas nessas árvores, o estado de conservação em que se encontravam fez com que a maioria fosse condenada, por isso a destoca aconteceu. A poda não inibe apenas um galho do crescimento, mas também a raiz. No momento que eu impeço o crescimento da copa que já tinha uma raiz, ela também morre, então seria importante que os críticos acerca da manutenção das árvores a qualquer custo pudessem observar esse detalhe, enfatiza. As árvores retiradas apresentavam problema de raízes, podres, com pouca estrutura, que facilmente poderiam causar problemas e no canteiro central elas sofriam podas drásticas, que as tornaram suscetíveis ao apodrecimento, entrada de fungos e umidade, comenta Chaves.

O engenheiro ambiental garante que no lugar das árvores de grande porte retiradas das calçadas já está prevista a substituição por árvores mais adequadas para que estejam de acordo com a fiação elétrica e o passeio público. No entanto, há uma dificuldade de compatibilizar com as fachadas das lojas. Sabemos que todos querem mostrar a sua marca, mas é necessário que essas árvores sejam repostas então será preciso também uma sensibilização dos empresários, menciona.

 


Envolvimento da população

Conforme Seyboth, a sociedade e o Conselho Municipal de Meio Ambiente serão envolvidos em uma nova discussão sobre outro trecho que faz parte do projeto: na Rua Santa Catarina, no intervalo entre as ruas Dom João VI e Mem de Sá. Neste local que receberá a ciclofaixa está prevista a retirada total das árvores, mas constatamos que não há necessidade de suprimir todas elas. Temos que chegar a um consenso sobre manter aquelas que são viáveis ou fazer um processo gradual de substituição, já que existem algumas que pelo porte estão danificando o passeio público, frisa.

Muito além da sombra, que agrada pedestres e também motoristas que estacionam seus carros na via, o secretário municipal de Coordenação e Planejamento enfatiza a importância de garantir a acessibilidade das calçadas, para que cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida possam transitar sem problemas pela via. Atingir a unidade, a totalidade das opiniões convergindo para um mesmo ponto, nós nunca vamos conseguir. Em aspectos que envolvam o meio ambiente, processos de urbanização como é o caso, sempre haverá divergências, opina. Às vezes a pessoa nem sequer faz o uso daquela área, mas a retirada de uma árvore causa certo constrangimento, ainda mais em uma cidade quente como a nossa. Contudo, é preciso considerar vários aspectos, não só o calor, pontua.

Seuboth também diz que é necessário por parte do Poder Público pensar em um Plano Municipal de Arborização, que prevê um manejo para as árvores em todo o município. O que causa o impacto é a limpeza total de uma via, a retirada brusca, mas se nós fizermos um trabalho gradativo de retirar uma árvore e plantar outra e quando ela tiver um porte determinado fizer a extração de uma nova árvore e outro plantio, para fazer essa rotatividade, o manejo será satisfatório sem impactos, avalia.

 

 

Próximas etapas

Pelo impasse com as árvores também na Rua Santa Catarina, a obra de revitalização está sendo retomada com ações em torno da Avenida Rio Grande do Sul. Segundo o secretário de Coordenação e Planejamento, nos trajetos dos passeios públicos praticamente não há mais árvores, por isso, a revitalização inicia nestes locais na próxima semana. A partir da Rua Independência a empresa iniciará a colocação dos pavers em direção à Rua Mem de Sá e, em paralelo, a empresa Elétrica Global, vencedora da licitação do projeto de iluminação, começará a implantar os postes no canteiro central, informa.

Seyboth menciona que a previsão é de que ocorra o plantio de árvores de menor porte, as quais, com a poda correta, oferecerão uma boa sombra, condizendo também com o passeio, meio-fio e asfalto. Queremos a nossa cidade harmoniosa, com trânsito, acessibilidade e passeios adequados, sem esquecer o meio ambiente, expõe. O projeto é uma herança da administração anterior e tem um sentido de desenvolvimento porque é para fazer uma ligação entre os bairros Primavera, Boa Vista e o Frigorífico da Copagril por ciclovias. Talvez o erro do projeto foi a aprovação ter sido feita às pressas, diante de alguma necessidade eleitoral. Contudo, agora a nós cabe ouvir a população e buscar o entendimento da maioria para que juntos possamos fazer as ações de maneira acertada, conclui.

 

 

Empresários opinam

Julita Uecker, empresária:

Não está prejudicando o comércio de maneira alguma. Causa esse transtorno na retirada, um pouco de sujeira, mas é passageiro. Essas árvores velhas que estão sendo retiradas dão lugar às novas que precisam de espaço para crescer.

 

 

Daltro Paluch, empresário:

Agora já foi, já retiraram, não podemos fazer nada. Nos meus 50 anos que estou na cidade fiquei muito triste em ver o corte dessas árvores que eu ajudei plantar. Além de me trazerem boas lembranças, há a questão do calor. Se com a árvore em frente à minha empresa já era quente, imagina agora, sem.

 

 

Misael Rodrigues dos Santos, cabeleireiro

Eu sou a favor do plantio de árvores, não do corte. Mas como neste caso essa retirada prevê a melhoria da cidade, não é uma retirada total, e algumas árvores realmente apresentavam risco. Acho que o projeto está sendo executado de forma correta. Eu espero também que ocorra um replantio posteriormente em algumas áreas.

 

 

Marisa e Marcello Hensel, empresários:

São dois lados: o positivo é que deixou a minha loja muito mais visível. Por ter uma fachada pequena, qualquer árvore acabava ofuscando, então ficou muito mais exposta para quem passa na rua. Por outro lado, o calor pegou bastante. Mas a avenida realmente precisa dessa revitalização. No tornado nós presenciamos tudo e a maioria dessas árvores já estavam condenadas desde aquela época. O que precisa acontecer é o replantio de árvores mais resistentes e compatíveis com a calçada, então vejo mais como ponto positivo do que negativo, mas é claro que precisa acontecer o replantio.

 

 

Dirceu Griep Fenner, mecânico:

Se é para melhorar a cidade, o projeto é válido. Mas eles deveriam ter retirado essas árvores antigas há muito mais tempo para permitir que os ipês se desenvolvessem normalmente e não que ficassem sombreados e demorassem tanto para crescer. Faltou um planejamento para a arborização, para executar a retirada das árvores sem estragar o asfalto, que aqui é um dos melhores da cidade. Provavelmente depois que estiver pronto vai ficar bom, mas faltou um planejamento melhor antes de começar a executar.

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