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Em tempos de pandemia, região vive “boom” do ciclismo

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(Foto: Divulgação)

“Se me convidarem para pedalar e para jogar bola, eu vou para o pedal”. A afirmação é do rondonense Cesar Emerson da Silva, 41 anos, árduo praticante de futebol, mas que depois da chegada da pandemia mudou de “time” e adentrou para o mundo do ciclismo.

Acostumado a ir e vir do trabalho em cima de uma bike, com a proibição dos esportes em grupo como medida de prevenção à Covid-19, ele encontrou na bicicleta um novo hobby. “O pessoal do grupo ‘Os Faiados’ me convidou para um pedal de 40 quilômetros, trajeto para Quatro Pontes. Eu achei uma loucura, mas fui, consegui completar e gostei. Isso foi ainda na segunda semana da pandemia”, relembra, enaltecendo o momento como “redescoberta da bicicleta”.

Silva garante que, agora, mesmo com o retorno no futebol, andar de bike é a sua atividade preferida.

Rondonense Cesar Emerson da Silva foi um dos muitos a ter uma nova relação com a bicicleta: com o início da pandemia, o pedal passou de meio locomoção para hobby diário (Foto: O Presente)

 

TODA MANHÃ

Antes da pandemia o rondonense realizava cerca de cinco quilômetros diariamente, tendo a bicicleta como meio de transporte, mas hoje as coisas mudaram. “Pedalo todo dia com um amigo. Saímos perto das 05h30 e fazemos uma média de 40 quilômetros toda manhã. Notei bastante mudança na minha performance. Nunca tive tanta força muscular jogando bola como tenho agora pedalando, sem contar que há bem menos lesão que no futebol”, destaca, enumerando as vantagens do ciclismo.

Assim como Silva, muitas outras pessoas viram na prática individual do ciclismo uma boa opção para a pandemia. “No pedal você consegue ir sozinho e no futebol precisa de mais nove para jogar. Além de ser um esporte legal, tem essa vantagem em momentos delicados como esse”, salienta.

 

SEM RISCOS

O caráter individual foi a característica que permitiu a ascensão do ciclismo enquanto outros esportes ainda estavam proibidos. De acordo com a Pesquisa Semexe 2020, uma startup do setor esportivo, 89% dos entrevistados acreditam que o pedal é mais seguro se comparado à academia e, além disso, 62% dos respondentes incorporaram a bicicleta também para atividades simples do dia a dia.

A bicicleta é um dos primeiros veículos que todo mundo conta na vida e, conforme afirma o presidente da Associação Rondonense de Ciclismo (ARC), Paulo Rodrigo Coppetti, o ciclismo é um dos primeiros esportes praticados pelos cidadãos em geral. “É a modalidade da nossa infância, afinal, quando pequenos, tem aquela coisa de ganhar a primeira bicicleta, aprender a andar com ela. Hoje em dia vemos uma procura ainda maior pelas bikes, mas não somente como presente para os filhos. Não tem idade para ter uma bicicleta, ela vai bem em qualquer idade”, destaca, confirmando o que a pesquisa Semexe apontou, que houve um aumento de pessoas que começaram a pedalar na pandemia por conta dos riscos de contaminação serem menores.

Presidente da Associação Rondonense de Ciclismo, Paulo Rodrigo Coppetti: “Uma coisa bacana é que os ciclistas, mesmo os amadores, competem entre si no Strava. Muitos treinam apenas para conseguir certo kom (king of mountain ou rei/rainha da montanha)” (Foto: O Presente)

 

COMPETIÇÃO NO STRAVA

Coppetti diz que é perceptível na microrregião mais pessoas pedalando, principalmente à noite e nos finais de semana, como também se vê o surgimento de novos grupos de pedal. “As competições pararam, mas os atletas não deixaram de treinar. Uma coisa bacana é que os ciclistas, mesmo os amadores, competem entre si no Strava. Muitos treinam apenas para conseguir certo kom (king of mountain ou rei/rainha da montanha)”, menciona, explicando que os ciclistas atingem conquistas no aplicativo ao superar a performance, seja a sua ou de seus amigos, em segmentos do trajeto.

 

QUESTÃO DE GOSTO

Questionado se a força do ciclismo deve perdurar no pós-pandemia, o presidente da ARC acredita que sim, contudo, pondera: depende de cada um. “Tem aqueles que começam a pedalar e não se adaptam, já outros gostam e percorrem longas distâncias. Fato é que o ciclismo é um esporte bom, que faz bem para a saúde e que gera ótimas amizades”, salienta.
Segundo ele, a prática não precisa ser intensiva e as distâncias aumentam junto com a experiência. “Eu mesmo pedalo, mas não todo dia. Pedalo quando posso e não deixei de praticar outras modalidades; é possível conciliar”, destaca.

 

MAIORES DISTÂNCIAS

Ivani Maria Hermann, de 53 anos, também viu seus trajetos de pedal crescerem durante a pandemia. A rondonense já pedalava há mais de anos em distâncias curtas, não passando de 15 quilômetros, e na pandemia aumentou seus “piques”. “Meus colegas faziam mais de 40 quilômetros pelo interior, estrada de chão e me chamaram. Eu pensei, se eles vão, por que eu não vou também?”, rememora ela, que depois de topar o desafio, percebeu que ele não era tão difícil assim. “Acompanhei meus colegas tranquilamente”, comenta.

De acordo com Ivani, como não há mais eventos, as pessoas dificilmente saem de casa, até por conta da quarentena, com isso, há mais tempo para se dedicar ao esporte. “Nos finais de semana é certo: às 06 horas já estamos saindo de casa”, conta a ciclista, que agora pedala três vezes por semana cerca de 50 quilômetros de trajeto: “Estou me preparando para fazer de 80 a 100 quilômetros”.

Segundo ela, com a pandemia seu apreço por esportes em geral cresceu, tanto que não passa um dia sem praticar alguma atividade física. “Eu faço caminhadas durante a semana. Se não saio para a rua, é na esteira ou nado na piscina. Falar o que eu gosto mais é difícil, tanto pedal quanto caminhada eu gosto muito”, menciona.

A rondonense recomenda o ciclismo, mas frisa: “O corpo precisa de uma atividade física, não há idade limite ou uma modalidade melhor que a outra. O importante é iniciar, porque você acaba gostando”.

Para Ivani Hermann, a pandemia serviu para a evolução de seus trajetos: “Meus colegas faziam mais de 40 quilômetros pelo interior, estrada de chão e me chamaram. Eu pensei, se eles vão, por que eu não vou também? E deu certo” (Foto: Divulgação)

 

PROCURA POR BICICLETAS SOBRA EM MARECHAL RONDON

Assim como aumentou o número de ciclistas pedalando por Marechal Cândido Rondon e região, também aumentaram as vendas das bicicletas.

“A procura por bikes mais que dobrou. Percebemos que são pessoas que estão iniciando, não pedalavam e agora o fazem”, revela o proprietário da Refran Bikes, Rafael Schroder, pontuando que equipamentos de segurança também tiveram mais procura durante a pandemia.

As bicicletas com maior saída, segundo ele, são as de aro 29, próprias para atividade física. “Inclusive, temos falta delas e de alguns equipamentos, principalmente capacete. Esse “boom” da bicicleta não é só em Marechal Rondon, mas no mundo inteiro. A demanda é mundial e até que a indústria possa normalizar vai muito tempo. Acredito que só vai estar tudo normal no final do ano que vem”, projeta.
Outra tendência percebida é o resgate de bicicletas que estavam “encostadas” nas residências. “Percebemos que mais bicicletas voltaram à ativa, pois os consertos subiram em cerca de 50% depois do início da pandemia”, mensura.

 

GRUPO PARA INICIANTES

Considerando a quantidade de novos adeptos ao ciclismo, Schroder organizou um grupo de pedal para iniciantes, com apoio da ARC. “É para quem não tinha hábito de pedalar como atividade física. Nós orientamos, damos dicas de pedal e de segurança. Nos reunimos todas as segundas-feiras às 19 horas, no Lago Municipal. Qualquer pessoa da comunidade que queira participar será bem-vinda”, ressalta, lembrando da importância de utilizar os equipamentos de segurança para participar das pedaladas, ao menos capacete e sinalizador. Ultimamente, cerca de 30 ciclistas têm participado da iniciativa.

Percebendo maior venda de bikes e equipamentos para iniciantes, o proprietário da Refran Bikes, Rafael Schroder, organizou um grupo de pedal para quem é “novato” na modalidade: “Nos reunimos todas as segundas-feiras às 19 horas, no Lago Municipal. Quem quiser participar será bem-vindo” (Foto: O Presente)

 

AUMENTO DE 20% A 30%

Proprietário da Bicicletaria Lírio, Paul Lírio Berwig também registrou aumento nas vendas de bicicletas em seu estabelecimento. “Com as outras atividades proibidas, logo no início da pandemia muitas pessoas resolveram iniciar o ciclismo. A procura cresceu em torno de 20% a 30% aqui, tanto por bicicletas quanto por equipamentos, mas ainda assim percebemos muitas pessoas que não se equipam”, lamenta.

Bicicletas com maior saída são as de aro 29, próprias para atividade física (Foto: O Presente)

 

FALTA NO MERCADO

Ele aponta a mesma observação feita por Schroder: há falta de bicicletas no mercado. “Com a paralisação que se teve nas indústrias, vai um tempo até normalizar. Muitos itens já estão chegando, só as bicicletas que não. Em contato com os fornecedores, a expectativa é que em dezembro se libere alguma coisa, mas muitas indústrias ainda nem aceitam pedidos. A expectativa de normalização é somente em fevereiro”, relata, emendando que o final de ano vai ser um momento delicado neste sentido: “No Natal saem muitas bicicletas infantis e não temos muita opção. Quando alguma coisa é liberada, se esgota muito rápido”.

O rondonense também percebeu bicicletas antigas voltando à tona. “Os clientes procuram a gente para fazer uma revisão na bike para voltar a usar. Por causa da pandemia, muito se comentou que quem pratica esporte tem imunidade mais alta e isso impactou as pessoas. Qualquer bicicleta pode ser útil, seja para atividades físicas como para o cotidiano”, frisa.

Berwig pedala desde 1979 e é conhecido municipalmente por suas conquistas na modalidade. “Pela minha experiência ao longo dos anos, eu sempre digo que o importante é praticar atividade física, seja a modalidade que for, porque isso só faz bem”, conclui.

 

CICLOTURISMO SERÁ RETOMADO EM ABRIL

De acordo com a Agência de Desenvolvimento Cultural e Turístico da Região Cataratas do Iguaçu e Caminhos ao Lago de Itaipu (Adetur), o 7º Circuito Regional de Cicloturismo, a ser realizado no prazo de dois anos 2020/2021, deve ser retomado em abril de 2021, dando continuidade ao calendário.

Antes da pandemia, duas etapas foram realizadas, a primeira em Marechal Rondon e a segunda em São Miguel do Iguaçu. “No calendário, a próxima etapa seria em Mercedes. Percebemos que o melhor seria recomeçar no ano que vem, então vamos manter o calendário com pequenos ajustes para que as datas coincidam com domingos”, informa a entidade, salientando que somente em fevereiro serão feitas essas readequações.

O 7º Circuito Regional de Cicloturismo tem 19 etapas, uma em cada município da região, sendo que duas já foram realizadas. A partir do número de participantes da edição anterior, são esperados mais de nove mil ciclistas no circuito. “Neste ano, 1,2 mil pessoas participaram em Marechal Rondon e cerca de 600 em São Miguel”, informa a Adetur.

 

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